O Ensino Médio em blocos: pela melhoria da educação?

Fevereiro de dois mil e dez. Tudo organizado para o início do ano letivo. Estávamos ansiosos para o reencontro com os nossos alunos, por isso o cuidado, o carinho com que preparávamos o primeiro dia de aula. O dia em que os abraços, os sorrisos, os gestos de alegria e de felicidade ocupariam o espaço cuja saudade se apropriara.
Saímos da escola, naquela manhã, satisfeitos com o empenho de todos os colegas na elaboração da programação do dia, que representaria o marco introdutório do ano letivo. Cada um ciente de seus horários, das turmas que iriam assumir, das disciplinas que iriam ministrar. Um exemplo de organização poder-se-ia dizer, não fosse um novo ingrediente acrescido, de última hora, na nossa "massa", fermentando tudo e todos. O ensino médio por blocos. Este foi o ingrediente que fomos obrigados a aceitar como parte da receita de uma educação de qualidade.
O que é isso? Por quê? Para que? Como fazer? Estas foram algumas das indagações que fazíamos no intuito de obtermos respostas para tal façanha. Porém, enquanto mais perguntávamos menos entendíamos. Era um pesadelo? Deveria ser; afinal, ninguém em sua sã consciência poderia imaginar que, de repente, como em um toque de mágica, o ensino médio ganharia um novo ornato, uma nova roupagem, inusitada, desconhecida por todos nós.
Um novo script fora escrito para o ensino médio e tínhamos que executá-lo sem um prévio conhecimento, sem nenhuma preparação ou capacitação.
Como faríamos? Esta foi o cerne das questões levantadas por todos: professores, diretores, coordenadores. Precisávamos de um norte, de um horizonte. Precisávamos entender o porquê de tudo isso, haja vista que a implantação deste novo modelo de educação para o ensino médio causou desequilíbrios na estrutura curricular, profissional e social da escola. A distribuição das turmas, horários, disciplinas que haviam sido organizados tiveram que, subitamente, serem readaptados. Entretanto, o que não conseguíamos era nos adaptar a esta nova realidade.
A organização das disciplinas por blocos causou impacto tanto no corpo docente quanto no corpo discente. Os conteúdos que antes eram vistos durante o ano letivo agora têm de ser cumpridos em um prazo menor, um semestre. Como iríamos, então, trabalhar tantos conteúdos de forma consistente e significativa em um intervalo de tempo inferior ao de antes? Como os alunos iriam se comportar diante da demanda de conteúdos por disciplina a serem vistos em apenas um semestre? E como distribuir a quantidade de avaliações exigidas nesse curto período?
Como? Não sabíamos. Porém, em virtude do horizonte não nos ter sido apresentado, decidimos seguir, de mãos dadas, rumo à luz, não à luz dos refletores do palco dessa educação brasileira, mas à luz do fim do túnel. Era preciso que encontrássemos um vestígio luzente, para que pudéssemos atenuar um pouco a angústia que estávamos sentindo. Angústia esta que não era apenas nossa, os alunos, amargamente, estavam desfrutando o seu sabor (ou dissabor). Sem saber como, eles também foram levados a fazer parte deste labirinto, criado em nome da melhoria do ensino médio.
Que melhoria? Será que meu conceito de melhoria está defasado? Não consigo mais entender o significado desta palavra?
O que, então, é entendido por melhoria? Implantar, de forma autoritária, um novo modelo de organização de disciplinas, sem que haja uma análise para se certificar se este é viável ou não? Sem que as diferentes realidades educacionais, escolares sejam estudadas, levadas em consideração? Sem que haja uma preparação ? já que a participação no processo de elaboração parece impossível ? dos profissionais da educação presentes nas escolas? E ainda falam em educação de qualidade. Seria este um exemplo dessa qualidade educacional tão apregoada pelo sistema de ensino brasileiro? Parece que estamos diante de mais uma incógnita.
Gostaríamos de saber qual o propósito da referida implantação. Gostaríamos de entender qual a filosofia, o objetivo dessa nova organização de disciplinas por blocos. O que a fundamenta e qual a sua validade e viabilidade. Esperamos respostas coerentes, fundamentadas em realidades estudadas. REALIDADES!
Nesse momento, só podemos dizer que um semestre letivo já se passou e que as agruras continuam. Não conseguimos, ainda, nos adaptar a essa nova realidade. Os alunos, por sua vez, também não. O tempo é exíguo para tanta informação. A essência já não tem importância. Quem quer tem que correr atrás, mas correr mesmo. Este é o lema.
Essa é a nova educação do ensino médio do Estado do Rio Grande do Norte, na qual vence os que estiverem mais habilitados a correr contra o tempo estimado para o aprendizado; aqueles que já são mestres na arte da velocidade, que estão adaptados à globalização mundial.
Mas o que fazer com aqueles que não têm essa habilidade tão bem desenvolvida? E os que são transferidos para outra escola ou para outro estado brasileiro?
Sabemos que nem mesmo as instituições escolares potiguares atingiram a hegemonia no oferecimento do módulo inicial, o que provocou divergência no elenco das disciplinas oferecidas no primeiro semestre de uma escola para outra. Imagina isso a nível nacional! Como as escolas farão para se adaptar a essa nova realidade sem que os discentes recebidos por transferência sejam penalizados?
Algo há de ser feito; afinal, a educação brasileira é inclusiva. Todos têm os mesmos direitos. Direito de ficar calado, de aceitar de braços cruzados o que lhes impõem. Direito de aceitar o que determinam como sendo o melhor para sua vida. Direito até de brincar de educação.
Quando veremos a educação no Brasil ser tratada com prioridade, seriedade e responsabilidade pelos governantes? Quando seremos chamados a dar nossa contribuição nas decisões que estão diretamente voltadas para o nosso fazer pedagógico? Quando seremos preparados, capacitados para assumirmos as novas empreitadas educacionais sem que estas nos cheguem de surpresa e de forma hierárquica?
Enquanto não obtemos respostas para esta pergunta, ficamos na expectativa de que o ano letivo vindouro não seja marcado por mais uma nova mudança de última hora no programa de ensino. Afinal, precisamos, professores e alunos, iniciarmos o período letivo com uma certa tranqüilidade, equilíbrio e organização.