BARROS, José D’Assunção. Cidade e história. 2° Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

 

  • Prefácio
  • O século XX foi, de certa maneira, o “século da urbanização”. (p.7)
  • O autor refere-se ao fato da maior parte da população que passa a viver nos centros urbanos a partir do século XX.
  • A Emergência da reflexão sobre a cidade
  •  Pensar e sentir a cidade fora muitas vezes uma tarefa dos poetas, dos cronistas e romancistas, dos teólogos, também dos arquitetos e dos filósofos, mas nesse último caso sempre como um caminho para compreender problemas humanos mais gerais, para pensar os modelos ideais de organização do mundo político, para impor hierarquias sociais. (p.9-10)
  • Mesmo a cidade sendo já citada por filósofos e demais, ela não aparecia como uma forma mais especifica de organização social, havendo no século XX modificações, onde a cidade começa a surgir cada vez mais nos pensadores da sociedade.
  • Naqueles primeiros momentos da reflexão urbana muitos passaram a enxergar a cidade como um destino, ou até mesmo como uma etapa evolutiva. (p.12)
  • A análise institucional do fenômeno urbano
  • Dentre aqueles que refletiram sobre os aspectos institucionais da questão urbana no século XX, alguns autores mostram uma tendência a entender a cidade não como um estado derivado da natureza, mas como parte da própria natureza. Procuram entender a origem da cidade a partir da associação de agregados elementares que dariam origem ás formações mais complexas que corresponderiam ás “instituições”. (p.14)
  • Este novo século traria novas preocupações ao estudo da cidade em geral, e da cidade medieval em particular. Aparecem notadamente as preocupações com a função econômica, com o modo de vida do citadino (Aquele que pertence à cidade, ou a ela relativo), com a forma urbana e sua organização social, com a representação e com o imaginário da cidade, com as relações entre público e privado. (p.17)
  • As imagens da cidade na reflexão urbana
  • Na ânsia de responder a questão O Que vem a ser, afinal a cidade? Os homens têm produzido metáforas diversas. E mesmo sem perceber acreditando estar liberto de tais recursos metafóricos, a verdade é que o cientista moderno também opera por modelos, freqüentemente espacializados. (p.19)
  • [...] a cidade, mesmo que não seja o maior artefato produzido pelo homem, é sem dúvida o mais grandiosamente impactante. (p.21)
  • Kelvin Lynch classifica as cidades em três categorias básicas: “cidades cósmicas”, “cidades práticas” e as “cidades orgânicas”. (p.23)
  • O historiador Fernando Braudel examinou as tendências urbanas de abertura e fechamento a partir de um estudo da sua historicidade [...]. Para ele, as cidades poderiam ser grosso modo classificadas em “cidades abertas”, “cidades fechadas” e “cidades sob tutela”. (24)
  • Os modelos biológicos e Ecológicos
  • Para o autor, se para alguns arqueólogos e urbanistas entendem as cidades como artefato para outros estudiosos esse modelo seria inadequado, para alguns as cidades fazem parte dos modelos biológicos diversificados. (p.29)
  • Os modelos biológicos diversificados utilizados para a compreensão das cidades e dos processos de crescimento urbano remetem a duas vertentes. De um lado, a comparação com a cidade como um organismo vivo. De outro lado, a cidade pode ser enquadrada como ambiente ecológico. (p.29)
  • Não eram raras na Antiguidade as comparações da cidade e um grande ser. (p.30)
  • As cidades em muitos momentos inclusive em na Bíblia como grandes, comparações.
  • “A cidade é uma constelação de áreas naturais, cada uma delas com o seu ambiente característico e a sua função especifica no conjunto da economia urbana”. Foi com essas palavras que E. Park (1925) definiu a cidade em um famoso artigo intitulado A cidade como um laboratório social. (p.34)
  • A cidade entendida como um sistema
  • “A cidade também tem sido modernamente compreendida como um sistema (ou visualizada). Mas que tipo de sistema? Eis aqui uma nova pergunta que se abre a múltiplas respostas. (p.36)
  • Considere-se uma cidade hipotética. Existe uma esquina onde se localiza um bar com uma banca de jornal em frente. No cruzamento diante da esquina existe um sinal de transito. Quando este se abre para o tráfego, o pedestre para na calçada e aproveita para ler superficialmente as noticias e informações dos jornais e revistas. Outros se habituam a tomar diariamente um café no bar em frente. Farol, calçada, transeuntes, jornaleiro, banca de jornal e bar são elementos que forma um “conjunto”. Uma vez que estes elementos interagem, o “conjunto” é chamado de “sistema” um sistema efetivamente significativo para diversos cidadãos. (p.37-38)
  • A cidade como um texto
  • Segundo essa perspectiva, a cidade pode ser também encarada como um “texto”, e o seu leitor privilegiado seria o habitante (ou o visitante) que se desloca através da cidade- seja nas suas atividades cotidianas [...] seja nas atividades excepcionais. (p.40)
  • A cidade, sem dúvida, pode ser “lida”, e é nesta perspectiva que se têm colocado alguns estudiosos do urbanismo a partir de meados do século XX. (p.41)
  • Segundo o autor os próprios habitantes vão reescrevendo a escrita de sua cidade.
