QUALIDADES ATRIBUÍDAS E COMPARAÇÃO ENTRE BUSH E OBAMA: "arrogância X liderança"

Quando questionados sobre a idéia que mais combinava com Bush os resultados mostraram uma prevalência de idéias negativas entre os latino-americanos: arrogância (25%), incapacidade (22%), crise (11%) e teimosia (10%). No caso de Obama ocorreu o contrário, com a maioria dos entrevistados apontando idéias positivas: liderança (26%), diálogo (17%) dinamismo (17%) e dedicação (15%).

No caso de Bush a associação de sua imagem com a idéia de arrogância é proporcionalmente maior no Brasil, chegando a 31% (contra apenas 25% verificado no dado geral da pesquisa). A idéia de que Bush é incapaz é proporcionalmente maior entre os argentinos, chegando nesse segmento a 28% das respostas. No caso de Obama a idéia dele ter liderança é proporcionalmente maior entre os mexicamos. Entre eles chega a 32% a quantidade daqueles que associam o recém presidente eleito com a idéia de liderança. A idéia de diálogo está proporcionalmente mais associada com Obama na Argentina, chegando a 27%.

EXPECTATIVAS PARA O FUTURO DOS ESTADOS UNIDOS E DO MUNDO: "para uma América e um Mundo melhores"

A grande maioria dos entrevistados (81%) gostou do resultado da eleição presidencial e da vitória de Barack Obama. A maioria também é otimista e acredita que com ele os Estados Unidos estará melhor (81%). Esse resultado está em conformidade com o publicado recentemente pelo Instituto Gallup segundo o qual Barack Obama contaria com 83% de aprovação entre os norte-americanos¹  A pesquisa realizada pela eCMetrics também explorou o que os latino-americanos pensam sobre o futuro do mundo a partir do governo de Obama: 61% dos entrevistados acreditam que com Obama o mundo estará melhor.

No Brasil chega a 87% o percentual de pessoas que disseram que gostaram do resultado da eleição. No México esse percentual chega a 85%. No Brasil e no México também é maior o percentual de pessoas que acreditam que com Obama os Estados Unidos estará melhor (respectivamente 90% e 83%). Com relação às projeções para o mundo, os brasileiros continuam sendo mais otimistas do que os argentinos, pois acreditam em maior proporção (68%) que o mundo estará melhor com Obama (apenas 53% dos argentinos acreditam que o mundo estará melhor com Obama).

Quando perguntados sobre que tipo de governo será o de Obama, se mais voltado aos ricos ou pobres, a grande maioria (58%) respondeu que ele será equilibrado e voltado para a classe média. Entretanto, são grandes os percentuais daqueles que acreditam que esse governo será voltado para uma classe média baixa (23%) e uma classe baixa (7%). As expectativas com relação ao próximo governo norte-americano se mostraram forte ao que se refere à influência mundial. Quase metade dos entrevistados (49%) acredita que a influência dos Estados Unidos sobre o mundo será igual a como já vem sendo feita. Entretanto, uma boa parte dos entrevistados acredita que a influência será maior do que é atualmente (36%).

EXPECTATIVAS PARA O FUTURO DA CRISE MUNDIAL E DOS ATAQUES TERRORISTAS: "fim da crise, mas não do medo de novos ataques terroristas"

Outra informação interessante obtida com essa pesquisa é a respeito das expectativas sobre o futuro da crise mundial. Chega a 77% o percentual de pessoas que responderam que acreditam que a crise mundial será resolvida durante o governo Obama. Desse somatório, 39% acreditam que a resolução da crise dependerá de ações desse governo. O restante (38%) acredita que a resolução da crise não dependerá do novo governo norte-americano. No Brasil estão os mais "otimistas" com Obama, pois chega a 46% a quantidade daqueles que acreditam que a crise será resolvida porque depende de ações desse governo.

