As Práticas educacionais do professor de Ensino Superior baseadas nas concepções epistemológicas de Paulo Freire e Edgar Morin.
Raquel Batista Silva1

RESUMO
A presente análise apresentará algumas questões relacionadas à prática educacional do docente de nível superior, fazendo referências às concepções epistemológicas de Paulo Freire e Edgar Morin. Algumas dessas questões nos instigam a buscar alternativas de base teóricas que ajudarão a compreender a prática diária do professor. Isso certamente influenciará em nossos questionamentos sobre os desafios educacionais que temos que enfrentar. Desse modo, os autores acima citados oferecem suporte teórico-metodológico, para que o docente exerça sua função com qualidade.
Palavras-chaves: Práticas educativas; Concepções pedagógicas; Ensino Superior; Paulo Freire e Edgar Morin.
1_ Licenciada em Letras; pesquisadora de línguas históricas e suas influências na Língua Portuguesa.
INTRODUÇÃO
Este estudo analisará e apresentará as principais concepções epistemológicas freirianas e morinianas, fazendo assim um panorama comparativo com a prática docente do professor universitário, e os desafios por ele enfrentados na sua prática educacional do dia-a-dia no âmbito do ensino superior, baseando-se nas teorias apresentadas por esses autores supracitados, no objetivo de encontrar soluções nas barreiras que circundam este ambiente.
E quando falamos em educação superior, o assunto é cada vez mais enfático, pois, está se tratando do nível intelectual da educação em nosso país. Para contribuir com as perspectivas deste estudo, Colossi, etll, relatam:

O principal desafio era reconhecer a necessidade de avaliação das instituições e apontar novos rumos para a busca de conhecimento. Na troca de valores identificada pelos responsáveis pela educação no País, o ensino superior, mediado pelo processo adequado de aprendizagem, deve ter sua estrutura de planejamento remodelada. (Colossi, 2001)

Analisando-se a educação superior, em seu contexto histórico percebemos que a mesma traduz uma conscientização em sua estrutura, encaixando uma série de fatores que auxiliam na produção abrangente do conhecimento, entretanto para isso desencadear-se é necessário que o indivíduo esteja incluso na realidade significativa de sua simbologia existencial como sujeito da ação. Por isso, o processo de educar é sinônimo da própria cultura da palavra e da abstração de seus significados numa visão holística da percepção dos signos e através da decodificação da mesma, abrindo horizontes para caminhos outrora inatingíveis.

I Concepção "bancária" e a Complexidade da educação.
Concepção bancária; Da educação como instrumento da opressão.
A concepção bancária traz no seu contexto a infusão educador-educando, o que não difere da educação superior coexistente conforme a realidade a qual se depara. Neste parâmetro, a educação torna-se um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. Entretanto, o conhecimento e o aprender estão estigmatizados numa relação marcada pela narração de conhecimento e conteúdo, relação essa em que a petrificação de conteúdos não sofre mudanças, mas busca o conhecimento como verdade absoluta. Nesta concepção, o ator principal é o professor, pois o mesmo é dono do conhecimento, porém vale ressaltar que o mediador é aquele que media o conhecimento que não é sua propriedade, quando o depositante não possui poder e fica submisso, por isso sobre esse prisma, é na concepção bancária da educação que o saber é uma doação dos que se jugam sábios frente àqueles que parecem nada saber, doação essa que se funda numa manifestação instrumental da ideologia da opressão, ou seja, está em absoluta alienação da ignorância que se encontra no outro.
De acordo com Freire (2005) o educador que se aliena à ignorância, se enclausura ficando assim estático numa posição invariável ao qual se encontra a ser o dono da verdade, o conhecedor do saber; enquanto que os alunos são ignorantes. não conseguem aprender e não sabem. Esta concepção tradicional compreende educar com o ato de apenas transferir conhecimento, pois o homem é um sujeito a-histórico prega uma pedagogia conservadora- tecnicista, a qual a transmissão dos valores traduz opressão. Na medida em que esta visão anula o poder criador dos educandos ou minimiza, estimula assim sua ingenuidade e não sua criticidade, sendo que satisfaz os interesses dos opressores, e para estes o fundamental não é o desnudamento do mundo, a sua transformação. O seu humanitarismo esta em preservar a situação de que são beneficiários e que lhes possibilita a manutenção da sua falta de generosidade.
Segundo as idéias de Freire (2005), o aluno em sua essência precisa liberta-se do mundo que o oprime a adentrar em sua realidade, para alcançar a prática libertadora. Essa educação que prega tal prática libertadora, longe de ser utopia tem sido a maneira mais eficaz na busca de uma pedagogia que almeja o crescimento intelectual da sociedade, que faz a diferença entre sujeito e objeto, onde o ser passa a se questionar; a criticar; analisar e formular seus próprios conceitos com relação às verdades pré- estabelecidas, ou seja, deixa a opressão e passa a libertação.
A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transforma-lo (FREIRE, 1987).

