A OCUPAÇÃO DO COMPLEXO DO ALEMÃO

Talvez a maioria dos moradores da cidade do Rio de Janeiro não tenham a noção exata do que representa a ocupação do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro pelas Forças Armadas e as Polícias Civil e Militar.
Só quem vive, viveu ou foi criado naquela região pode avaliar o que foi, o que passou a ser e o que poderá vir a ser novamente essas áreas.
Eu que nasci e fui criado na Vila Kosmos, que brincava nas ruas até altas horas de pique bandeira, garrafão, golzinho pequeno e peladas nas esquinas das ruas Alecrim com Jaborandi, que pegava peixes sob a linha férrea Rio Douro, freqüentava as festas juninas da Bauch & Lomb, bem abaixo do morro do juramento, participava da guerra de mamonas no "morrinho", dançava nas domingueiras do Florença, do Kosmos, freqüentava o Mello Tênis Clube, o Social Ramos Clube, a Associação Atlética Vicente de Carvalho, o Clube da Demillus e da Standard Electric, o Viçosa, não perdia um filme de faroeste no Carmoli, no Melo, no São Pedro e no poeirinha da Vila Kosmos do qual não me recordo o nome, mas ficava na rua Itacambira, namorava até madrugada no bairro da Eqüitativa, ali ao lado da "Santinha" (e não era pecado) posso avaliar.
Somente aqueles que como eu estudaram no Colégio Meira Lima, ou aqueles que eram do Nossa Senhora do Brasil, do Nossa Senhora de Fátima e outros próximos, que após as aulas e mesmo durante, no chamado "bater gazeta", namoravam no Parque Ari Barroso, ou apenas o freqüentavam para jogar bola ou dar um passeio sabem o quanto aquele espaço até então dominado por bandidos era para nós importante.
Caminhando um pouco mais, como era bom irmos ao ensaio do Império Serrano e voltarmos altas horas da madrugada a pé, descendo a Edgard Romero, Estrada Vicente Carvalho, passando embaixo do morro da Serrinha, sem nenhuma bala perdida, indo até a Praça Aquidauana e enfim após mais de meia hora de caminhada, chegarmos em casa sãos e salvos sem que nossos pais estivessem desesperados nos aguardando.
Para nós era normal atravessar o subterrâneo da Penha a qualquer hora que nos levava de um lado a outro, o que hoje seria sinônimo de suicídio, nosso passeio de final de semana era comer pastel e tomar caldo de cana na rua dos Romeiros com a nossa melhor roupa a bordo do lotação Penha- Madureira, que mais tarde seria o famoso 721 Cascadura Vila Cruzeiro, se não me falha a memória.
Caminhando ainda um pouco mais, quem esquece os churrascos das Cidades Alta e de Deus que podíamos freqüentar sem temor algum,mas ai já estamos saindo de nossa rota e é assunto para outra crônica.
Tomara que essa ação não tenha sido apenas uma resposta aos bandidos que ousaram desafiar o estado com seus ataques. Queira Deus que os governantes de nossa cidade e os policiais entendam de uma vez por todas que bandido bom é bandido preso e que nenhum dinheiro do mundo, que não seja ganho de forma lícita e honesta trará paz aos seus familiares e um futuro digno para os seus filhos.
Quem sabe daqui algum tempo possamos levar nossos netos para passear, não no Parque Ari Barroso que virou UPA, mas talvez na Igreja da Penha, ou quem sabe ainda na Festa da Penha, que para quem se lembra foi uma das maiores que havia em nossa cidade.
"Alguém oferece a alguém como prova de alguma coisa", era assim que o locutor do Parque Shangai anunciava mais um pedido.
Que saudade!