Esta pesquisa tem por objetivo fazer uma análise de quatro poesias, sendo do autor, Gregório de Matos da escola literária Barroco e quatro liras do autor Tomás Antônio Gonzaga, do Arcadismo. Destacando dessa forma, as estruturas externas e internas. Mas antes de fazer uma analise, é necessário compreender um pouco sobre o contexto histórico que estão inseridos tais autores.
O primeiro a ser enfatizado é o Barroco, o qual foi uma tentativa de conciliação entre o teocentrismo e o antropocentrismo, que desde a Idade Média, o pensamento cristão era baseado na crença em um só Deus, senhor de todo universo, pois acreditavam que, quanto mais ajudava a igreja, mas seu lugar estava garantido no céu, dessa forma a partir do século XIV, o teocentrismo foi substituído por uma nova visão de mundo, o antropocentrismo, isto é, o homem como o centro das indagações e preocupações. Assim influenciado pelas questões religiosas e pela tentativa de um retorno ao teocentrismo, o Barroco, na tentativa de conciliar esses valores religiosos às idéias do antropocentrismo, acabou caracterizando-se pelo contraste como, céu/terra, humano/divino, claro/escuro, era como viver voltado para a terra, o corpo, as paixões deste mundo, mas também viver voltado para o céu, à busca da salvação da alma e a necessidade de Deus.
Influenciado por esses conflitos, os escritores produziam textos literários com características bastante nítidas, como o uso de contrastes, em que o texto vai mostrar o "choque" entre a vida e morte, amor e Deus, outro é o pessimismo, que aponta o conflito entre o eu e o mundo, ou seja, a vida na terra é triste enquanto no céu é luminosa, a intensidade é outra característica, em que o homem vai sentir o desejo de expressar a dor que está sentindo, e ainda no Barroco o uso freqüente de figuras de linguagem e pensamento como, o paradoxo, antítese, hipérbole, metáfora, prosopopéias dentre outras. Além do cultismo, que caracteriza pelo jogo de palavras e o conceptismo, pelo jogo de idéias.
Contudo, o principal representante da poesia barroca no Brasil, Gregório de Matos, poeta crítico que relata em suas poesias tanto a religiosidade (poesia religiosa), quanto à perdição do amor (poesia lírica), e também as críticas que fazia da sociedade de sua época. Portanto, tais poesias serão analisadas.


POESIA RELIGIOSA


"A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR"

Pequei, Senhor; mas não por que hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido:
Porque, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a ; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.


ANÁLISE

Esta é uma poesia religiosa de Gregório de Matos, que apresenta uma regularidade formal (métrica e rítmica), sendo que, questiona o mundo e os homens. Abordando dessa forma os valores religiosos. Apresenta versos decassílabos (versos com dez sílabas poéticas), rimas regulares, ou seja, rimas opostas ou interpoladas nos dois quartetos (ABBA/ABBA) e rimas mistas nos dois tercetos (CDE/CDE).
Nos temas que abrange a religiosidade, Gregório de Matos, destaca o medo da punição divina, o desespero pela busca do perdão, sendo que geralmente, se associam esses princípios ao arrependimento na hora da morte, pois isso reflete, a vários fatores, um deles é o clero por ter explorado as populações ingênuas com a venda de indulgências, e prometendo ainda, que quanto mais pagassem a igreja mais era garantido seu lugar no céu. Vale ressaltar também, que o homem barroco não era um homem feliz, pois vivia dividido entre as conquistas do pensamento renascentista e a necessidade de volta-se para Deus, buscando o perdão de seus pecados.
Gregório utiliza um vocabulário rico e reverente. E nesta poesia retrata justamente a época que vivia, a culpa X perdão, denotando dessa forma toda a angústia que sentia, pois Gregório tinha fé em Deus, só apenas era inconformado com as hipocrisias das religiões de sua época, como o tráfico de relíquias, século XVI.
No primeiro quarteto, o poeta invoca o senhor dizendo ter pecado, mas não ter cometido nenhuma desobediência ao pecar, se despede de Deus devido algum ato que cometeu, sendo que menciona que quanto mais comete delitos, mas a divindade o ajuda, ou seja, o fato de ser pecador deve garantir a ele o perdão de Deus, pois se Deus o perdoa, o mesmo necessita do perdão do pecador para poder exercitar seu atributo divino. No verso "(...) quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar (...)", é possível destacar o perdão e o pecado, utilizando-se de antítese.
Na segunda estrofe trata-se do arrependimento, de tantos pecados cometidos, querendo abrandar a Deus, por ter lhe ofendido mais também o lisonjeado, pois sem o pecador como Deus poderia perdoar, e na passagem do verso (Se basta a vos irar tanto pecado), se tem à figura de linguagem, anástrofe. E tanto na primeira quanto na segunda estrofe tem a característica do Barroco, o cultismo (jogos de palavras). Já no primeiro e segundo tercetos, é possível analisar que o poeta aborda a parábola da ovelha perdida, em que Jesus fala do amor que o pastor sente por suas ovelhas, principalmente a que está perdida e então vai atrás e a devolve ao rebanho.
Com isso se percebe que o eu-lirico se identifica com uma ovelha merecendo a salvação, aí se tem o conceptismo (jogo de idéias) e notada também a figura de linguagem, como a metáfora (Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada;), e utilizando-se de uma linguagem rebuscada quando chama a Bíblia de Sacra História e Jesus, de Pastor Divino. É possível observar esta passagem na bíblia do evangelho Lucas, no capítulo 15, versículos 2 a 7, na qual menciona a parábola da ovelha perdida e diz ainda que "...haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende...".








