AMANGA[1]

I - Essa

Tudo passa sabedoria mais democrática! Não há nada igual a essa. É de graça e a todos interessa.

Lei matriz, valor incalculável, simples! Demanda percepção do além palpável. Na fusão da pura observação com a experiência triunfante da queda primeira... O fundo posso. Oh! Solidão; dela nutrido, confesso: A não visão dá a mão para o que comungo hoje, perplexo! Procuro a raiz desse anseio. Espelho velho manchado, por ora me guia. Do machado podo o naufrágio, desperta assim, diante do desterro, nulo bravo respiro.

Instinto mensageiro me traz aqui. Letra do destino... Corredor fresco num acervo seleto coleta as palavras seletas do mítico celta. A brasa quente do carvão desenha a seta do ferro que o nobre guerreiro lança.

A visão que longe alcança o desfiladeiro sobrevoa. Pesquisa a caça tentadora. Tento o alimento devido, é o que quero: O possível.

Água bebo da chuva nua que minha cabeça rega agora a beleza da aurora primavera. Felicidade? (...) é isso. Um breve inspiro o que segue é devaneio puro sem suicídio, comecei assim o retrato falado de um procurado invisível amado.

Agora falo com valor apurado da questão certa a ser encontrada no vazio do espírito imortal. Orgulho superado. Alimento o fraco medo, frágil com o susto. Sacudido gemido vôo para quem! Obter o veneno da morte lúcifer nascimento cíclico jovem cristo. Criança núbia. Terceiro sempre fui um interessado na arte do bem amado ser aventurado, de conquistas obtusas e características francas. Rugas cicatrizes amplas cortadas a pele, suplantam a dor do tempo da negra flor.

 A amarga cura é a terra. Gosto forte, preto atravessado na garganta... Cria ao vivo. O sino anunciante trabalha o vento. O córrego que me deste é a beleza de tua hora, faça cara, façanha barata da moeda que troca. É tua gratidão. Aprecio o momento lento, flutuo no, ainda, deleite; quente; misturado; só se agora: Para todos.

Gloria cegueira, sabe sem vê o que te norteia, jovem, este é o que toca e movimenta; é, senão outro, o vento. Guarda no meio o belo de tua inspiração, saúda o novo relato de uma superação, a vida tem dessas coisas: a morte apenas uma parte de tantas outras unidas. Cabe a ti menção honrosa pela bravura de tamanho desafio que fizeste em simples versos. Oh, já agora, destemido.

Na primeira risada tingida, facilita o artista, a emoção possuída em tela tão simples. Alcança as escadas numa escala de pressa: atropessa, para, senta, e se atesta: já é hora de sua própria festa.

Homens ao mar!

- Palmas para os pequenos indícios de um crime sem moléstias, de crueldade em pleno sol escaldante; É era, a praia que se insinua.

 - Curumim, busca o conhaque para o tio; os reais a ti confiam. Dê-me o troco ao moço.

Ignoro o poço dos analfabetos, sem nota, segue a prosa de seus versos e por florestas trilhadas, permita-me a liberdade de uma ordem enfileirada; ao passo que conto ensino a caminhada.

Essa história que encanta faz ao meio, a nada deve e sem igual permite aos poucos o arrepio; gosto dos amantes, agora, para um instante toma-te a janela e aprecia a ternura, após desnuda, olhai-a em suas linhas escuras, femininas.   

- É noite aqui, em carta selada posto a minha segurança ordinária.

Escreveu assim, não como disse a mim, mas assim como escrevera e depositara em minhas mãos para que entregasse nas de outrem.

E, quanto ao conhaque do teu tio, perguntei ao jovem. Contentou-me em dizer, ele é poeta, sabe quando a dor aperta, deixa a si em seu olfato, em mim cuido das providências que urgem até a pressa. Antes de sair ainda pedira, fique com o troco, quanto ao preço concorda, em pergunta retórica.

Não sei bem, naquele contato curto tive minha impressão serena, não se tratava de um menino, mas de um homem. Parei os afazeres e de posse do endereço entreguei conforme o preço, R. Silveira Martins - Rio de Janeiro, 22221-000, número no anverso.

Pedi confiante a sutileza do portador quanto ao registro de qualquer pergunta, uma informação, me dedico a isso e sem mais explicação deixei o cartão com o porteiro.

Suas mãos eram tingidas por esmalte, uma pequena vaidade grosseira destacou os olhos pela atividade de sua função, cumulava a portaria com a de faxineiro.

Quanto ao cabelo notei que não guardava discrição, era amarelo sol do meio dia em nuvem inteiro.  Achei graça em silêncio, e, me detive com o serviço.

- Não tem remetente?

- Por hora não, fica dessa forma, tenho de ir vou embora.

- Bata a porta. Cuidado com a mão. O prédio é velho; os moradores novos, a maçaneta não presta.

Tudo bem feito, deixei a mensagem, ou seja lá o que for; Voltei a minha vendinha de velhos sabores num Rio de Janeiro de novos saberes.

O REMETENTE.

Já era o dia seguinte, quente manhã, revelava todo o trabalho necessário. A poeira cobria o balcão, a limpeza meu começo. Foi, assim logo cedo, que me apareceu essa jovem.

- Bom dia, qual o preço?

Mostrou-me a carta e o cartão que deixara; e, ainda:

- Qual seu nome, aqui não tem nenhum remetente.

Com um traço na testa, me fiz de confuso, quando estava mesmo, procurando as palavras certas para uma ocasião desconcertante. Que cena!

Meu nome é Antunes, procura o que?

E ela começou a lê-la:

ENTRA.

Eu tangi verso te, com tato suave das palavras doces.

É sim. Assim, mesmo é o prazer em senti-la.