  • A cidade é um grande texto que tece dentro de si uma miríade de outros textos, inclusive os das pequenas conversas produzidas nos encontros cotidianos. (45)
  • A perspectiva multifatorial da cidade
  • Para além da dimensão organizativa ou institucional. A cidade teria, assim, outras dimensões a serem compreendidas: populacional, econômica, morfológica, política, cultural, imaginária. (p.49)
  • O fator historicidade
  • As formas urbanas são produtos da história. Desta forma, sob o nome “cidade” escondem-se muitas vezes realidades histórico-sociais diferenciadas. (p.52)
  • O fator população
  • Ressalvada a necessidade de se considerar a relatividade histórica de toda a indicação numérica, deve-se notar que a dimensão populacional constitui precisamente o primeiro foco de atenções para os modernos estudiosos do fenômeno urbano- tanto no que se refere ao quantitativo como ao qualitativo humano. (p.54)
  • O fator econômico
  • Dentre as novas ênfases assumidas no século XX para um estudo do fenômeno urbano, a dimensão econômica da cidade constitui uma das primeiras linhas de destaque. (p.58)
  • O econômico implica “produção, distribuição e consumo”. Ou, dito de outra forma, atividades industriais, atividades comerciais, e relações de consumo. (p.59)
  • O fator político
  • Por varias razões a dimensão política emerge como um dos principais definidores da cidade. (p.62)
  • A interação entre os poderes institucionais exercidos pelo Estado e os poderes efetivos que se expressam na sociedade civil tem sido abordada a partir de diversificadas perspectivas, conforme a teoria de Estado que se tome para suporte. (p.64)
  • As “teorias contratualistas” dos iluministas costumavam retratar a sociedade como uma reunião de indivíduos isolados que estabelecem um pacto social [...]. O idealismo hegeliano, ao inverso, propunha que o Estado, ou a idéia de Estado, que fundamenta a sociedade e constitui o individuo. Todas estas teorias enfocam o poder político a partir de sua inserção nas instituições estatais (p.64)
  • O fator organização
  • Todos estes poderes que colidem no sistema urbano, toda esta variedade de interesses que se entrechocam e estas relações econômicas que se estabelecem no ambiente concreto e especifico que constitui a cidade- tudo isto necessita ser organizado de alguma maneira. (p.68)
  • No que se refere á organização da vida pública, as instituições municipais se constituem também em espaços para a expressão de poderes diversos. (p.70)
  • O fator forma
  • A cidade tem necessariamente uma forma, uma estrutura física e concreta sobre a qual se estabelece uma sociedade que, por outro lado, atua permanentemente na reconstrução e reapropriação desta estrutura urbana. (p.71)
  • Existe, antes de mais nada, a forma externa. A cidade vista de cima, da perspectiva do urbanista, revela um “traçado arquitetônico” especifico, ao qual se junta a percepção que dele tem habitantes, cada tipo de habitante, ou ainda o turista, que junta o seu olhar externo ao repertório de sensações que o traçado urbano despertanos seus múltiplos admiradores. (p.72)
  • A morfologia urbana implica também uma forma interna. (p.74)
  • Toda cidade é na verdade um gigantesco quebra-cabeças, difícil de entender para quem está de fora, mas que para os seus habitantes e visitantes habituais se mostra formado por peças claramente diferenciadas onde cada um conhece o seu lugar e se sente estrangeiro nos demais. (p. 74-75)
  • O importante para o historiador, portanto é dominar conscientemente o código de segregação da sociedade urbana examinada. A “forma interna” tem múltiplas sutilezas que devem ser percebidas para além das meras concretizações físicas. (p.78)
  • A idéia de morfologia urbana implica a compreensão de que a cidade não é uma forma estática, mas uma forma em crescimento. (P.79)
  • O Fator cultura
  • Cidade de cultura escrita nasceram juntas como componentes formadores daquilo que se convencionou chamar “civilização”. (p.82)
  • A cidade é encarada como sistema de trocas interacionais necessárias ao homem para se manter em comunicação com os outros. (p.93)
  • O fator imaginário
  • A cidade é “representação” já no próprio “plano urbano” que a prefigura, ou mesmo naquele que registra em um momento posterior a sua forma desenvolvida. (p.93)
  • Para além de sua representação através da imaginação dos mestres urbanistas e de intelectuais de diversos matizes, a cidade deve ser examinada, adicionalmente, na perspectiva de sua construção na imaginação do próprio cidadão comum. (p.94)
  • A cidade pode ser lida e decifrada como um texto. Registro das atitudes de uma sociedade perante os fatos mais elementares de sua existência, a leitura do texto urbano pode permitir um acesso até mesmo aos domínios mais abstratos da filosofia. (p.98)
  • O fator função
  • Não importa o sistema mais amplo que se considere, o tratamento da cidade como parte de algo maior conduz quase que inevitavelmente á noção de função. (p.100)
  • A cidade exerce algo como uma função regional que engloba todas as outras como seus aspectos desdobrados. (p.103)
  • Conclusão
  • Em linhas gerais, vimos que a sociologia, a historiografia e o urbanismo contemporâneos têm coberto uma enorme gama de aspectos relacionados á cidade e á vida urbana. (p.107)