Minha mãe era uma grande inventora e nos ensinava, eu e meus irmãos, a fazer brinquedos com materiais que não serviam mais. Ela já sabia fazer reciclagem de materiais desde sua infância, tudo o que não servia mais virava brinquedo. Era uma espécie de herança cultural familiar. Seu exemplo nos incentivava a busca por soluções em todos aqueles momentos de impasse das brincadeiras de criança. Sempre construíamos os brinquedos que não podíamos comprar ou melhorávamos os comprados que não estavam bons, mesmo que para isso tivéssemos que destruí-los completamente. Uma vez uma de minhas irmãs, ao brincar de casinha, transformou um carrinho de plástico vermelho em saladinha de tomate...

Meu primeiro peão de madeira eu fiz, esculpindo com um canivetinho um pedaço de sofá velho, era bloco oval de madeira. Este tipo de peão tem um prego na ponta e se roda com o auxílio de um cordão. Eu devia ter uns seis anos de idade.

Fiz um boneco super-heroi com um pedaço de madeira, também usando o canivetinho. Coloquei na cabeça dele uma tampa dourada de frasco de perfume que parecia uma ponta de foguete, ele era o Homem Foguete.

Fiz vários carrinhos com pedaços de ripa e carretéis. Naquele tempo as linhas de costura vinham em carretéis de madeira. Estes carretéis também viravam pequenos peões de madeira, mas não do tipo que precisa do cordão.

Eu nunca soube a origem verdadeira da palavra capucheta, mas pelo aspecto visual e funcionamento, deve derivar de capucha, pois se parece e funciona como um pequeno capuz.

É um tipo de pipa sem varetas que se faz com folha de jornal e infla com o vento. Nunca funciona muito bem pela fragilidade do material estrutural, pois qualquer rajada mais forte de vento o jornal se rasga e lá se vai a capucheta. A vantagem é que se pode fazer outra em questão de minutos, a perda é só da rabiola, mas na maioria das vezes conseguimos resgata-la porque a capucheta não sobe muito alto e sempre que se arrebenta cai próximo do local onde estamos empinando. No meu tempo de criança não se falava empinar pipa e sim soltar pipa. Os problemas com as capuchetas é que tinham dificuldade para subir e arrebentavam facilmente, com isso eu e meus irmãos, os menores, encontramos uma solução inusitada: trocamos o jornal por papel de saco de cimento, que apesar de bem mais pesado, é muito resistente, a capucheta subia que nem um foguete.                                                                                     



Manoel Brandão Nobilli