O otimismo com o governo Obama ao que se refere à economia e política mundiais não se repete no caso da avaliação sobre possíveis ataques terroristas. Isso porque chega a 70% o número de entrevistados que ainda acreditam que exista algum risco de ocorrerem ataques terroristas durante o próximo governo. 12% dizem que não há risco algum e também 12% acreditam que há muito risco de ocorrerem ataques terroristas. Nesse caso especialmente os brasileiros e os argentinos se mostram mais pessimistas do que o restante dos entrevistados, pois chega a 75% (em cada país) a quantidade de pessoas que disseram que há algum risco de ocorrerem ataques terroristas durante o governo Obama.

O QUE MAIS MARCOU NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL NORTE-AMERICANA: "vitória de um afro-descendente ou grande participação popular?"

Para boa parte dos entrevistados o que mais marcou foi a vitória de um candidato afro-descendente (46%). Em segundo lugar, mas com uma boa representação está o fato da grande participação popular na eleição (40%). Analisando apenas no segmento de brasileiros participantes da pesquisa a idéia da vitória de um candidato afro-descendente é a principal para a maioria dos entrevistados e chegou a 65%. Já para os argentinos e mexicanos a idéia proporcionalmente mais forte foi a da grande participação popular (respectivamente 47% e 55%). Analisando apenas a repercussão do retorno do partido democrata ao poder nos Estados Unidos ela foi maior entre os argentinos, chegando a 14% (contra apenas 8% verificado no dado geral).

No segmento de entrevistados que se identificaram como negros ou afro-descendentes a proporção de respostas de que o fato que mais marcou foi a vitória de um candidato afro-descendente também foi maior. Nesse segmento chegou a 72% o número de respostas de que o fato mais marcante na eleição presidencial foi a vitória de um candidato afro-descendente. Esse resultado mostra diferenças marcantes na maneira como as pessoas de diferentes países interpretam a vitória de Obama. No Brasil é mais forte uma interpretação mais ligada à figura pessoal do candidato. Na Argentina e no México o fator político e social tiveram maior relevância comparativa. No entanto, não sabemos até que ponto a imprensa, em cada um desses países, explorou uma ou outra interpretação desse fato. De qualquer forma, mesmo que a imprensa local tenha enfatizado uma linha de notícia (ou a vitória de um candidato afro-descendente, ou a grande participação popular), essa escolha já indica o quanto é priorizada culturalmente uma ou outra análise do mesmo fato.

CONCLUSÃO: "reflexões sobre os resultados"

A vitória de Barack Obama realmente foi histórica devido a diversos fatores. Em alguns países, como no caso do Brasil a repercussão foi grande devido ao fato de que pela primeira vez na história uma pessoa de descendência negra ter sido eleita presidente dos Estados Unidos. A questão racial no Brasil realmente é muito importante, pois grande parte da população é de descendência negra ou mestiça (45% segundo censo nacional realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE - www.ibge.com.br). Entre os entrevistados que facultativamente se manifestaram afro-descendentes o fato da vitória de um candidato mestiço foi o mais marcante. É de se esperar que em um país onde a proporção de negros e mestiços seja alta, também seja alta a repercussão, já verificada no segmento racial, da vitória de um candidato afro-descendente. A mídia brasileira e os jornais de grande circulação nacional também enfatizaram o fato da vitória de Obama a partir a variável racial divulgando em suas manchetes, em boa parte das vezes, a vitória de um "candidato negro". É muito interessante perceber o quanto um mesmo fato de dimensões internacionais recebe diferentes interpretações em cada país. Ainda mais em se tratando de América Latina e o quanto os Estados Unidos historicamente exerce influência econômica, política e cultural sobre esses países. A eleição na qual se elegeu Barack Obama também foi inédita pela grande participação popular. No entanto, esse tipo de interpretação é mais forte nos países onde há menos presença de negros: Argentina e México.

Mesmo em se tratando de América Latina, onde haveria certa unidade cultural e lingüística, existem diferentes posicionamentos a respeito das mesmas questões. As imagens pessoais de Bush e Obama possuem aspectos agravantes e atenuantes em cada país. Assim como são as expectativas com relação ao futuro dos Estados Unidos e do mundo. O otimismo com relação ao futuro varia de país para país. De modo geral existe difundido um otimismo com relação aos próximos anos, especialmente ao que se refere à crise mundial. No entanto, a ameaça de ataques terroristas continua presente gerando, na maioria dos entrevistados, a idéia de que ainda há algum risco de ataques de repercussão mundial. A influência norte-americana, seja ela econômica ou cultural, continua sendo sentida com força entre os entrevistados, pois para a maioria deles ela será igual ou maior do que já é.