Preciso coragem, e, perseverança! Luta pela tua glória.

Não duvido da dor, deixo rastro, semente do ...

Registro do caminho percorrido, tudo pelo novo.

Aquele mágico instante, último degrau após a subida.

Do deserto apertado, da ilusão de teus braços, desejo a água da tua boca.

Sede essa lá fora! Não sou o que te tira, por favor, fique. Peço!

Se quiseres suplico, agora tu ficas por que peço e suplico. Vai ficas em meus pedidos!

 A sorte me presenteou. Breve relâmpago sentido.  

Também fui condenado, corte seco, ainda tenho forças.

Quero, Tu vens comigo. Toma a posse do lugar teu de todo sempre.

Vem, a esperança já é, por assim dizer, crueldade.

São ataques covardes. Deixo, entre; se verdade.

A beleza fica na primavera. A manhã dos olhos abertos.

Ah o nome escolhido para ela... Ninguém sabe é só ela.

Ela sabe o nome dela, conhece ela?

Então quem levou, traga essa que me ama como a si e o outro.

O a ser iluminado de riqueza eleva-se até lá,  mora aqui hoje a noite!

Linda é o reinado em céu alto, estrela, vai brilha.

E na brisa do mar desnuda a terra que molha suave em um só beijo.

- Bem não fui eu quem escreveu isso. Se me permite, apenas fui confiado de te entregar, somente.

Enquanto escutava ela falando, olhava sua boca e pensava inquietamente: Qual teria sido o propósito da moça falar-me o poema.

- Então, suspeito quem seja esse.

E disse atrevidamente que era um professor da sua escola que escolhera a ela como musa desta e de tantas outras cartas como essa. E tinha medo de que ele fosse um tarado, pois passava dos sessenta enquanto que ela tratou-me em dizer que só tinha quinze anos.

Não perguntei mais nada, talvez não era isso que ela queria, mas foi o que fiz. Sem nenhuma curiosidade satisfeita, pois questionava se cabia investigar a vida alheia. Ainda assim, remanescia uma dúvida. Fui eu que lhe entregara então o que me cabe nessa parte.

Olhei-a dizer seu nome que passou despercebido. Já a inquietação de momentos antes, não satisfez-se com a simples gratidão;

- Menina, olha cá, sou um rapaz de uma vendinha, entreguei tua carta, mas não sou carteiro, se vem me pergunta coisas que não posso responder, terá que investigar tu mesma, E, isso é sempre no agora, importante perceber o que busca. Atrás de cada palavra se revela uma casa, aqui nessa vendinha tem muita arte, mas como vê, aparenta só comida.

Ora, ora! Exclamou sem o menor pudor e passou da rispidez ao deboche: Vejo que para um simples vendedor adora um floreio, que será nesse lugar tão misterioso, será os pães, ouro?

De certo são pães e se quiser terá também, a manteiga que já vem em companhia do sal, é tanto para você assim, que nem entenderá. Ah, mas quando comer sentira tudo no paladar e só.

- Seus sentidos dizem tanto assim, por quê?

Agora já era mesmo uma conversa estabelecida, mas sem um laço, tratei isso com carinho. Chamei-a pelo nome, falei, dei o pão a manteiga e o sal; depois expliquei que essa era já a poesia de hoje e que o homem que lhe escrevera a carta era mesmo um professor, que ensina a todos aqui do homem ao menino, da menina ao vendedor, e, ainda, provoquei; se quiser mesmo apreender terá sempre mais perguntas que respostas e a mente um constante apetite para o pão e a manteiga. 

Importa não a pausa dada, mas o respiro em cada parada de consciência. No que deve a causa ao efeito a mentira, a cobra mente, a volta desta vez sim com ciência incipiente o presente é mesmo, a finalidade criadora.

Sentado, tranqüilo, calmo e pacificador o senhor professor ouvia o vento que trazia a nova daquela manhã; o menino, não dera a ele seu conhaque e, isso ele lhe devia, agora não pelo que pediu, mas pelo que ordenara; a carta, entregaste?

O resultado foi colorido depois pela alvorada que crescia, ganhando o tempo repetindo a beleza pura, se dava com carinho enquanto vendia, ainda persistia, a jovem a enxergar, do floreio ao desabrochar.

Peguei um livro mostrei a ela um maluco, usando da loucura para exemplo de canto, assim, trouxe sua riqueza tanto que brilhou o olhar dessa Dora.

 Esse é o professor que te falei, ele me ensinou.

- O que ensinou?

- A ler o tempo.

- Como foi isso?

- Disse que era preciso atenção e paciência e poderia escutar e daí fazer, agir e criar.

Então, passou a fazer disso um tarado?

Sem querer foi o que fiz, não sei sou nova ainda os desejos vem a mim, nem posso, você os controla?

Não, não, porque deveria, dou-os liberdade, mantenho atento e cuido de cada, pois todos tem sua valia.

E, quanto aos que te desagrada?

Permaneço com eles são mais raros e de valor inestimável, fruto de uma necessidade para criar deixo a criatura brincar. Não muda por mim, mas apenas por que tem que mudar a cada instante, e o incrível é que continua sempre.

Que te interessa? Fica aí, atrás do balcão, não pensa?

Sou eu, seu vendedor, atrás do balcão a sua frente, deixa que te revele o  mercado para que possua o teu desejo criador.

É corpo e alma; o que outros dizem, mente se me entende, digo que você Dora está aqui hoje porque tem alguma coisa para comprar, o que é que precisa?

Disso não! Você não vende. Vêm me dando de graça.

Assim, que bom! Não lhe devo nada. Aprecia-me sua simpatia despertada, queres apreender sobre esse sentimento que tem?

Claro.

