Da avaliação à serviço da aprendizagem
Publicado em 02 de fevereiro de 2010 por Euclydes Guelssi Filho
A
autora inicia sua obra por meio de um breve relato histórico vivido no início
de seu labor docente na grande São Paulo na tão longínqua década de 60.
Narra
ao leitor que, como egressa do ensino confessional, ali já atuando como
docente, se viu envolta de uma instituição de ensino que primava pela qualidade
da educação e da integração dos processos formativos, hoje considerados
fundamentais dentro do paradigma emergente de ensino, que se contrapõem ao
chamado modelo “dominante” – este
fundamentado na avaliação escolar metódica e baseada tão somente em acertos e erros
de forma a quantificar o conhecimento e consequentemente a nota do aluno.
Nos
mostra que naquele período, o que hoje é comumente conhecido como avaliação
formativa, era chamado pelos educadores daquela instituição de ensino como
“avaliação do produto do aluno”, ou seja, um processo avaliativo calcado em estímulos
e respostas contínuas, funcionando por meio de um processo de atos concatenados
onde as respostas reiteradas dos alunos permite uma identificação detalhada da
evolução individual de cada discente, assim como permite ao professor identificar
quais são os alunos que necessitam de atendimento especial ou ainda aqueles que
dispensam maiores atenções.
Nos
é revelado que mudando sua percepção sobre a aplicação das formas avaliativas,
alcançou um entendimento maior daquilo que pode ser chamado de “ensino”.
Ato
contínuo, a autora apresenta outra experiência vivida pela mesma, agora no
curso de licenciatura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP), sendo que Cappelletti narra de forma superficial as inusitadas
situações vividas.
Narra
a autora que utilizando-se de procedimento específico, pergunta a seus alunos
quais as palavras que lhes remetiam a idéia de ‘processo avaliativo’ sendo
revelado pela autora que as respostas se assemelham, ora indicando o
instrumento (prova, nota), ora indicando as sensações sofridas (medo, surpresa,
injustiça) e outras ligadas a meios de burlar o sistema (cola, protesto,
questionamento). O que chama a atenção para o tema diz respeito à observação da
autora sobre tal questão:
“As expressões que explicitam os mecanismos
de resistência são sempre numerosos o que pode indicar uma manifestação dos
alunos da não concordância com o processo de avaliação que “sofreram” a vida
toda como estudantes.”
Temos
que, passadas estas questões preliminares, e tratando-se de turma formativa de
licenciados, é sugerida então uma mudança de espectro, uma “mudança de
paradigma”.
A
autora relata que a possibilidade de conhecer um “mundo novo” é acompanhada de
entusiasmo, e nesta ordem, é demonstrado ao discente que tais mudanças de
conceitos são decorrentes de trabalho árduo, dedicação, responsabilidade e
desta arte, a adoção de uma avaliação formativa “significa uma transformação significativa do cotidiano da sala de
aula, e não é um processo indolor, nem para o aluno, nem para o professor”.
Aqui, destaca-se para a autora,
dentre inúmeras questões que “outro
aspecto bastante valorizado pelos alunos foi receberem rapidamente o retorno
individual e coletivo das tarefas realizadas, a troca entre alunos e a
possibilidade de melhorar o que havia sido apresentado. As dificuldades eram
atendidas e as sugestões e indicações feitas abriram espaço para a melhoria da
aprendizagem” ou seja, temos então que os alunos, quando encontram conteúdo
e velocidade nas avaliações, o processo do ensino demonstra um crescimento
considerável em termos de qualidade, e porque não afirmar também em quantidade?
Cappellatti continua sua
narrativa, agora trazendo reflexões sobre as experiências vividas no ensino da
pós-graduação: narra a autora que os desafios ali são outros, em especial “como analisar o empírico e desenvolver a
crítica teórica a partir da análise feita”. Expondo o método de ensino
utilizado, descreve-se como principal ganho algo que já estava presente no
ensino infantil e na graduação:
“Como no antigo curso primário, e na
graduação, os alunos de pós-graduação também sentem alívio de não estarem
sujeitos “a fatalidade no final do semestre”, quando mais nada pode ser feito
para corrigir o percurso da aprendizagem de cada um.”
Abstraímos
do texto que de forma evidente a metodologia é a integração do ensino e da
avaliação como componentes de uma mesma ação pedagógica, diferentemente do meio
usado pelos adeptos do paradigma dominante, onde ensino e avaliação são
situações estanques e que não se comunicam.