POESIA RELIGIOSA

"A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
ESTANDO O POETA PARA MORRER"

Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja fé protesto de viver;
Em cuja santa lei hei de morrer,
Amoroso, constante, firme e inteiro:

Neste transe, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um pai, manso, cordeiro

Mui grande é vosso amor, e o meu delito:
Porém, por ter fim todo o pecar;
Mas não o vosso amor, que é infinito.

Esta razão me obriga a confiar
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.

ANÁLISE

É uma poesia com versos decassílabos, com rimas interpoladas ou opostas nos dois quartetos (ABBA/ABBA), e rimas alternadas ou cruzadas nos dois tercetos (CDC/CDC).
Nos textos religiosos, o conceptismo é uma das características que predomina mais esse estilo. Dentro desta, o autor está justamente abordando o contraste, pecado X perdão e tentará convencer Deus de ser salvo apesar de ter pecado.
No primeiro quarteto o eu-lirico fica desesperado e percebe que a morte está perto de si, recorrendo então a Jesus e se lamentando, pois reconhece que é um pecador e que será julgado quando morrer. No segundo quarteto, já imagina que está perdendo seu sentido "... minha vida anoitecer", e faz então, umas chantagens emocionais com Deus, tentando se salvar, pedindo que o acolha com "brandura de um pai...", e nessa hora que ele espera a misericórdia de Deus.
Enquanto no primeiro terceto se analisa uma característica do Barroco, o conceptismo, entre o amor de Deus e o seu pecar, isto é, Deus tem um amor infinito, mas o seu pecar é simplesmente finito. E na ultima estrofe ele espera se salvar, pois confia, apesar de ter pecado, já que Deus é misericordioso vai atender seu pedido.

POESIA LÍRICA

A D. ÂNGELA

Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e anjo florente,
Em quem, se não em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?

Se como anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares,

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os anjos nunca dão pesares,
Sois anjo, que me tenta, e não me guarda.


ANÁLISE

Este é um soneto de versos decassílabos com rimas regulares, ou seja, rimas opostas nos dois quartetos (ABBA/ABBA), e rimas alternadas nos dois tercetos (CDC/DCD). Nesta poesia lírica evidencia de um lado a idéia do amor, que pode ser de dor e sofrimento e de outro lado é vista a figura feminina como uma perdição, um pecado que atormenta. Cujo nome Angélica, nome de flor e em latim ângelus (anjo).
Na primeira estrofe o poeta tenta fazer uma síntese entre flor e anjo, a primeiro começa a fazer uma imagem de uma mulher construída com uma beleza pura e o segundo por ser ao mesmo tempo tentador, e nesta parte se observa uma figura de linguagem, característica do barroco, a antítese, entre o plano material (flor) e o espiritual (anjo), e que no final da poesia acaba se tornando um paradoxo (mulher-anjo). Na segunda estrofe aborda o desejo do poeta, por ver uma flor tão bela que sente vontade de tê-lo para si (Quem veria uma flor, que a não cortara...?), mas quando é associada a um anjo tem de ser idolatrada (E quem um Anjo tão luzente, / Que por seu Deus, o não idolatra?).
Sendo que, no primeiro terceto é observado, já que sua amada representa a figura de um anjo, é melhor apenas protegê-la, guardá-la, pois sabe que é uma tentação só de vê-la, como se dissesse "a carne é fraca". E na ultima estrofe deixa clara que a hipótese não se confirma na estrofe anterior, pois, sua amada por ser tão formosa e elegante (Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,) acaba conquistando-o e não resistindo. Devido, a mesma não evitar que ele a deseje, pois se percebe com isso que ela não é anjo, mas é anjo ao mesmo tempo por ser tão angelical. É justamente analisados o amar e o querer, que no verso final predomina o paradoxo "Sois anjo, que me tenta, e não me guarda".
Uma característica do Barroco presente na poesia lírica, e o aspecto cultista (jogo de palavras), como por exemplo em "Ângela", "Angélica" e "Anjo", como também "flor" e "florente"