Então leve o sabão, limpe a janela e observe, se mantenha atenta a cada figura desse dia miraculoso. O teu professor, logo vem aí. Daqui a pouco, lhe entregara outra coisa, para que ensine a um menino nem tão menino assim.

Quem é esse, agora e o que ensinarei.

Se ensina já, agora a mim, tanta esperteza; como questiona o que ensinará a um menino, mantém no rosto um ar de estranheza?

Então, esquecera que sou menina e agora me tratas como mulher, exemplo de beleza, prende o corpo e deixa meu rosto todo em uma pergunta:

- Qual seja?

E, se o professor quis fosse que você entregasse, porque percebo seu olhar a inquietude de palavras tão doces.

Estabeleço com minha heroína, da mesma forma como estabeleceu você com seu tarado.

Vou te dizer porque está aqui: Para reparar isso que te aflige. Quero volte a criar para que volte também ao meu posto seja como for iremos juntos, não fique com raiva, a violência é uma cólera, mas passa toma aqui seu lenço, não chora.

Quedou-se em lagrimas minhas palavras nem tanto para ela. Sabia que não era o choro que anunciava, era sim, uma força das suas entranhas que queriam manifestar. Em relação ao choro, este quebra por si a ação sublime, enriquece o espírito, mas é só uma expressão da pureza. A lágrima, e, através dela se apresenta a claridade do Ser que há de dizer que não é para ela, contudo, nela se faz cristalina por tamanha beleza.

 Primeiro, a reação, depois o espanto, pois, diante dela está quem fala as coisas que passam por sua mente. É claro que o interesse desperto por esse homem, transformado em amigo intimo rapidamente, de nome ínclito e idade cristalina, fez emergir um grande folclore mental.

Que tal contar a ti coisas de um novo presente! Mas, antes, peço a você que esqueça o ontem.

Certa vez anotei:

Sentimento estranho é sentir

Será mesmo que sinto?

Escuto não sinto.

Vejo, não sinto.

Sinto falsamente simulado.

Doe, mas não sinto.

Buscando o sentimento nada senti.

Me perdendo, me entendi.

Ah Mente estúpida! Nunca deixei de te senti.

Nasce, pois, no fim,

No meio do peito apertado sai em mim.

Assim, de passagem, o tempo retorna, e:

Memória, passado;

Memória, presente, transcende.

E, então, quem sabe?

Se hoje não é ontem.

Se hoje não é ontem

Se hoje não é ontem...

Entende agora do que há de dar?

E, sem esperar a resposta, olhando para a expressão da sua face, a expus:

Teu colo, toda essa sua proteção, com as implicações seguidas e similares: carinho e cuidado.

Pois assim foi feito, e o brilho do olhar de Dora atenuava a virada de concepção que se impunha, sobremodo sublime.

E com a compreensão de uma mão sobre a outra, adjetivou a palavra a sua própria interpretação. Entendendo sim, a busca que se dá:

- Entregar-se! É o que você se refere, não é?

Inutilmente afirmarei se nessa ventura for feito ao deus dará, mas por sua vez descobrir e manter-se atento ao que se revelará a ti, então seu entregar será uma mão única de idas e voltas.

A imagem que segue do diálogo é aéreo. Só ela, nada mais retrata tão bem a completude, de duas pessoas que interagem com paixão e se servem. Agora, já fora da pequena vendinha, e, ao ar livre, de um céu anil, com nuvens claras, a visão adentra a mente do outro em um compasso rítmico de perfeita cadência em uma única ação: Entrar e deparar.

Assim foi que de fronte para a realidade nova em que ultrapassara o fosso e em uma dinâmica de terror, perplexo, saldou da memória com a seguinte exclamação:

- Ele é a cara dela!

Uma normalidade que surpreende à gente de todo tipo, pois que, com efeito, a passagem realizada em um tempo tão breve a ponto tal que percebe o oráculo e expandi-se em alegria.

E, com uma voz uníssona, nosso personagem brinda a boa nova e saúda a Esperança.

- São pés amistosos os que me trazem aqui, nessa terra de procura e buscas infindadas. Então, agora que não nunca, honro essa entrada e reverencio a espera que me encontro de um presente dado com tão belos ornamentos.

O céu limpo e o vento abafado traziam aos sentidos, o calor do verão. Apesar do clarão a sua frente, não distinguia com nitidez o Aqui, e em uma reação espontânea levou as mãos ao chão, atingiu o solo, notou que a terra era fresca e o cheiro era característico dos trópicos.

Eis que nosso personagem encheu o pulmão com o ar da bravura e se permitiu o primeiro passo com uma firmeza precisa e de cabeça aos montes em um horizonte de medidas e descobrimentos.

Realizado, vez que ante um primeiro não havia nenhum outro, o passo seguinte não divergia de direção tão pouco em sentido, mas talvez em proporção em uma virtude única: Trilhar o caminho de seu próprio destino. As possibilidades eram enormes...

Apesar disso, uma só escolha era o seu desiderato. Feita se não de outra forma qualquer, com cautela e sem descuido certo de que se ultima fosse seria, ainda assim, está.

Conjectura nobre essa que me traz aqui, arrebenta as barreira do antigo e faço o hoje, meu mais novo pilar onde será também, ancora para todo o pedir, possuído de fluidez como essa de agora que trago e externo, minha Identidade.

Então, atravessou o brado, correndo livre em direção ao instinto e cantou:

Não espero o mérito do herói do ego.

Melhor vitória é ser sincero sem estória

A ilusão é campo vasto terreno,

Pasto da glória dos que se julgam supremo.

Meu retrato faço sereno.

tenho falta e incompleto, não sou pleno.

Em busca de satisfação, por vezes erro.

A culpa é reflexo.

Refazer o nexo!

