Assassinos em série e investigação criminal

Por Tailana Tais Fenner | 06/04/2024 | Direito

 

 
FACULDADE ANTONIO MENEGHETTI
TAILANA TAIS FENNER
 ASSASSINOS EM SÉRIE E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
RESTINGA SÊCA
2024
RESUMO
O objetivo deste trabalho é compreender o comportamento do assassino em série e destacar as características comuns entre eles. O trabalho traz uma abordagem dos métodos de investigação aplicados nos crimes praticados pelos assassinos. Foram utilizados para a elaboração do artigo pesquisas em doutrinas e notícias veiculadas pela imprensa e internet.
Palavras-Chave: Serial killers; Análise Psicológica; Investigação.
ABSTRACT
 The objective of this work is to inderstand the behavior of serial killers and highlight the common characteristics between them. The work provides na approach to the investigation methods Applied to crimes committed by murderers. Research to the and News published in the press and internet was used to prepare the article.
Keywords: serial killers; psychological analysis; investigation.
INTRODUÇÃO
 Ainda não é de fácil compreender o que impulsiona algumas pessoas a adotarem uma postura cujo objetivo é o de exterminar a vida. A origem desse comportamento geralmente é atribuída à determinada psicopatia, malformação mental, herança genética ou algum episódio violento ocorrido durante a infância ou adolescência. Tais indivíduos, ao cometer crimes contra a vida, são comumente reconhecidos pela alcunha de serial killers ou assassinos em série.
Algo que frequentemente deixa as pessoas surpresas é descobrir que essa espécie de homicidas aparentemente são pessoas normais que esconderam de todos, durante muito tempo, a sua verdadeira identidade. Há uma falsa noção de que os serial killers são produtos recentes das sociedades modernas, no entanto, ao longo da história da humanidade, verifica-se que eles sempre estiveram presentes em vários tipos de culturas, porém, num primeiro relance passam despercebidos, já que a denominação serial killer foi criada somente há algumas décadas atrás.
Os serial killers sempre estiveram por aí e a humanidade não conseguiu suprimir esse comportamento tão maligno da nossa convivência. Contudo, no último século, o avanço na área da psicologia, criminologia e investigação policial propicia fundamentos para uma mudança nesse panorama.
1 QUEM SÃO OS SERIAL KILLERS: ASPECTOS GERAIS E PSICOLÓGICOS
Os assassinos seriais possuem ligações com a psicopatia e a psicose, que são desvios mentais distintos. A psicose é uma doença mental que provoca alteração na noção da realidade, ele vive num delírio e sofre alucinações, ouvindo vozes e tendo visões bizarras. As formas mais conhecidas de psicose são a esquizofrenia e a paranoia. Por outro lado, a psicopatia afeta a mente do assassino de forma diversa. Não cria nenhum tipo de ilusão na mente, porém suas perturbações mentais os fazem ser frios e sem empatia. Basicamente o serial killer psicopata vive uma vida dupla, mantendo uma aparência voltada para a sociedade, muitas vezes sendo uma pessoa gentil, racional e que interage com o meio social. Contudo, nem todos os assassinos seriais pertencem sempre a um desses dois grupos, mesmo que as estatísticas indiquem que a maior parte deles se encaixa neles (Guimarães, 2018).
A característica mais marcante do psicopata é ausência de empatia, pois possuem um vazio emocional e buscam emoções fortes de forma impulsiva, desprezando as relações humanas e a consequência dos seus atos. Ele busca uma posição de superioridade, quer demonstrar que tem o poder e controle e faz isso degradando e humilhando suas vítimas (Guimarães, 2018).
Assim, os assassinos em série são divididos em quatro tipos (Guimarães, 2018):
1. visionário: são os psicóticos, que matam como resposta às vozes ou visões que lhe exigem que cometam os crimes;
2. missionário: acredita que a sociedade deve se livrar de determinadas categorias de pessoas (homossexuais, prostitutas, mulheres, crianças), pois crê que estas são o mal do mundo;
3. emotivo: obtém prazer no planejamento do crime e mata por pura diversão;
4. sádico: é o que busca satisfação através do sofrimento das vítimas, mediante tortura, mutilação e homicídio, os quais lhe trazem prazer sexual.