POESIA SATÍRICA

A CIDADE DA BAHIA

A Cidade da Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado,
Pobre te vê a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh! se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
que fora de algodão o teu capote!
ANÁLISE
Foi com a produção satírica que Gregório de Matos pôde retratar a sociedade brasileira, principalmente a cidade de Bahia. Conhecido como "Boca do inferno", nada poupava, criticava tanto o governador como o clero (os mais bem organizados da sociedade portuguesa). É nesse tipo de poesia que Gregório foge dos padrões lingüísticos do Barroco, utilizando-se de palavrões ou expressões populares. Embora nesta poesia fala de sua terra, Bahia, era a maior produtora de açúcar, mas devido o excesso de produção acabou tendo que baixar o preço, sendo que, o açúcar assim como o tabaco servia de remédios. E nessa época, Bahia foi devastada por uma cólera, conhecida de "peste", matando grande quantidade de pessoas. Uma doença infecto-contagiosa que espalhava terror de morte, e ainda tendo a escassez de mercadorias e os preços só subiam, pois havia trocas com os estrangeiros. E Gregório com suas poesias satíricas, acabou indo preso, se ausentando se sua terra que tanto amava.
A cidade da Bahia é uma poesia com versos decassílabos, com rimas oposta nos dois primeiros quartetos (ABBA/ABBA) e rimas mistas nos dois últimos tercetos (CDE/CDE). Na primeira estrofe o eu-lirico percebe as transformações ocorridas no Estado, tendo um discurso de lamentação, abordando nos dois últimos versos a questão econômica, pois alega que viu Bahia rica, como uma grande cidade e depois a tristeza de ter visto a crise se espalhando, sua terra empobrecida. São na verdade os dois tempos, o passado e o presente (Pobre te vejo a ti.../ Rica te vi eu já...).
Na segunda estrofe se observa que tanto o homem quanto a sua terra natal, ambos se vendiam como mercadorias, se trocando com negociações financeiras, com os franceses, holandeses e outros, como se observa no verso "A ti trocou-te a máquina mercante", ou seja, navios estrangeiros chegavam.
Assim no primeiro terceto é perceptível a critica presente na poesia, onde o poeta menciona a questão do Estado da Bahia, por ter grandes riquezas naturais, como o açúcar, fazendo negociações com estrangeiros com outras mercadorias de pouco valor que só a prejudicou. Mais mesmo assim, na ultima estrofe, o eu-lirico invoca Deus, pois tem esperança que "sua" Bahia volte a ser como ante e mais rica, dando-lhe orgulho.
Assim feita as análises de algumas poesias de Gregório é possível enfatizar uma outra corrente literária que veio contrapor o Barroco, o Arcadismo, também chamado de neoclassicismo, é o período que caracteriza principalmente a segunda metade do século XVIII, e que também marcou a decadência do pensamento barroco, passando a deixar em segundo plano a religiosidade, sendo que todo o exagero da expressão barroca havia cansado o público. Então o Arcadismo estava associado pela razão e ciência, pois, a razão era considerada como sinônimo de bom senso, o qual impedia o homem de entregar-se aos caprichos da imaginação e da fantasia. Assim como Faraco & Moura menciona: "Numa sociedade em que prevalecia tal visão de mundo, o estilo barroco não poderia mais ter lugar predominante, pois era considerado exagerado, extremamente emocional e desequilibrado".
Essa corrente literária é voltada para o desejo da natureza, a realização da poesia pastoril, assim abrangendo as características como, o bucolismo, tendo uma concepção de vida como algo simples, outro é a exaltação da natureza, um ambiente tranqüilo, Carpe diem aproveitar o dia, e características pré-românticas, também tendo um vocabulário simples e ausência quase total de figuras de linguagem.
Representante dessa corrente literária foi Tomás Antônio Gonzaga, inconfidente, e que declamou através de seu pseudônimo Dirceu, nas suas liras, o amor que sentia por Marília, tanto fora, quanto dentro da prisão, por ser um dos participantes da Inconfidência Mineira.