Essas disparidades são explicadas devido às diferenças culturais envolvidas no mesmo fato. A mesma personalidade política mundial pode despertar uma imagem pessoal em um determinado país e outra no país vizinho. Em se tratando especialmente da sucessão presidencial norte-americana, que é acompanhada por todo o mundo e pela imprensa internacional, era esperado que determinadas idéias estivessem mais fortes em alguns locais, pois cada país se envolve nesse fato de uma maneira peculiar. Embora seja sabido que atualmente vivenciamos um processo de globalização mundial, fatos de repercussão mundial têm seus significados reformulados em contextos locais. Isso resulta do imaginário da população que recebe a informação e a interpreta a partir de seu background cultural.

Diante dessa diversidade de opiniões e expectativas com relação ao futuro o que é certo de se esperar é que o mundo nos próximos quatro anos não será o mesmo daquele que é hoje. Esperamos que o futuro da crise esteja de acordo com a opinião majoritária dos entrevistados e que seja resolvida. Também esperamos que o mundo seja melhor do que é atualmente e que o recém candidato eleito, Barack Obama, atenda aos anseios da maioria que o escolheu como novo líder dos Estados Unidos.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado pela eCMetrics, consultoria especializada em conhecimento e relacionamento com o "Consumidor 2.0", com pessoas de toda a América Latina e também com participantes da comunidade de opinião Meu eCGlobal (www.meuecglobal.com), que é voltada para os debates entre consumidores sobre marcas e produtos e subsidiada por eCGlobalPanel (www.ecglobalpanel.com), empresa líder em comunidades de opinião na América Latina, foram levantadas diversas informações sobre a sucessão presidencial nos Estados Unidos. Foi possível investigar qual a imagem que George W. Bush e Barack Obama transmitem para as pessoas, qual a satisfação e expectativa com o novo presidente norte-americano e de que maneira as pessoas interpretam os resultados da sucessão presidencial.

No total participaram do estudo 1646 pessoas distribuídas pelos principais países da América Latina da seguinte maneira: Argentina 304; Brasil 684; Chile 58; Colombia 67; Costa Rica 26; México 387 e outros países 120 entrevistas. A distribuição da amostra não foi estratificada, mas foi feita de forma a contemplar a diversidade dos participantes. Eles foram convidados entre os painelistas de eCGlobalPanel e participaram da pesquisa através de um questionário de auto-preenchimento on-line. Os participantes da pesquisa tinham entre 18 e 71 anos de idade e 52% deles eram homens e 48% mulheres. De acordo com a teoria das grandes amostras essa pesquisa teve um erro amostral de 2,31% para um nível de significância de 95%. Esse estudo foi realizado na primeira quinzena de 2009.

Sobre a eCMetrics
eCMetrics é uma consultoria de marketing que integra soluções Web 2.0 para
construir e mensurar o relacionamento de consumidores com marcas e produtos.
Fundada em 2003 por pioneiros na área de pesquisas de marketing interativas
na América Latina, possui sede nos Estados Unidos, e presença no Brasil eMéxico.
Para mais informações: [email protected]


Sobre eCGlobalPanel
Fundada em 2006, eCGlobalPanel é uma empresa pioneira e líder no
desenvolvimento de Comunidades de Opinião na América Latina. Oferece
soluções interativas que ajudam empresas e organizações a melhor ALCANÇAR e
DIALOGAR com seus CONSUMIDORES em todo o mundo.
Para mais informações: [email protected]

Dr. Jonatas Dornelles – Antropólogo

Communities Specialist em eCGlobalPanel

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¹ Newport, Frank. "Obama Wins 83% Approval Rating for Transition". GALLUP: http://www.gallup.com/poll/113824/Obama-Wins-83-Approval-Rating-Transition.aspx. 19 Janeiro 2009.