2 ORIGEM DO COMPORTAMENTO HOMICIDA EM SÉRIE:
O avanço da psicologia, impulsionada pelos estudos de Carl Jung e Freud, permitiu perquirir sobre a origem dos atos humanos e especialmente os atos cruéis. Tais causas fazem referência a abuso infantil, seja psicológico ou físico ou sexual, influência genética, desequilíbrio químico na área mental, dano cerebral, exposição a eventos traumáticos e insatisfação acerca de “injustiças sociais”. Vale destacar novamente que nem toda pessoa que tenha vivenciado algumas dessas referências necessariamente se tornará um psicopata (Casoy, 2014).
Frise-se que nos casos estudados sobre os serial killers, sempre há identificação de alguns desses aspectos indicados como causa, mas não é uma correspondência sempre certeira. A origem do comportamento de cada serial killer é muito peculiar, porém, apresentado muitos traços comuns entre eles. Mas o certo é a tendência deles de repetir no futuro as causas da sua origem assassina, porém passando da posição de “vítima” para autor (Rámila, 2012).
3 INVESTIGAÇÃO
Os crimes praticados pelos assassinos em série possuem um roteiro, de acordo com a natureza de cada um deles, já que nem todos atuam da mesma forma, porém, todos querem o mesmo fim: matar. O ciclo do crime do assassino em série, tem um começo, meio e fim, alocado nas seguintes fases (Guimarães, 2018):
1. fase aura: o serial killer começa a se distanciar da realidade.
2. fase de busca: o assassino inicia a seleção da possível vítima.
3. fase de caça: a vítima foi selecionada e o assassino faz contato com ela.
4. fase da captura: momento em que a vítima é subjugada pelo assassino.
5. fase do assassinato: assassino dá vazão ao seu instinto sádico e homicida.
6. fase da depressão: após toda emoção do crime, a tensão homicida é reduzida e em seguida algum agente estressante faz reiniciar todo o ciclo do crime.
A explicação psicológica para que um assassino em série repita o ciclo é a de que o mesmo, ao cometer o crime, apenas ritualiza e fantasia a vítima como se fosse a representação de alguém que o humilhou no passado, a ausência do pai, um abuso sofrido na infância.
4 ANÁLISE DO CRIME
A conservação da área onde foi cometido o crime é providência que deve ser observada para a investigação de qualquer espécie de crime, por óbvio. Nesse local serão observados elementos e avaliados objetos que possibilitem a reconstrução da sequência dos atos do assassinato, bem como, evidências que identifiquem a vítima e o agressor (Schechter, 2013).
Aqui, o investigador deve buscar pensar como o assassino para entender como e porquê se deu o evento. Portanto, a preservação do local do crime é de suma importância, do contrário, qualquer alteração do estado das coisas pode interferir negativamente na conclusão final (Guimarães, 2018).
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.
Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos (BRASIL, 1941).
Tal preocupação, como se vê, foi inclusive expressa na legislação, tamanha importância para a investigação e solução dos crimes. Contudo, mesmo com toda essa preocupação legal algumas considerações devem ser feitas, especialmente quando o local a ser analisado for aberto e sujeito a interferências de ordem variável, como, por exemplo (Tendlarz, 2013):
1. atuação da própria natureza pode mexer nas evidências e localização original de objetos e corpos (ex: vento, chuva, animais);
2. a presença das próprias pessoas investigando, jornalistas, podem contaminar a cena, de modo que, é prudente permitir o acesso ao local somente de pessoas que sejam necessárias ali;
3. deve haver paciência na coleta de indícios, seja por eles serem frágeis ou por poderem passar despercebidos.
As principais observações que devem ser extraídas dessa investigação sobre o local do crime são: a organização do crime, modus operandi e assinatura. A organização do serial killer é um reflexo da sua personalidade, portanto ao se trabalhar sobre a cena do crime, pode-se traçar que tipo de pessoa está envolvida no evento. Um serial killer organizado geralmente possui as seguintes características: tenta esconder o corpo da vítima, limpa a cena do crime, segue as notícias relativas ao crime que cometeu, demonstra controle durante a execução do crime, tem como alvo pessoas desconhecidas e consegue estabelecer relações sociais aparentes e sabe ser simpático (Guimarães, 2018).
