A menina que roubava livros e foi presa

 

 

Ana tinha nove anos. Pertencia a uma família muito pobre. Estudava de manhã. À tarde vendia flores para ajudar no sustento da casa. Era fascinada por livros, mas não podia comprá-los. Todo o tempo que conseguia, ficava na biblioteca da escola, devorando-os. Naquela sexta-feira se atrasou vendendo flores e chegou mais tarde na escola. Começou a pensar na primeira vez que teve a ideia de roubar livros, para levar para casa e lê-los de madrugada, iluminada por um liquinho.  Foi quando a bibliotecária se afastou, que pegou um livro chamado “A menina que roubava livros” e o colocou dentro da mochila. Lembrou como ficou assustada. Seu coração pulsava em disparada. Seu corpo franzino tremia, sem controle. Mostrava no olhar o medo de ser descoberta. Seu rosto ruborizado. Ora escondia-se embaixo da mesa para não ser vista, ora procurava em todos os cantos da sala alguém que pudesse desconfiar dela. Como nada ocorreu, continuou levando cada vez mais livros para criar a sua biblioteca. Quando a culpa surgia, vinha-lhe à mente o nome do primeiro que roubara e, não tinha mais vergonha.  A leitura feita com avidez desenhava sorrisos nos seus olhos, que brilhavam. O livro que tirou da estante no momento, era “Laços de família” de Clarice Lispector. Ficou totalmente empolgada. Quando percebeu já era noite. A sala estava fechada e a escola também. Só abririam na segunda-feira. Ana ficou presa, sem a mínima possibilidade de sair. O pavor tomou conta dela. O suor gotejava como um rio, encharcando o livro. O desespero era grande. Como ficaria sua família sem notícias dela? Coitados! Sofreriam por sua causa. Sentiria sede e fome. Ou melhor, já estava sentindo. Pensou que era um castigo por suas ações. Prometeu a si mesma, que jamais roubaria livros. Devolveria todos. Faria como seus colegas que assinavam uma ficha e poderiam levar o que escolhessem para ler. Tranquilizou-se. A alegria ressurgiu em sua alma, seus olhos voltaram a sorrir. Lembrou que teria todo o fim de semana para ler o que quisesse, sentada numa cadeira e com luz de verdade.