Circulo da vida, jogo complexo;

palco do drama

onde personagens atuam conforme se cria a trama.

Sentimento é o que me guia não me engana.

Alegria impressa balança a cama.

Tristeza é felicidade da noite para o dia e meio.

Realidade, remédio dessa magia.

Eficaz receita prescrita,

Subestimar jamais, o que a consciência faz.

Onde a guerra capaz...

A diferença compreendo mais.

Intensa razão do Amor

que suprime a dor,

emoção densa,

sublime atenção, sou eu.  

Corda tensionada expressa em um retilíneo de perfeição, saber o mar as virtudes distantes do querer, mistério efêmero esses estímulos sucessivos, há de ser qualquer coisa, de tônica dominante, disse ao fim da canção em nota de prosa conclusiva.

Bem se aqui estou, jovem em sinais, aplumo minha espinha dorsal, ereta alusiva ao infinito detecto o diálogo e floreio o passado feito, o poder alusivo do ente meu dotado de tamanha esfera referencial, um presságio.

Enfim, externo em alívio:

Então a sobrevisão que tive a instantes atrás em uma catarse transcendente, a noção de individual havia dissipado a tal ponto de me ver o agora em ângulos e personagens opostos, Antunes e Dora, este último fazendo a imerção para o meu despertar: Eu, Honofre!

II – MISTUREXEGÉTICA

 

Ao furor de um dia de trabalho concebendo as interpretações de sua passagem, Honofre vacila na dúvida de suas indagações. E, não desorientado, encontra o propósito de quedar-se em imagens sucessivas sem respostas á interagir com o óbvio.

- Julgarei eu, no meu íntimo, cada ato, amparado apenas no que é.

Firmou bem o pé, já avistando o que viria mais a frente.

- Uma cidade de altaneiros!

 E, após sentenciar, ficou no deleite daquela imagem que movia-se; aproximando.

Incumbiu-se em arquitetar os novos planos para a chegada.

- Nada apoteótico e tão pouco sarraceno.

Mirando o solo conheceu da vegetação rasteira que ornamentava a estrada. Fez à mão um molho e cheirou:

- Bom agouro!

Guardou-o na parte de dentro de sua jaqueta, na dúvida, antevendo o almoço e antecipando o tempero.

Nesta utopia que se firmava a cada passar, fez também do banquete iminente uma confraria sobre o eterno esmerando a amizade de iguais e o recomeço dessa enunciata das estações.

Não quis subir mais em seu vôo, fez questão de se manter nessa altura a par do que acontecia, e em troca apenas do espetáculo que sucedia agora: de um ato para outro numa ordem estabelecida.

Entre acenos, cumprimentou o primeiro sujeito que via depois de uma caminhada longa nessa nova cidade. Na posse de questões diversas escolheu a que convinha, mas interrompido pelo sujeito hospitaleiro.

- Sim, alguma novidade, distante?  Ando por aqui a procurá-las... Sinto cada vez mais escassa. Ernesto daqui de Dorândia, muito prazer.

- Ora ora, sou do Rio, Honofre minha graça, filho de Januário e Marina, ocupado em trazer alegria.

- Ah! Vem do rio, e, agora, chega a beira do mar.

E um riso ecoou.

 - Se me deixar no mercado, um bom lugar! Ofereces me guia até lá?

- Não é má idéia, porque estudo o comportamento de um estranho como ti ante o desconhecido.

- Então tenha a bondade. Adiante-me a matéria, assim, vou a provando com vontade lapidada pelo prelúdio de tuas palavras.

- Começo já. Vimos a cordialidade, agora, vejamos se sou eu, um bom anfitrião.

   Conhecer Dorândia pelas vielas levada entre casas colônias de janelas quadradas em azul pedral fixadas ao chão e uma dourada lua que deixava o lugar mais pitoresco, emoldurando o olhar e a míngua, vinha a outra, de prata.

Inerte diante de uma pintura, enquanto Ernesto já gesticulava a frente com outro rapaz, Honofre não desviava sua atenção das cores e a forma que haviam sido lhes dada.

- E não é má idéia, Ernesto... oh Ernesto!

- Estou aqui, d´que fala?

- Preciso de uma cama para dormi, estou cansado da viajem que fiz e fui absorvido pelas cores daquele quadro, sonolento já veio o sonho agora quero deitar. Tenho umas moedas aqui, posso confiar em ti?

- Veja, conheço o lugar certo, vou te levar lá.

Entre a abertura da porta, viu-se um quarto bem iluminado com lareira ao fundo e uma cortina desenhando a janela. Ficou mesmo absorvido, honofre, e conduzido pela moça com quem negociava, verificou seus pertences, deu-lhe o adiantamento e confirmou a hospedagem.

Na chefia da casa de hospedagem subia as escadas a dona desarrumada, apresentou o quarto e honofre cheirou abusivamente aquele perfume que vestia todo o ambiente daquele recinto.

Logo ao tirar aos sapatos causa tamanha era o desconforto buscou a janela sem vacilar, mirando a imagem entre moradias notou os contornos certeiros da carne desnuda sombreada ao sabor da coluna de ar entre um e outro, quis.

Ela estava de costa percebeu Honofre que de tanto absorvido pelo encanto sentiu um fio de cabelo cair ao chão, então, fechou se a brecha, e mergulhou a fim de encontrar esse tesouro no sono infindável de seu corpo.

E com toda essa potência e entusiasmo recomeçou o sumo da descoberta da anatomia da vítima da última visão do azar. 

Olho no olho de seu destino procurou fazer a coisa certa, cerco de oscilações da condição de ser humano caído no desejo perverso, porém impulsionador de um querer infindável.