No tocante ao modus operandi, quando da análise da cena do crime, deve-se visualizar se há algum tipo de arma no local ou identificar qual foi utilizada, local selecionado pelo agressor e outros elementos que identifiquem a forma de agir. O modus operandi nada mais é do que o padrão utilizado pelo assassino no cometimento dos seus crimes. É a escolha do método por ele utilizado quando pratica o crime: como ele escolhe a vítima, a sequestra, subjuga, tortura, mata, esconde o corpo (Roland, 2014).
Por fim, a assinatura refere-se a uma característica do assassinato que reproduza alguma particularidade psicológica do assassino em série. A imensa quantidade de filmes, livros e séries sobre o tema criou no imaginário popular de que o serial killer sempre deixa alguma marca nos crimes, seja escrevendo algo no corpo da vítima ou deixando algum objeto peculiar na cena do crime (Guimarães, 2018).
 5 A CONFISSÃO DO ASSASSINO
Muitas vezes, a despeito de todos elementos probatórios obtidos durante a investigação, a condenação do assassino em série necessita de uma confissão. Mas obter uma confissão não é tarefa fácil, pois normalmente um criminoso, inclusive os psicopatas, não tem a intenção de serem descobertos, prezam por sua liberdade e evitam assumir a autoria para evitar as consequências dos seus terríveis atos. Por isso, o investigador deve saber com quem está lidando. Há uma importante exigência de que ele saiba dos detalhes do crime, da possível história por detrás dele e a constituição psicológica do suspeito (Guimarães, 2018).
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os serial killers não são um fenômeno recente na história da humanidade, porém, passaram a ganhar destaque a partir do século passado, seja pela exposição midiática, seja, como muitos afirmam, pelo aumento da sua ocorrência. O modo como o serial killer dá vazão ao seu desejo assassino é um ritual, uma representação de tudo aquilo que o fez tornar ser o que é. É uma repetição dos traumas, porém, com inversão de papéis de vítima para algoz, como se fosse a encenação de uma vingança com o passado.
Percebe-se, aparentemente, seja tudo uma relação de causa e efeito. Um mal cometido no passado será repetido no futuro, algo como o conceito do eterno retorno formulado por Nietzsche, de que a vida, no futuro, sempre repetirá o passado. Mas não é tão simples assim. Não existe uma certeza matemática de que uma pessoa que passe por um evento traumático ou que tenha certas anomalias cerebrais irá se converter em um homicida. E é essa incerteza que complica há séculos uma conclusão sobre o porquê de algumas pessoas virarem criminosas, vivendo em condições semelhantes, e outras não.
Por todo exposto, pode-se concluir que o serial killer nada mais é do que a encarnação de tudo o que é podre na sociedade, é o reflexo de todo mal que existe por aí e muitas vezes fazemos questão de ignorar. A consciência disto é o primeiro passo para mudar esse panorama e encontrar uma saída.
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Presidência da República. Código de Processo Penal. Disponível em: . Acesso em: 16 jun. 2018.
CASOY, Ilana. Serial killers: louco ou cruel?. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2014.
GUIMARÃES, Rafael Pereira Gabardo. O PERFIL PSICOLÓGICO DOS ASSASSINOS EM SÉRIE E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL, acesso em: http://www.revistas.pr.gov.br/index.php/espc/edicao-2-artigo-5.
RÁMILA, Janire. Predadores humanos: o obscuro universo dos assassinos em série. São Paulo: Madras, 2012.
ROLAND, Paul. Por dentro das mentes assassinas: a história dos perfis criminosos. São Paulo: Madras, 2014.
SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2013.
TENDLARZ, Silvia Elena; GARCIA, Carlos Dantes. A quem o assassino mata? O serial killer à luz da criminologia e da psicanálise. São Paulo: Atheneu, 2013.
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