Estes mesmos conceitos são parecidos e entrelaçam-se com as teses do autor Edgar Morin principalmente a teoria da complexidade que conversam entre si refletem bem as dificuldades que o meio acadêmico sofre com as mudanças paradigmáticas, e como o docente pode ajudar o aluno em sua construção. Partindo do pressuposto de que todos esses paradigmas não constituem uma verdade absoluta e que o conhecimento é algo complexo e inacabado, o que o professor deve fazer é mediar às teses já estabelecidas e costurar conceitos que seguem um após o outro complementando as ideias, deixando de derrubar uma tese para priorizar outra que parece ser mais aceitável num determinado momento histórico, entretanto num outro período já não terá em suas bases estruturas para sobreviver, contudo, unindo-se os conceitos as raízes se fortalecem o formam um emaranhado de conceitos pré-estabelecidos como cita o próprio Morin (2000) "O Paradigma da complexidade acena de os educadores aprenderem a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certezas".


II As Práticas Educativas Universitárias.
A educação é um processo social que envolve todos os níveis econômicos, políticos e sociais, assim sendo, a base que norteia este processo está nos moldes educacionais que vão das séries iniciais ao mais alto nível escolar. Desde o início de século o principal objetivo de quem detinha o poder educacional era formar mão- de ? obra que atendesse o mercado consumista do mundo capitalista. Hoje, a educação superior é vista como instituição social, que tem a principal função de formar a elite educacional e científica que a serve. Para atender essas necessidades faz-se necessário que as instituições universitárias possuam um corpo docente de alto nível qualitativo em sua estrutura.
O professor depara-se a um novo desafio e busca soluções que lhe auxiliem em sua prática diária, visando extrair o melhor de seus discentes e abrindo-lhe as chaves para que sejam sujeitos na construção do próprio conhecimento e na busca por soluções para o caos que se insta-la na sociedade. Como mediador do conhecimento o professor universitário utiliza-se de vários mecanismos que estimulem os sujeitos em suas construções teóricas e práticas do saber.
Na visão de freire(2005) o aluno é o sujeito da ação, ou seja, ele é capaz de desenvolver formas saberes e resgatar os valores outrora esquecidos baseados na sua realidade, transformando as ações em realidades. Já para Morin o aluno depara-se num mundo estereotipado de complexidades, o autor defende ainda que, tais incertezas dos dogmas pré-estabelecidos devem ser estudados como um conjunto para que se possa chegar cada vez mais próximo da verdade. Assim sendo, o profissional docente do nível superior pode utilizar em suas praticas educacionais como métodos de ensino para suprir as lacunas deixadas por tais concepções através de aulas dinâmicas, questionadoras e críticas.
Longe de abordar fórmulas mágicas de como o docente deve atuar em seu ambiente escolar, buscamos analisar conscientemente dentro das bases teóricas mais conceituadas, como durante tempos de buscas para essas mesmas perguntas que se arrolam por décadas em autores que tanto conhecem nossa realidade como Paulo Freire e situações parecidas de autores estrangeiros no caso de Edgar Morin, ambos entendem os desafios que o educador enfrenta a cada dia na sala de aprendizagem e transformaram os questionamentos em soluções teóricas diante das praticas também por eles vivenciados, como temos visto ao longo de toda essa trajetória que estamos traçando desde o início deste estudo ate este ponto, a partir de agora entraremos nas propostas que também estão baseadas em todas as teorias outrora aqui expostas.
III Propostas Educacionais
Diante das concepções os autores concomitantemente, concordam que além de priorizar as bases de uma educação libertadora, esta pode e deve aplicar-se ao ensino superior, pois, oferece ao docente qualidade em suas práticas educativas, correlacionando todo o conjunto de disciplinas nas complexidades dos saberes para construção mais próxima da realidade sanando as necessidades econômicas, políticas, educacionais e sociais na qual nos encontramos.
Ainda buscando propostas para as práticas educativas, diversas saídas podem ser exploradas pelo professor, estas vão desde sua exposição verbal, domínio de conteúdo, discussões temáticas, recursos audiovisuais, entre outros que facilitem o ensino aprendizagem do aluno. Tais práticas permitem que o aluno possa ter mais espaço para formular princípios utilizando-se de suas próprias palavras, os mesmos passam a refletir e tornem-se críticos diante das teorias abordadas.
Partindo da transdiciplinaridade que Freire tanto defende, é perfeitamente aceitável que haja aplicação e conciliação dos conteúdos que podem conversar entre si para construir e consolidar o conhecimento a ser explorado e descoberto pelos discentes, dessa forma o resultado será tão satisfatório que alcançara muitas metas ainda não esperadas pelo professor, haja vista que o mesmo como mediador vai interagir dentro do espaço pedagógico num mundo ainda a ser descoberto em conjunto com seus auxiliadores, tornando a experiência louvável para ambas as partes.

