Adriana Amaral da Cunha

A técnica só existe com o projeto originado do pensamento humano (fundamento social objetivo do “pensar”), por isso, o homem, acata as exigências da técnica, e estas se apresentam cada vez mais complexas, e o que pode ser criado para a sua defesa, pode ser transformado na destruição do seu semelhante.

O segundo sistema de transmissão de conhecimentos e de condutas eficazes ( técnicas e culturas) está contido na linguagem escrita, o primeiro, a oral, já, a palavra, é um instrumento de discriminação do conhecimento (desigualdade social) e somente o homem realiza a técnica por não ser um fator instintivo, e racionalmente a utiliza para a produção da sua condição existencial. As realizações tecnológicas têm impulsionado as transformações ocorridas na história, pois pela evolução biológica, o homem é um animal tecnificador.

A natureza sempre foi a mesma, a razão humana é que se expande progressivamente. Porém, quanto mais o homem muda contínua e qualitativamente, mais se torna dependente dos recursos naturais, pois não vive sem os mesmos.   

A técnica, independente do tempo, sempre foi invariável na sua essência e o melhor modo de resolver as contradições entre a realidade e o homem, que por sua vez, é o único animal que não precisa mudar de espécie para evoluir.

“Num processo histórico global, a técnica, tende a desempenhar um papel libertador do homem (transferência do esforço material e / ou mental para as máquinas), devendo ser cada vez menor o emprego dela como arma de opressão das massas¹”.

 O curso do desenvolvimento, e em termos absolutos, o valor de um processo libertador do trabalhador, livrando-o daquilo que é mais penoso, o dispêndio de energia muscular, no caso das massas oprimidas, agravado pela falta de acesso aos proveitos que deveria lhes proporcionar. Se as máquinas produzem mais e melhor, a humanidade em princípio deveria ser beneficiada, o que não acontece concretamente.

Analisemos o filme Tempos Modernos de Charles Chaplin: contrário com a política liberal adotada nos Estados Unidos da América pelo governo – a fixação da produção, dos salários e dos preços realizada pelos próprios empresários, pois estes só adotavam medidas de acordo com seus próprios interesses (pagavam salários baixos, mantinham os preços elevados e aumentavam a produção). As novas máquinas reduziam os gastos da produção, porém muitas vezes aumentavam o desgaste humano. Oitenta e cinco mil empresas americanas faliram entre o período de 1929 a 1932.

Observando a massa dos desempregados, os agricultores falidos, os industriais arruinados e os investidores desorientados, o cineasta, produziu e atuou fazendo uma sátira sobre o aumento do ritmo produtivo, o homem tornando-se uma parte da mecânica, um objeto, sendo uma engrenagem em engrenagens e ao mesmo tempo o “Vagabundo”, apodera-se da máquina e a transforma num circo. Os movimentos não são mais mecânicos e o corpo humano passa a existir sem a máquina!

Há dois erros opostos: o endeusamento da máquina e o repúdio a ela e é na expansão da tecnologia que o homem, com todos os valores existenciais e éticos, quem se realiza e engrandece. Mas, se utiliza a técnica como arma para fins homicidas não deve ser imputado ao puro emprego material dela, contudo a uma consciência anti-social de dominação. Lembrando que o homem é o único responsável pelos aspectos negativos da técnica. Relembrando a mais terrível guerra que a humanidade já conhecera (1939 a 1945) que produziu destruição material e humana. Uma das características mais marcantes foi a produção industrial que acabou tornando-se vital para o êxito da guerra. Os Estados Unidos estavam produzindo freneticamente e lucrando muito... A guerra mecanizada, de movimentos rápidos, provocou maior número de prisioneiros que de mortos. Mas, em compensação, as perdas civis foram superiores às militares, por causa dos bombardeios aéreos. Os intuitos desumanos maliciosos dos americanos provocaram o genocídio no Japão, mais precisamente em Hiroshima e Nagasaki, alegando pura revanche, contra civis?!

As famosas bombas atômicas, um segredo bem guardado que rendeu a potência imperialista, no começo da “Guerra Fria”, fazer valer essa vantagem nas suas disputas internacionais.

A tecnologia deve ser a ideologização da técnica, pois esta é um dado da realidade objetiva e tem a ciência que o abrange e explora. O técnico e a técnica têm de ser objeto da análise do pensador. A maioria dos teóricos e práticos da tecnologia não tem consciência que teoria e prática devem “caminhar juntas”. Pois o domínio teórico da técnica libertará o homem somente da prática da técnica que vem sendo meio de vida pelo qual é definido e reconhecido.

 Grande ingenuidade é pensar que pela técnica atual o mundo passa a ser um objeto construído industrialmente, cujo criador é o homem! Quando os técnicos tiverem uma percepção do mundo, surgirá a consciência crítica que elaborará a verdadeira teoria da técnica. Por isso, é impossível pronunciar-se sobre a realidade da tecnologia atual se não fugirmos do arrebatamento impressionista, do fascínio sensacionalista dos estudiosos e literatos sem preparo filosófico duma impregnação psicológica sem precedentes.

Toda a ação humana tem caráter técnico pela simples razão de ser humana (a técnica primordial correlaciona o homem com a realidade). Portanto, a compreensão da tecnologia só pode ser verdadeira quando se funda sobre a história do homem e do trabalho.

O progresso tecnológico representa um fenômeno social total. Uma das conseqüências da idolatria da técnica está em julgar que os inventores e os empreendedores puderam manifestar-se porque eram forças individuais da Terra incontidas. Toda sociedade possui seus inventores, seus gênios. Por isso, o Estado subdesenvolvido pode, sim, ter ideias novas, capazes de realizar avanços em todas as áreas do conhecimento.

Os atos humanos nunca se desvinculam da técnica! Estes sempre têm que serem julgados por um sistema de valores éticos que procedam dos fundamentos materiais da produção social. Nada haveria de inconveniente nessa prática se não fosse esquecida a verdadeira relação de inerência que unifica a técnica e o ato humano.

Para acabar com a superstição da técnica, o único recurso está em instalar em lugar dela a conseqüência do diálogo e do significado da tecnologia. A diferença essencial está em que se edifica apoiada num fundamento lógico as leis do processo histórico da realidade e da correlação dos homens com o mundo, que precisam conhecer para nele trabalhar em ação conjunta, a fim de torná-lo à imagem de seus desejos.

Referências bibliográficas 

ARRUDA, José Jobson de Andrade. História Moderna e Contemporânea. São Paulo, Ática, 1982. 

VIEIRA PINTO, Álvaro. O Conceito de Tecnologia. Volume I (capítulos 3 e 4), Editora Contraponto, 2005. 

TIMES, modern. Comédia com o tema “Revolução Industrial”. Warner Home Vídeo, mk2 édition, EUA, 1933.