Quando pensava já era dia e acordado naquele mesmo quarto de hospedaria analisou as possibilidades que tinha para a conquista: Carta, discar a telefonista, arriscou então aproveitando da fama momentânea, visitante, cultuou a pergunta e se deteve na recepção, descobrindo que o prédio ao lado era residencial e que a vizinhança era pacata e tranqüila.

Na saída da hospedaria, após o café matinal, Honofre encontrou aquele ser hospitaleiro que conhecera a um dia atrás, Ernesto. Foi que assim, Honofre antes dos cumprimentos e, até um pouco afobado, logo perguntou pela musa da noite passada.

Ernesto abriu um sorriso e conteve-se. Depois admitiu que a conhecia e que querendo era possível um encontro e, ainda, sugeriu que fosse nada muito formal, sentenciando ao final com ares magistral que o melhor dos encontros reside no acaso.

Foi por essa vez que subtraiu do pensamento a euforia para dar lugar a paciência, Honofre, carregava a prática de ensinamentos duradouros conquistados nos dias de anseios longínquos que tornavam a regressar como aquele louro que se transformara Dafne.

Ernesto insistiu no convite, espiar os prados vizinhos a fim de colher os cheiros noviços, dando-lhes a inspiração devida para um dia de colheita. Honofre, por sua vez, seguiu sua intuição e o seu pífano que reconhecia o piar de um anu-preto e seu bando.

Enquanto andavam Honofre confessava sua solidão de uma vida em regresso ao passado que desconhecia, pois havia sido adotado quando criança e bem educado, com carinho adequado e uma dose de alimento à sua curiosidade: Os pais biológicos; lançara no mundo a procurá-los.

    Nessa estrada iam ambos ficando mais distante do centro, admitindo o caminho para a cachoeira como a cem léguas na classe das medidas inglesas, e, nessa exatidão, Ernesto já sabia que Honofre soubera achar o pai que não o criara, em uma esquina, depois de informações desencontradas, vira um sujeito brigador, porém avesso ao pão nosso, o que o assustara inicialmente.

Passada, no entanto, esse primeiro espanto considerou a aproximação, o que acontecera, e, bem assim, parou o conto para com extirpe à inquietante necessidade de detalhes com que Ernesto investigava.  

Acho que foi um golpe de quem ainda espera a confiança necessária para se aventurar nos sentimentos de maior relevo e onde encontram o alto mar dos infortuitos e por que não as mangas ao pé da árvore; certo que foi um chega para lá com sutileza, mas também um até breve.

Desse estreito em que permearam juntos os prados descampados ainda se escutava aquele pássaro que acompanhava melodicamente orquestrando a dupla, observou Honofre, oportunamente, que outros pássaros do bando se alimentavam das abelhas que viam roubar o néctar da flor solta nas árvores.

Apimentou a apetite de Honofre, a alusão a flor foi inevitável, chamando para si a responsabilidade, deixou-se levar:

- A mãe não conheço, ainda; e teimo em conhecê-la, pois que foram muitas as estória dela, contada por  esse pai-zé que achei nas beiradas do mundo.

Apertando o peito para não esmolecer deixou a narrativa onisciente, querendo a glória como um lidador diante da batalha, expos a sua empresa como desde a primeira à última, chegando em lágrimas a dizer que era essa mãe a sua própria alegria.

Pontuando que descobrir sua mãe era se experimentar alegremente num laboratório de muitas substâncias com possibilidades anis e criações primaveris, noções elementares com nuances de sutileza.

Continuava a descrição com alento à paixão de sua cruzada numa fotografia extática da presença atual da persona que quer incessante a comunhão com sua origem e os mistérios do período antes do seu nascimento.

Balsamo dos olmos colhidos à frente, farão um chá para esquentar, espantar também os sentidos mais densos. A idéia foi de Ernesto e bem recebida por Honofre, vez que era dele as emoções que balançavam na corda, como quem precisa do equilíbrio sobretudo lembrou, doravante, do escarlate que havia visto na noite anteriori.

Enquanto contava, Ernesto imaginou com os olhos em movimento, respeitou as palavras de Honofre e não o aborreceu mais com suas perguntas sucessivas, deixou no caminho os passos, e, percorrendo o arado, resignou em silêncio, depois, sem conter a vontade, repetiu o refrão duas vezes como quem tem pressa:

Desta cidade que vê e convivi aprendi muito e sei pouco a pouco da fraqueza de seus pilares; daqui já se plantou muito café, sacas e mais sacas, e também já foi o caminho para o ouro dos que exploravam os escravos, roubaram sem deixar muita coisa além de estórias e algumas até parecidas com essas com que me contas agora.

Veja na cidade adiante as famílias, e propriamente as pessoas, cada uma delas constituem um museu de fatos narrados pelos seus pares, de geração à geração, chegando até mesmo a ouvir alguns enredos puros e destituídos de cores e sombreados que agradam bons leitores em geral.

Os frequentadores lotavam tabernas locais e entornados nos âmbares de vinho proferiam cânticos e exaltavam as conquistas de novos horizontes em que arvoreciam as palavras e estórias por eles narradas, e, enfim desfrutavam da fama peculiar de contos que multiplicavam saberes e fomentavam, outros novos em lugares mais longínquos.

E isso, caro amigo novo, - Honofre! Digo a ti excitava e ainda causa um alvoroço danado, na barriga, nos pés e na mente de quem confabulou, testemunhando o espetáculo que é essa ciência de ver moinho funcionar, e carregar trocando com honestidade no mercado dos dizeres.

Honofre é aqui nessa cidade que moram os que possam ser como o vento que toca e balança as árvores e dão lhes movimento, mas não são visto apesar de sentidos e apreciados. Já imagino, a Arvore que tamanha sensação, nunca saiu daquele espaço que brotara para o mundo, ainda assim não nos aparece incomodada com isso, eis que os que quiserem verão...