A contribuição de Morin dentro do processo educacional é completamente essencial, pois sem compreender os desafios e complexos que cercam o homem como indivíduo dentro da sociedade, seria impossível auxilia-lo nesta busca ao inacabado, e insere em seus pressupostos a construção de uma cultura de complementação, pois está além de ser humanizante admite constante curiosidade científica diante do processo de conhecimento o que é indispensável no contexto escolar.


Considerações Inconclusas.
De acordo com o que analisamos ao longo da trajetória deste artigo, as práticas educacionais do docente de ensino superior, também inserem as concepções teóricas dos autores Paulo Freire e Edgar Morin, pois visa o seguinte principio: Priorizar a detenção do conhecimento, baseando as pesquisas, numa linha holística e humanizadora do problema a ser trabalhado no contexto universitário. Diferente do que ainda pode ser encontrado nas escolas tradicionalistas, que trabalham meramente a transmissão passiva do conteúdo, Freire defende que a pedagogia deve ser mudada para transformar a mente dos alunos que deixam de ser simples objetos para tornarem-se sujeitos ativos e críticos, isto se estende principalmente ao nível universitário, pois o acadêmico tem sede por descobrir o desconhecido. Então entra a figura do professor como mediador do conhecimento, que também busca aperfeiçoamento dos educandos e do programa trabalhado, priorizando a qualidade e o excelente resultado nas aplicações teóricas dentro de seu espaço.
A complexidade só pode ser entendida segundo Morin, se houver uma junção dos paradigmas quebrados para reformular e chegar a um denominador mais comum e aceitável das teorias já impostas pelas descobertas científicas dos últimos tempos, para que o acadêmico tradicionalista não tenha um choque com o novo, faz-se necessário que o mediador de forma pacifica e aberta enverede o conteúdo não só para uma questão, mas para múltiplas questões que poderão ser analisadas e criticadas, para que o docente tome suas próprias decisões baseando no todo em pauta.
Assim sendo a construção do saberes toma um novo rumo e a prática docente fica satisfatória aos olhos dos sujeitos envolvidos, havendo então trocas de experiências e busca de soluções concretas dentro do espaço acadêmico, que cresce e desenvolve a capacidade intelectual dos seres como cidadãos ativos dentro do processo social, principalmente nos moldes capitalista no qual nos encontramos e desenvolvemos-nossos trabalhos de pesquisas, esperando com tudo isso melhorar a vida e os conceitos estereotipados do povo que deixa de estar alienado intelectualmente.

BIBLIOGRAFIA
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessaries à educação do futuro. São Paulo, Cortez, 1995.
COLOSSI, Nelson. CONSENTINO, Aldo. QUEIROZ, Etty. Mudanças no Contexto do Ensino Superior no Brasil: Uma tendência ao ensino Colaborativo. REV. FAE, Curitiba, p.49-58, 2001.

www.bocc.uff.br/pag/nascimento. Acesso em 07/12/2010.