A BESTA FERA
Publicado em 18 de dezembro de 2009 por Henrique Araújo
A BESTA FERA
Dizem que a Bíblia diz que no fim dos tempos vai aparecer a besta fera. É um animal feroz que vai destruir todos os homens. Ninguém vai poder lutar contra ela, pois a cuja vai ter uma força descomunal. Todos aqueles que lutarem contra ela, serão destruídos. Só mesmo Deus terá força superior a ela.
Este tipo de coisa cai bem na cabeça de alguns pobres sertanejos e os coitados passam a acreditar nisto piamente. E os pobres morrem de medo da tal besta fera. Acontece que eles nunca viram a coisa, nem têm idéias de como ela seja.
Antonino era um pobre sertanejo. Tinha memória curta e acreditava em tudo o que os amigos falavam. Sobre a besta fera então nem se comentava. Era um Deus nos acuda. O pobre se arrepiava todo e morria de medo. Não sabia ler, o que piorava ainda mais as coisas.
Antonino jamais fora a uma cidade. Lá por volta de 1930 o progresso não era ainda tão acentuado.
Um dia ele teve que ir a uma cidade fazer uma compra. Não havia ninguém para ir, muito menos ir com ele. O moço partiu sozinho com as informações fornecidas pelos amigos. Ele foi, mas sempre de olho para não encontrar a besta fera. Andou muito por aquela estradona bonita. Havia muita coisa bonita. Tudo ali era diferente. Casas de um lado e outro e aquela estrada no meio. Para que aquela estrada tão larga? As pessoas não precisavam de um caminho tão largo assim. Mas, não se importou com isto e continuou andando.
Até agora não encontrou nenhuma besta fera. Fez as suas compras, colocou tudo dentro do saco e se preparou para vir embora. Assim que ele saiu ouviu um ronco muito forte. Ficou de orelha
De repente ele viu uma portona aberta. Graças a Deus. Era ali que ele iria se esconder dela. Entrou imediatamente naquela sala, mas a besta fera sabia que ele iria entrar ali. Ela lia os seus pensamentos. Não tinha como fugir. Entrou também. Pronto! Agora sim! A besta fera entrou ali e ficou roncando, roncando. Queria comê-lo de qualquer maneira.
A besta fera parou de roncar, mas de repente duas portas se abriram: uma de um lado e outra do outro. Saíram de dentro dela dois homens e vieram para cima de Antonino.
O pobre coitado não agüentou. Era muito sofrimento para um homem só. Desmaiou. Acordou tarde no hospital. Estava rodeado de pessoas de branco, todos cuidando dele. Olhou de um lado e outro. Perguntou onde estava, se na terra, no céu ou no inferno. Perguntou se a besta fera desaparecera. Besta fera? Que besta fera. Ele explicou tudo aos senhores que estavam ali. Eles caíram na gargalhada. Que besta fera nada, moço. Aquilo se chama carro e serve para transportar pessoas. Aquela casinha onde o senhor se escondeu é a casa da besta fera, aliás a garagem do carro. O senhor é louco? Tem algum problema na cabeça?
Não. Antonino não era louco. Tinha a cabeça certinha. Tudo estava no lugar. Ficou ainda com muitas dúvidas, mas não perguntou nada, tamanha a vergonha que passara. Ele estava agora num hospital, quando já devia estar