O Souza era um tipo esquisito. Só acendia um cigarro se fosse com seu belo isqueiro dourado. Enchia a boca ao dizer:
- Este é importado! Da ilha do Fidel!

Se acontecesse de esquecê-lo em casa, ficava o dia inteirinho sem dar sequer um trago.

Redobrava no café, mas não cedia à tentação. Caixinha de fósforos, nem pensar. Era falta de estilo, de gosto, de classe.

O cigarro também tinha de ser de qualidade. Não era qualquer um “mata ratos” que recebia a chama especial do “dourado”. Tinha quer ter filtro branco, sabor meio doce, meio amargo, aroma amadeirado, fumaça encorpada e azulada.

Certa vez lhe perguntaram por que não fumava charuto, pra combinar...

A resposta veio curta e grossa:

- Charuto é coisa de bicha enrustida metida a macho!

Já o cigarro, dizia, denotava classe e bom gosto. Sentia-se um verdadeiro ator de cinema.

Um dia pediu um emprestado ao Silva que fumava do mesmo, pois não podia largar o batente e dar aquele pulinho na cafeteria do Mercado Central que ficava distante alguns quarteirões.

Como o Silva acabara de acender o seu derradeiro, Souza ao tomá-lo entre os dedos, para espanto geral da seção, embicou delicadamente o coitado no cinzeiro mais próximo até que o infeliz apagasse totalmente.

Sacou então do bolso da frente o portentoso e, zip. De primeira, acendeu o “encurta vida” com um largo sorriso. Agora sim, podia tragar sem culpa e a plenos pulmões!

Num domingo daqueles em que se acorda tarde e com gosto de cabo de guarda chuva na boca, sua mulher, após terminar a ladainha sobre como fora a gandaia de sábado, resolveu dar sumiço no tal “dourado”.

O Souza não deu mole: confiscou seus melhores vestidos, até mesmo os que ela havia comprado com recursos próprios e impôs muito macho batendo no peito:

- Só devolvo se me entregares intacto meu Cubano Dourado!