Dorândia vive de dia remoendo os haveres para as descobertas dignas de aplausos, risos tendenciosos. Aqui podemos, nós os cidadãos, fazer o ofício da arte um prazer sem findar, buscando o conclave decidido a ganhar os altos mares da fencundatio.

  Antes da noite, e sobre ela, todo homem se derrama para a revelação dos céus estrelados e expostos geometricamente formando as tramas ao feitio do observador conivente com as pinturas desenhadas em pontos que brilham e sobre a âncora da lua que se permite apreciar solidariamente.

Transparece que os dias correram distantes, os meus do seu e que agora se encontram decididos em fazer parte definitivamente e mais uma vez dessa cidade nova para mim e já não tão nova para você, Ernesto.

Quero pontuar sem medo e em postura reflexiva, encontrar o fronte e revelar a fonte das minhas angustias seculares que me impediram de me deliciar com a rigidez ou mesmo de caminhar com liberdade.

Narrando: Lancei-me aos saberes de minha origem e sem descobri-la inteiramente derrotei o medo da ignorância que entediava exaustivamente a mente, matriz motora da geração do que é em si próprio e que convalesce em sua suficiência. 

Empreender com dedicação no conhecer de um ofício e fazer disso um labor dar-me-ia um bom carro para passar sobre a ponte que me trazia aqui. Se se como me disseras é, pelas estrelas quero me guiar em caução das cartas náuticas para toda a nobreza, sem soberba, mas em caráter singular.

Pois bem, garoto, disse a ti meu nome, mas sabes que a vida saboreia-se em uma comédia à margem da travessia; a Roda uma vez em cima tende a baixo se repetindo e quando sobre o plano ela percorre. Isso para dizer-te que quero introduzi-lo no meio, no meio do povo, e o que pensa de um matuto de uma terra de ninguém como essa?

 E por que investiga assim lhe direi que não é aqui nenhuma terra de ninguém existe o Ernesto, você; e outros existem como tu, acrescento ainda que não o considero como matuto, mas já me propusera a matutar... Sobre sua interrogação disponho: que ‘da terra’ o homem não nasceu como a planta, mas para a terra certamente viverá e, ainda que, não perceba a tempo, sobre a terra é certo herdará o viveremorte.

Isso para conferir o meu prospecto, ou a capacidade de prospectar. Colocarei, então, assim: O homem da terra é uma referência.

E como toda boa referência cabe ao investigador, consultá-lo. E pesquisar sobre o que não menos que sobre sua relação com a terra, homem da lavra que descobre, um conhecer refinado pela experiência e descobridor das aparências uma vez que participa de todo o processo produtivo.

Com isso ganho, já digo no plural, com estatus de quem verificou um apreender global-cíclico evidentemente, envolvendo o plantio e a colheita. Onde anda o homem das colheitas hoje aqui em dorândia é bom que saibamos, pois se nos aventurarmos adiante é preciso direção.

Bem, até esse ponto diálogo-cenário-aparições, abro-me ao leitor romanesco: pretendo o universo lírico, a forma de cada um a si imaginando. faço dessas palavras meu dito e desejando vê-lo entre o escrever lerei a mente que anseia um personagem constante, aos vinte oito anos absorvo nessa obra em inspiração revolucionária quebrar patamares, quilombos, núcleos de resistência, da condição de leitor, soi também o escritor; atemporal, Façamos assim, andavam juntos num debate concentrado e já encorpando substância, dois homens, Ernesto e Honofre que saiam dos prados anunciando uma estadia pelos dizeres conduzidos por Ernesto:

Vamos para as águas verbetes da civilização moderna e, também, dessa de todo escritor em deságio com dorândia - a civilitatis dos translúcidos em ervas fins ou dos suicídios coletivos por motivo torpe, qual seja, ler.   

Aquele que prova de nossas águas mais sede terá. É claro que é o seu caso, você mesmo já procurava, mesmo antes de vir, sim; eis que duvida das informações triviais e as que quis em experiência ativa, vinculando essa necessidade à particularidade de sua origem – órfão, adotado, fez da mãe uma opção de procura. Agora me resta saber o que achara? Ou o que pretende achar, coisas que diferem em planos e concepções.

Deixa então logo te respondo, pois onde há de ser pedra batata será verão na referência, isto é, fechado, e não cabe a mim descobrir assuntos fechados em longos ensaios de ciências, variadas em compêndios volumosos, porém para alumiar basta que postule assim: A mãe é a humanização do Ego que pretende à Deus.

E não há escapatória, sou um como o outro que quer descortinar, para com um bom molho de linha tecer as próximas ou mesmo uma que seja nova e recriada, embora já haja demasiadas estórias e romances, será essa própria.

Fala do B à BA, sem certeza que recriar esse momento da cognição ira sem grifo garantir-lhe um lugar na história. Friso que já houveram outros a te anteceder.

Não a mal algum nisso, se se aceitar que outros também já fui, repito, o que foi dito como quem ainda diz em velocidade expansiva, sendo o estalo, o rompante para agir inaugural, o emergir de um folclore é descobrir o escolhido para ser mistério. Tratemos agora do oculto.

Então separa aquele tempo em que cada momento é decididamente único em importância e onde as escolhas são certeiras, há a desídia das tragédias, muito embora não apareça, seja contada e revivida; antes era uma via, agora, põe-se em avenida a toda prova da vida: Continuidade.

E continuando sentenciou dizendo que o trivial jamais poderia passar despercebido eis que dele o débil se faz borboleta, usando-o como um cazulo e que a partir dele voa através da imaginação para alcançar os patamares mais finos da mente.

