(...)Pois a verdadeira arte pode fazer historia, na medida em que é um refletir do ser social sobre sua própria existência.(...) ( Belmira Magalhães- p.44)



No texto "A Teoria do Medalhão" de Machado de Assis, o diálogo ( que mais se assemelha a um monólogo), travado em meados do século XIX entre um pai e seu filho que atinge a maioridade, traz à tona alguns valores que persistem até os dias de hoje, em pleno no século XXI: A busca pela ascensão social, ainda muito comum e desejada em algumas classes sociais, principalmente em países capitalistas onde a mobilidade social é viável. Não basta só ter êxito financeiramente, o que não assegura ao individuo ter influência entre seus pares, é preciso ter uma rede de contatos que lhe rendam benefícios de algum modo.
No texto, um pai espera se realizar com feito do filho, se tornar Medalhão, pessoa de elevado conceito profissional na época, influenciado-o e expondo sua teoria , o mesmo se "desdobra" em conselhos que são prontamente aceitos por Janjão, o filho.
Ser "Medalhão" consistia em ser sociável, aceito, solicitado, em ser uma figura com elevada representação social, o melhor em sua área, o mais cotado, alguém agradável a todos, um ser notável. Não há nada demais em ser o melhor e ser reconhecido por isso, porém para alcançar esse status, o candidato a "Medalhão" precisava não ter uma personalidade própria, apenas ser conhecedor superficial de vários assuntos, e evitar contrapor ou contradizer alguém, não dando margem a discursos inúteis a causa própria, servia-o apenas ser um conformista, já que a sociedade tradicionalista, em que viviam, não permitia a abertura para o novo. Porém, tanto naquela época como na atual, um título, um diploma, conquistado a partir dos estudos, é de grande valor e importância no âmbito social.

(...) Seguir a teoria do Medalhão é conformar-se com a mediocridade respeitável - mas distante da aspiração genuína de qualquer espírito inclinando aos prazeres do intelecto e, especialmente, a produção de alguma coisa verdadeira(Machado Assis,. p.07)


Os diferentes modos de vida das sociedades tanto em seu aspecto econômico como no aspecto cultural, são diretamente responsáveis pelo tipo de educação oferecida a esses grupos. No texto de Machado de Assis, o Brasil , ainda colônia, com regime escravocrata, onde apenas os jovens da aristocracia tinham acesso ao ensino até um certo ponto no Brasil , e completando-o na Europa , demonstra bem, que um número mínimo pessoas naquela época teve acesso a algum tipo de educação sistemática.
Atualmente, encontramos similaridades entre a educação dos século XIX e a atual, herdada da século XX, hoje teoricamente, a educação é acessível a todos, mas a qualidade é que difere de acordo com a posição social que cada um ocupa na sociedade e o resultado é uma educação diferenciada e heterogenia, e, como técnica social de doutrinação política, acaba por domesticar as massas, manipulando suas vontades.
Sendo a educação ou tipo de educação que recebe o individuo, fator que determina a camada social a qual ele pertence, temos então toda uma manutenção da hierarquização das pessoas, a estratificação social, daí para esse pai, a importância de ser influente, de ser "O Medalhão"
A estratificação social influenciada pelo modo de produção, que é à base da estrutura social, que por sua vez, define o tipo de educação imposta à sociedade, é mantida, como forma de controle de massas, pela cúpula que é detentora do poder e compõe o Estado.
Vivemos o capitalismo, e dentro desse mundo de patrões e trabalhadores assalariados, temos através da educação, talvez a única maneira de "subir na vida", porém não a mais espaços para os medalhões, que não tem idéias a defender, hoje estamos mais politizados (será?), e a cada dia, um numero maior da população classe "C" consegue ter acesso a universidade, ascendendo socialmente.
No texto Machadiano, o pai, sabe da importância de uma carreira para seu filho, seja nas áreas que for.


(...) Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes entrar no parlamento, na magistratura, no imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti. Vinte e um anos, meu rapaz, formam apenas a primeira sílaba do nosso destino" (...) ( Machado de Assis - p.09)



Quem seriam então os" Medalhões" de nossa época? Os políticos? Ou seus amigos que ocupam cargos comissionados? Os novos ricos, que buscam aceitação e ascensão social? Nós mesmos? Cabe um conformista nos dias de hoje? As respostas a esses questionamentos mudariam alguma coisa? Há algo errado em ser "Medalhão"?
Bem, essa teoria tem uma coisa muito certa, todo aquele que expõe seu modo de pensar que difere da maioria, sempre será criticado e até excluído do circulo social a qual o mesmo pertença. E isso, ainda, é muito presente na cultura dos brasileiros de ontem e de hoje.