MARÍLIA DE DIRCEU

Lira I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d? expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q?um rebanho, e mais q?um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d?ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

ANÁLISE

As estrofes são constituídas de dez versos, sendo as oitos iniciais decassílabos e os dois últimos refrões hexassílabos, isto é, com seis sílabas métricas. As rimas são alternadas e opostas (ABABCDDC). Esta é uma poesia em que o eu-lirico enfatiza o sentimento amoroso e que tal sentimento é associado à imagem de Marília à de uma estrela. Com isso o poeta tenta passar com muita clareza e equilíbrio sua poesia, colocando como "pano de fundo", a natureza e o sentimento bucólico.
Na primeira estrofe, o eu-lirico se coloca como pastor e ao mesmo tempo deixa claro que não pode ser confundido com qualquer vaqueiro, "Que viva de guardar alheio gado; / de tosco trado, de expressões grosseiro...". e o eu-lirico afirma ser um pastor vaidoso e que dar muita importância para os bens matérias "tenho próprio casal..." e que pode muito bem se sustentar ..."vinho, legume, fruta, azeite..". Assim é um pastor abastado "bem de vida" e não um simples vaqueiro que cuida de gado alheio, afirmando ter seu próprio rebanho e que por isso merece o amor de Marilia. Dessa forma encontra-se a presença do bucolismo, ressaltando a natureza.
Na segunda estrofe o eu-lirico exalta a sua superioridade e ainda admira o seu semblante por ser mais velho que Marília, e então é notada nessa estrofe a presença de elementos arcádicos como, pastores, cajado, fonte e outros. Já na terceira estrofe o eu-lirico pede Marília em casamento, pois tem como sustentá-la, destacando que seus bens materiais são muito importante, mas não tanto quanto o seu amor por ela, é notável um pouco de romantismo no verso "Porém, gentil Pastora, o teu agrado / vale mais que um rebanho e mais que um trono".
E na ultima estrofe é dedicada a Marília, palavras que só a valoriza, que seduzem uma mulher, assim o eu-lirico vai utilizando um excesso de metáforas, comparando-a com a "luz divina", "papoila ou rosa delicada", "fios de ouros" e "lindo corpo que vapora bálsamo".







LIRA II

Pintam, Marília, os poetas
A um menino vendado,
Com uma aljava de setas,
Arco empunhado na mão;
Ligeiras asas nos ombros,
O tenro corpo despido,
E de Amor, ou de Cupido
São os nomes, que lhe dão.

Porém eu, Marília, nego,
Que assim seja Amor; pois ele
Nem é moço, nem é cego,
Nem setas, nem asas tem.
Ora pois, eu vou formar-lhe
Um retrato mais perfeito,
Que ele já feriu meu peito;
Por isso o conheço bem.

Os seus compridos cabelos,
Que sobre as costas ondeiam,
São que os de Apolo mais belos;
Mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
E com o branco do rosto
Fazem, Marília, um composto
Da mais formosa união.

Tem redonda, e lisa testa,
Arqueadas sobrancelhas;
A voz meiga, a vista honesta,
E seus olhos são uns sóis.
Aqui vence Amor ao Céu,
Que no dia luminoso
O Céu tem um Sol formoso,
E o travesso Amor tem dois.


ANÁLISE

Esta segunda lira de Gonzaga, aborda o retrato de sua amada e o quadro dos primeiros encontros, compondo assim características pré-românticas, pois o poeta aproxima o Arcadismo e Romantismo, que estava "nascendo", dando um pouco de imaginação em sua lira.
Nota-se então, o amor que Dirceu sente por Marília, quando a encontra sente seu coração disparar, ou melhor, um "cupido" feriu-lhe. Assim Dirceu vai fazendo um retrato de sua amada, seja loira ou morena, comparando-a com as mulheres européias "branco rosto", idealizando seja, com sua "lisa testa" ou com suas "arqueadas sobrancelhas" e unindo todas esses detalhes se tinha a sua formosa mulher, que mesmo no céu cheio de estrelas se transforma em um belo sol, iluminando não só Marília, mas o amor que Dirceu sentia.