O que, no entanto, seria extraordinário para não ser tal que sensacional é sua percepção apurada para a ilusão das coisas, uma condição que não considerava sendo própria de sua personalidade, mas que muito lhe agradava, pois saciava-o cumulando entendimentos que simplificavam a cada explanação.

E isso mais que entender queria realizar, a arte dessa plena estratégia de caminhar e trilhar as estórias odiernas de vilas e cidades que muito embora ainda pouco exploradas transpiravam em desejo, calor que com a atenção e o cuidado devido sobreviveriam as insônias improdutivas mergulhando na abundância do mar trazidos por chuvas e formados por contingências de homens ícones de tendências e fonte da expressão.

Então sobre qual sujeição seria a de seu ofício, questionou a si como também Ernesto que revelou adiante nessa esquisita fala:

  Quisera eu, ser quem és um viajante e conquistador de senhoras e senhoritas, das vezes que tentei, confesso que não logrei sucesso algum o que hoje me leva a ser um simples profissional, sendo carregador de frutas e outros alimentos perecíveis.

Lembro as tentativas que sem sucesso ingressaram no universo místico dos infortuitos e, quando muito, de tempo em tempo, uma cartomante adivinhava as diretrizes me direcionando para a próxima parada. E fui grande... Ser grande é bom, não!

Não tanto quanto campeão, insigna de vitorioso e por que não Vitorioso. Conquistar faz bem, leva alento numa vida de miséria que é essa por aqui e não que deve ser muito diferente nos outros cantos; o que são ventos... correm todos em todos cafundós!

Já sei que besteiras são boas de serem ditas para se dizer agora – e esta fala é minha – portanto, me prossigo num louco estado de falatório, e por esse escritor que bem escreve para entreter-se do tédio da madrugada vindoura.

E proponho que agora, com a concedida interpretação de meu gênio exporei em minúcias as cortesias da puxação dos bois que ao ultrapassarem os carros dão em águas calderantes e acabam nos pratos dos pobres.

Quero sim, colocar os pingos nos is, que são nada mais que situar essa história que vem em bem dizer morninha, morninha... quase que cozinhando em banho maria, para chegar ao colapso dos termos éticos que são a penetração do contigente humanóide; Doido-doido! Entrar e ingressar nessa nossa estória que não deixemos cair! - e até mesmo no nosso diálogo, meu querido e eloquente Honofre!, Rapaz jovem sabedor dos saberes, da madurescência, entende, livre cortês.

Bem disse que seria esquisita, escreve agora o autor, dado a volta meia que fora, voltemos em meia volta para está ciranda desses companheiros que em breve no caminhar do diálogo sairão do contexto; não deixei, eu! Alto...

Eis que Honofre possuído da atmosfera e do regalo de exaltação, trouxe a baila o que viria a ser a adivinhação como num jogo que embora não a beira mar, faz sentido quando na praia e desnudo, percebido se envergonha. Mas e se descobrisse que era sonho, perguntou Honofre decido em colocar panos quentes.

Acredito que em sendo assim, abriríamos as portas da naturalidade e nesse sentido cabe que desfrutar do edem sonoroso e com fortuna um encontro, resolveria o desencontro das cartas que te relatara, de tal forma a regozijar o espírito.

E como a vista alcançou o que era como uma flor num vaso em um nítido contorno de mulher, é que fez um aceno com as mãos saudando a moça que vagava ainda naquela manhã, e que agora nutria com fertilidade a vicissitude da conversa para a expectativa de um contraceno da dama dourada.

E numa entrevista fitou os olhos e observou que a jovem distraía-se com a natureza enquanto que Ernesto expunha uma face sisuda, a ponto levar a tal pergunta:

O que foi Ernesto, a bela jovem não lhe põe em bom sentido? Por que tão fechado, e, agora, em coro tão fúnebre apresenta-se? E deixe, as reticências para a hora que convir que está não é apropriada; cabe sim uma direção sem colóquios e com provérbio retórico de forte pensar uma vez que não fico ao acaso de achar, procuro o sentido rufião que tirou todo seu regalo de outrora. Que foi, quem foi essa que tarde passa e logo já causa seu penar?

São lixos que já foram enterrados e hoje adubam as hortaliças que venho vendendo. Essa mulher é perigosa, descobri-la é arriscado demais para um verdureiro que cotejou mulher bonita, mas que apreendeu que mulher bonita não paga, mas também não leva.

Bem ensinado, mas um tanto ortodoxo para meu gosto tropical. Mágoas sim, não lixos, me desculpa querer tirar essa estória a limpo, não entendo nada dessa questão desencontrada sua com a moça que passa e já que venho, se não em outra, que nessa de agora; não me parece loucura me colocar em pró da lucidez da questão.

É claro, um viajante, confiante de uma desídia em narrativa investigaria com carinho a pendenga, e, assim, foi feito, passando Ernesto a dizer:

Inglórias, meu amigo, menoscabo de um desfecho é só isso, sem mais. Coisa que não cabe se não os dizeres que disse.

E lhe digo para depois anotar na canção que seguirá; antes o que foi sucedido foi uma festa em carnaval marchado de graça resulente e que entristecia, apenas, a falta de uma chuva de bocas molhadas e seios fartos, de tato suave e sabor puro embora de  paladar inverossímel.

A música soava, a festa era doce e então numa parada de esquina a avistei; desejei a convite e contive, até que a comunicação fosse segura, como fora. O que fazia, onde e o que queria foi minhas questões sucedidas em uma ajuda pontual, selando com clave de sol em uma noite aberta às conquistas.

E na lídima ausência, tamanha era o preenchimento de minha alma e bebia e remediava a sede passada, ficava apenas o sentimento de mais querer o findar; assim foi feito e muito se repetiu, enamoramos e desfrutamos de laços mais tenros e afetuosos, mas que agora para mim nada representa sendo a vista desconsoladora, por certo essa moça a causa da discórdia.

