O BARCO DOIDO

Lá mesmo em Recife, Manuel resolve desfrutar um pouco a vida. Bebe um pouco, mas não enche muito a cara. Visita a cidade inteira. Cidade grande, pena que os dois rios da cidade estão muito poluídos.

Juntos vão ao cinema, ao clube, ao teatro. Passeiam de táxi pela rua. Não anda mais de ônibus o Manuel. Ônibus é pra pobre. Agora sim, quando Manuel voltar vai comprar um carrão. E as mulheres? Deve chover mulher nas costas de Manuel. Ele agora vai tirar o atrasado. Até que enfim Deus se lembrou de Manuel.

De Recife, Manuel vai a Fortaleza. De avião, é lógico. Que bom andar de avião. Não tem poeira na estrada, nem o bumbum de Manuel se machucaria com os buracos - não tinham buracos. O único perigo do avião era cair - pensa ele, mas dificilmente isto acontece.

Chegam a Fortaleza. Cidade grande. Visita vários bairros. Vê o teatro Iracema, o cine São Luis, a praia de Iracema, vê o único prédio só de alvenaria da América do sul, visita a casa de José de Alencar - nem sabe quem foi Alencar. Deve ter sido algum camelô desbocado, ou quem sabe algum cantador repentista, tem muitos no nordeste.

Juntos vão a um clube a beira mar. Almoçam um bom guisado. Manuel já pode dar panca de rico.Todos os usuários ali alugam um barco a motor e dão voltinhas tranquilas pelo mar. Manuel vai à bilheteria e aluga um barco, mas pede um motorista. Motorista? Não tem nenhum.Quem aluga é que tem que dirigir. É fácil. Ele ensina direitinho a Manuel. Todos vão ao veículo. O pai fica muito ressabiado, mas acaba entrando. Todos alojados. Manuel liga o motor. Não pega. Liga de novo. Não pega. Tem alguma coisa errada no motor. O pai vem ajudar, olha aqui, ali, não entende nada de motor de barco. As meninas vêm, entendem menos ainda. Manuel grita o proprietário. Ele dá as instruções lá do clube mesmo. Enrola a cordinha na caixinha e puxa com força. Manuel faz isto com toda a força possível. O barco dá um arranco e sai quase voando. Cai todo mundo no barco. E o bicho correndo igual a um doido. Manuel manobrando. Como é que se para este bicho agora? O barco vem voando para praia. Cuidado, Manuel - gritam as moças. Ele vira o barco, não sabe como. Vão em direção a um elevado de pedra na praia. Cuidado as pedras, Manuel. Acho que vamos atropelá-las - responde Manuel. Passaram a tarde inteira naquele zigue-zague até acabar o combustível. O barco parou, até que enfim. Só tinha um probleminha. Parou lá no meio do mar. Pra tirar Manuel e aquela tropa dali, foi o sacrifício. Foi preciso ser rebocado por outro barco.