LIRA V


Aqui um regato
Corria sereno
Por margens cobertas
De flores, e feno:
A esquerda se erguia
Um bosque fechado,
E o tempo apressado,
Que nada respeita,
Já tudo mudou.
São estes os sítios?
São estes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou

Mas como discorro?
Acaso podia
Já tudo mudar-se
No espaço de um dia?
Existem as fontes,
E os feixos copados;
Dão flores os prados,
E corre a cascata,
Que nunca secou.
São estes os sítios?
São estes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.



ANÁLISE

Nesta lira nota-se o convívio com a natureza, uma característica do arcadismo, um cenário que também fazia parte dos encontros amorosos de Dirceu, e que o mesmo lugar fica a ponto de se transformar em apenas, em campos de pastagens, no qual vivem os pastores e seus rebanhos, um lugar na verdade encantado e tranqüilo, como exalta no verso "corria sereno / por margens cobertas / de flores e feno".
Por está ausente de Marília, Dirceu vê que tudo estar diferente na natureza, ou melhor, mudado, e que para ele não tem mais "graça" e só de olhar para o campo se entristece.

LIRA XIV

Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males aventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos deuses
Sujeitos ao poder do ímpio fado:
Apolo já fugiu do céu brilhante,
Já foi pastor de gado.

A devorante mão da negra morte
Acaba de roubar o bem que temos;
Até na triste campa não podemos
Zombar do braço da inconstante sortes:
Qual fica no sepulcro.
Que seus avós ergueram, descansados
Qual no começo, e lhe arranca os frios ossos
Ferro do torto arado.

Ah! Enquanto os destinos impiedosos
Não voltam contra nós a face irada
Façamos, assim, façamos, doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos.
Um coração que frouxo,
A grata posse de seu bem difere,
A si, Marília, a si próprio rouba,
E a si próprio fere.

Ornemos nossas testas com as flores,
E façamos de feno um brando leitor;
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo que se passa
Também, Marília, morre.


ANÁLISE

Primeiramente, na poesia o poeta inicia-se falando da falta de sorte que muitas pessoas têm, mencionando até os deuses, pois estão sujeitos ao destino, "Estão os mesmos deuses sujeitos ao poder do ímpio Fado...". Assim a insegurança vai tomando conta de si que ressalta que a felicidade vem primeira e depois só a desgraça.
Na segunda estrofe o poeta aproxima o Arcadismo e Romantismo, quando é ressaltada toda a emoção vivida sobre a ilustração caracterizando uma morte trágica, no qual no romantismo se ouve muito falar, como, "negra morte", "triste campa", "sepulcro" ou "frios ossos". Já na terceira estrofe se tem a presença do carpe diem, aproveitar o momento presente e não deixar para o amanhã, "a grata posse de seu bem difere", ou seja, adiar o amor que sente por sua amada é mesmo está ferindo o seu coração sabendo que pode aproveitar o dia, as horas ou os minutos.
Assim como também é observado o carpe diem na quarta estrofe, sendo que é mais voltado agora para um cenário pastoril, em que Dirceu convida Marília a se enfeitarem de flores e juntos abraçando-se para justamente aproveitar o dia, pois, "...o tempo corre".
De uma forma geral, as poesias analisadas foram relevante para acumular mais conhecimento e principalmente buscar o "gosto" pela leitura que nos dias atuais é fundamental para o ser humano. E nada melhor de um lado, Gregório de Matos autor que denunciou, criticou, mais também caio na tentação do amor, suas poesias sem dúvida alguma é de fazer "uma viagem no meio de tantas palavras" que expressavam a época em que viveu, sem pensar, falava o que vinha em mente, tal que ficou conhecido justamente como "boca do inferno".
E de outro lado o poeta, Tomás Antônio Gonzaga, que também "brincava" com as palavras, só que inspirado no seu grande amor e mais voltado para a natureza e tendo uma transição já com o romantismo. Por fim, são poetas que viveram épocas e acontecimentos diferentes, mas nos deixou grandes historias a serem analisadas.





REFERÊNCIAS


FARACO & MOURA. Literatura Brasileira. 12ª ed. São Paulo: àtica, 1995.
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: DCL, 2006.
http://franciscomuriel.Blogspot.com/2008/08analisedemarília.html. Acesso 26 ago. 2009.
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/portugues/literatura/lirica. acesso: 28 ago. 2009.
http://www.letras.ufmg.br/poslit/16_produção_pgs/trevisam,m.2007bucolismo.pdf. Acesso: 28 ago. 2009.
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos. Acesso: 31 ago. 2009.