E porque? Perguntou Honofre apreensivo.

Eis que me deixara com o venir dos sentimentos ao amarrar de minha vida a outra de estória mais simples, envolvente e que se complica ao cabo do que conto. E porque? Por que nos trabalhos da rotina conheci essa dama e por muito a ia encontrando o que me levava a servi-la, como me servira em primeira vez... que foi precisamente soberba em graça e de muita serventia.

Não sei meu primeiro amor guardado estava e considera não haver riscos, mas ao enlaço do destino aflorou outro sentir e me deixei assim levar tal e qual minha relação com a que tive em primeiro já seguia o mesmo compasso. E o que me entristeceu depois foi ter escolhido uma pela outra sem nenhuma certeza, mesmo na aventura a menoscabo do que conservara, arrisquei nada tive e como nada sucedeu para meu pesar.

Mesmo assim não esqueci não só da que me revelou como o mais... e como o  ser em todo deixando asa para crias futuras que considero, a mulher é mesmo Isabel.

Então deixei, sem ser poeta, essa canção de título Juvenil:

Primeira Dama,

nasceste dourada para mim,

belo dia, era carnaval.

Foi tua cura, de credo, o fim do meu mal.

Ingratidão, essa culpa não levo.

Homenageio o verso,

eternizo na História, nossa morada, em depéçage.

Entrego-te rosa, primeira.

Obrigado por tudo,

seu carinho beijos e ternura

Guardo comigo a sete chaves,

no porão do meu barco.

Assinado o pirata encantado.

E foi-se água abaixo num choro singelo copiado por nosso escritor de plantão que deixou em versos escaramuchados e expostos ao público, o que, aliás, veio depois a trazer fama ao fruteiro Ernesto por versos simples e graciosos. E, com essa glória, passou Honofre aos pensamentos daquela mulher para onde a fenda de ontem... E enfim para a realeza da cidade pós-campos vastos da alvorada.

III – DA TERRA EM QUE VEIO: NÃO TITUBEIS (...)

Renovado, apaziguado e com ares devoto daquela que lhe recebera o olhar em luzes tênues e ainda sobre os efeitos do poema cintilava quase em um convés moribundo seus sentidos. Permeava algo para que pusesse a compor o canto com fidelidade que inteirava-se a cada passar a nova.

A lua baixa ainda em fase dourada buscava o final daquela cena que emprestou a mente o instinto e a intuição que não haveria de falhar de maneira precisa para o mergulho naquele universo que surpreendia como dantes.

Fluida era a relação de cada ser e percebia Honofre que a interpretava as sombras sem serem hostis, cumpriam o papel com reinteração do espaço livre obstinadamente a lição se impunha; a cada ação uma nota propunha-se.

E anotava de forma instrumental compondo versos intuitivos que montavam alegorias vivas sobre a passagem ainda sem compromisso por terras de olhares dolentes ao consumo para além do arquétipo autoral, ente que absorve e transpira em éter o sumo da essência criativa.

 Com os versos anotados que somavam estrofes e arranjavam quase um texto poético, Honofre, em um desejo desperto e sem que a hesitação lhe dominasse, levou-os a gráfica que capitaneava talentos literários. E em oportuna transição de sentidos expressou o que já havia timbrado:

És o conto que se inicia

Seja iniciado com as redes da profecia

Sede da maior magia, Gea

Captaneada pela barca eterna dos já são da sorte a confirmação,

conforme fora proferida de ante mão, o destino detive-me.

Em um mundo novo, sob nova conjuntura,

de Roma à America tal como Grécia e Creta,

A sucessão dos Astros vigora no artífice momento,

Escrutínio secreto onde o fogo forja o contexto como a espada

E aquece o chão, pouso dos pés.

Assumo minha intenção: apropriar da arte, expressão

Oriento minha paixão pelo fenir dourado caixão

Procuro demasiado, porém ainda ausente em solidão

Não há com quem retratar-me eis que vim até agora sem contradições, verificar

É possível um homem bruto como o que sou

Da poesia, a apoteose vingar

E dessa vindima, frutos e flores, será!

Não sinto fraquejo, e é força nos pés, o hábito

Sentido que me traz aqui, deixo o por vir para ser agora: O escritor

E dirá o editor: Como?

Escrevendo; já o faço, em linhas retas, por vezes, tangencio as margens, abertas.

As portas assim mantenho discretas, em escolhas francas.

Em pulso firme, continuo o siso

Organizo os papeis, defloro as vestes para as cortinas, descortinar.

Vamos ao show.

Editor

Deu voz de poder ao seu canto, nosso Maestro!

Não cabe negar o talento, nem tão pouco tolir o invento;

Se se é de chão, vejamos quais projetos traçaste.

Já ouviste diários incendiários, noviças arrebatadoras,

velhas ancians profetizas.

Quero saber se o tu que trazes aqui é velho como manuscrito de valor...

em entreter é claro e do costumes remoer, sabes?

em síntese aqui tens gepetos e arquitetos

e dos poetas fazem ordinários mentirosos fantásticos

O que aliás, depende dos espinhos marcados

Bem, dê-me esses Drummond´s

e verei o que faço; bem digo não soi doutrinário,

nem acadêmico sói.

Se tens futuro, cartomante serei.

Basta que acredites.

Honofre

Considero seu desiderato um Sim

Meu nome é de Santo que de trato com o capeta fizera

redimido como pio, santificado fora.

Trago essa baliza em meu ser,

da pedra, escolha vida urbana, sei viver.



[1] Autor: Rafael Bicharra Barbosa – escritor e advogado. Contato: [email protected]