Temos
então, que a avaliação, na visão da autora, deve ser processo de aprendizagem
onde encontremos também a inclusão social e escolar do aluno e do professor. A
avaliação, nestes termos, pode ser resumida como “um dos procedimentos que favoreça a aquisição de um bem cultural que é
o conhecimento”, e neste sentido, a avaliação cumpre uma de suas mais
importantes tarefas, que é a da função social.
Continuando,
a autora traz ao leitor a importante consideração de que os processos
avaliativos, dentro do ensino da pedagogia, não está relacionada de forma
profunda ao curso, mas sim dentro de um módulo específico ou ainda dentro de um
dos conteúdos da disciplina “Didática”,
contudo, tem-se que a falta de formação adequada em termos de “processos avaliativos”
não é o único entrave para a formação de um processo de avaliação competente e
adequado.
Outro
grande problema trazido à baila diz respeito à máquina administrativa das
Instituições de Ensino, uma vez que estas tem suas engrenagens emperradas pela burocracia
ou ainda pelo enraizamento da concepção tradicional “dominante”, e nessa
esteira de pensamento, relata a autora que tal pensamento encontra-se arraigado
também nos professores, onde, não obstante o discurso fincar território na
necessidade da avaliação formativa, quando questionados sobre os métodos
utilizados, tem-se como resultado que a grande maioria ainda utiliza-se de
“provas” para aprovar ou reprovar seus alunos.
Conclusões
Isto
posto, somos forçados a coroar o entendimento da autora, quanto à validade do
sistema de ensino centrado na avaliação formativa:
“Em
um processo de avaliação inovador as dificuldades caminham lado a lado com as
possibilidades. Se as dificuldades existem as oportunidades indicam caminhos,
quando temos compromissos com atividade educativa.”
Temos
que Cappellatti traz a tona questão fundamental para a mudança do ensino nas
instituições nacionais, sejam elas de cunho infantil e fundamental, do ensino
médio e principalmente no ensino superior, seja ele de caráter particular ou
público. Infelizmente, temos que considerar também o “acerto” do texto ao afirmar que o discurso é
formativo-emergente, enquanto a prática é sacramentada quase que tão
somente no opressor processo dominante-excludente.
Não
bastariam as mudanças no sistema e legislação de ensino, ou ainda nos modelos
educacionais exigidos pelo Estado, se alunos – por desinteresse – e professores
– por comodismo – não se atentarem às necessidades da correta construção do
ensino e do aprendizado adotando efetivamente um sistema avaliativo libertador,
para só assim, alcançarmos o pretendido “espetáculo
do crescimento da nação”.
Bibliografia
Na
elaboração desta resenha não foram utilizadas obras bibliográficas de
referência.
Síntese
sobre a vida profissional e obra da autora:
Isabel
Franchi Cappelletti possui graduação em Pedagogia pela Faculdades
Metropolitanas Unidas (1970), mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (1986) e doutorado em Distúrbios da
Comunicação Humana (Fonoaudiologia) pela Universidade Federal de São Paulo
(1989) . Atualmente é professor titular da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Tem experiência na área de Educação , com ênfase
Durante
sua carreira, podemos destacar os seguintes livros publicados
§
Avaliação da Aprendizagem: discussão de
caminhos...pgs. Articulação Universidade/Escola, 2007. v. 1. 116 p
§
Análise Crítica das Políticas Públicas de Avaliação..
1. ed. São Paulo: Editora Articulação Universitária/Escola, 2005. v. 1. 123p
§
Evaluación Educativa: fundamentos y práticas.
Cidade do México: Siglo XXI Editores SA, 2004. v. 1. 120 p
§
Avaliação de Políticas e Práticas Educacionais. 1.
ed. São Paulo: Articulação Universidade Escola, 2002. v. 1. 192 p
§
Avaliação Educacional: Fundamentos e Práticas .
2a.. ed. São Paulo: Articulação Universidade Escola, 2001. v. 1. 146 p
§
Com BICUDO, M. A. V. . Fenomenologia, uma Visão
Abrangente da Educação. 1. ed. São Paulo: Olho D'Água, 1999. v. 1. 158 p
§
Com LIMA, L. A. N. . Formação de Educadores:
Pesquisas e Estudos Qualitativos. 1º. ed. São Paulo: Olho D'Água, 1999. v. 1.
127 p
§
Fonoaudiologia no Brasil: Reflexões sobre seus
fundamentos. 01. ed. SÃO PAULO: CORTEZ, 1985. v. 01. 93p.