Estudante: Claudio José Bezerra de Aguiar

Tarefa: resenha

Obra: Jean GRONDIN. Introdução à Hermenêutica Filosófica. São Leopoldo: Unisinos, 1999, p.157-234.

Introdução à hermenêutica filosófica

  Nomes significativos da hermenêutica do século XIX, como Schleiermacher, Droysen, Dilthey, não deixaram um conceito unitário de hermenêutica que pudesse ser publicado de uma forma sistemática, o que se levou a cabo com seus seguidores. Como Heidegger, que com essas bases conseguiu formular uma sistemática da hermenêutica filosófica. Em seu trabalho “Ser e Tempo”, a concepção de interpretação parte de como se compreende as coisas. E esse compreender só se torna possível, quando se consegue interagir com aquilo que se diz que compreende, e aplicá-lo. Pois toda compreensão tem singular relação com a prática. Nas coisas que existem há uma compreensão predefinida, que torna necessária aproximação do indivíduo com essa interpretação para chegar a uma hermenêutica. Mas o próprio indivíduo tem um entendimento próprio das coisas, o que resulta numa necessidade de interação entre os saberes. Essa interação corresponde ao que a pessoas sabe de si mesmo e das coisas ao seu redor, com o entendimento preestabelecido dos fatos. Por isso, Heidegger via que para uma hermenêutica a compreensão é a base para a elaboração de uma interpretação coerente, o que era contrário ao pensamento geral de hermenêutica, pois observavam que a interpretação era o que constituía o alicerce para uma compreensão. A compreensão parte de como o indivíduo entende a sua própria hermenêutica, pois se antes de interpretar algo não houver esse esclarecimento, ocorre à possibilidade da interpretação ser levada a cunho, carregada de pressupostos do próprio pensador, o que desvirtuaria a real interpretação. De modo que a compreensão necessita de análise não das palavras em si, e nem do que o interprete acha, mas do que é pensado sobre elas. Como dizia Schleiermacher, deve-se ler as entre linhas. Por isso, Heidegger, conclui seu trabalho que hermenêutica é a compreensão da linguagem, sendo a própria hermenêutica uma palavra da linguagem. Resultando que só é possível falar e explicar, aquilo que a pessoa consegue compreender, a linguagem e a compreensão devem estar juntas para que haja uma hermenêutica filosófica.

   Enquanto Heidegger se preocupou mais com o lado da compreensão, Gadamer se aplicou na tarefa de sistematizar uma ciência do espírito. Não com os pressupostos que vinham sendo utilizados, como que essa ciência tinha que criar suas normas independente de outros saberes. Pelo contrário, para uma universalização dessa ciência era necessário o paralelo com as demais ciências. Neste ponto fixa à problemática, pois não existe um padrão desse conhecimento que possa ser universalizado. As ciências naturais se utilizavam do método indutivo, Gadamer então sugere o tato psicológico e os conhecimentos da tradição humanística como base para uma universalização.

  No mais, historicísmo via a hermenêutica como algo desassociado da história, pois cada interpretação acontecia dentro de uma época, sendo mudada conforme a necessidade. Contudo a hermenêutica ratificou que o próprio historicísmo foi resultado de uma época, e que ele não pode ser dissociado as interpretação, pelo contrário a história trás luz a compreensão. Para Gadamer a história é o princípio de sua hermenêutica. Pois toda interpretação se estabelece num determinado momento. E cada indivíduo decorrente de sua própria história instigará uma própria interpretação, que só poderá ser estabelecida como verdadeira mediante o período do tempo. Ademais, essa interpretação conforme Gadamer acontece quando surgem perguntas que podem ser respondida pelo próprio texto. Além da aplicação das perguntas e respostas suscitadas a compreensão fica submetida ao modo de vivência onde se mostra o êxito da hermenêutica. A linguagem foi outro ponto importante, sendo considerado, como o ser que pode ser compreendido. No que ela só tem sentido quando se obtém entendimento. Assim, Gadamer utiliza a linguagem como um meio de universalização da hermenêutica. Dentro da linguagem a conversação não poderia ficar de fora, porque ela está presente em todo processo de entendimento, sedo representado pela fala. O que levou a ser incluída no mesmo processo.

  Emílio Betti, um jurista idoso que antes de Gadamer já havia desenvolvido uma teoria da interpretação, também laçou projeto de universalização. Com tudo, esse discordava com Gadamer sobre sua teoria de aplicação. Porque ele deduzia que para uma aplicação, primeiro tinha que se obter o entendimento pleno. Outro ponto era se levar com grande afinco o sentido original, transmitido pelo próprio autor. Além de que toda interpretação deveria ocorrer no interior para depois se relacionar com a exterioridade. Com esses pilares Betti lança seus argumentos para universalização. Contudo ele mesmo conclui que suas bases são por demais teóricas. Habermas aprendeu os princípios da hermenêutica com Gadamer. No entanto, sua aplicação foi na área linguística, onde teve pontos que colocou as próprias teorias de Gadamer contra ele próprio. Habermas, afirmava que a hermenêutica deve ser aberta tanto para for como para dentro, Deve estar ligada aos conhecimentos externo, como a sua própria ciência. Ambos tiveram crescimento nessas discussões, sendo que Gadamer teve que se aprofundar par esclarecer suas argumentações e Habermas para firmar seus questionamentos.

  A concepção hermenêutica foi totalmente cunhada pelos períodos da história a influenciaram. Tanto o historicísmo, como relativismo, o positivismo foram marcantes na busca de uma única verdade que desses parâmetros para uma universalização de uma hermenêutica filosófica. Contudo encontrar essa verdade absoluta foi à questão. Levando-se em conta que os próprios pensadores não tinham uma verdade, nem poderiam ter uma concepção melhor, mas apenas diferente. Isso criou a incerteza da interpretação, pendendo desse mo para uma intuição relativista. Chegando até se pensar num relativismo histórico. Ademais, a hermenêutica filosófica não pode ter uma idealização pronta, mas leva a se moldar conforme as necessidades e trazendo sempre novos pontos de reflexão e aproximação de uma verdade que um dia talvez seja estabelecida.