Está chegando mais um circo, onde o povo vai brincar e esquecer a folia não tão carnavalesca que é a vida. Vestidos de uma falsa alegria, o bloco dos sonhos mutilados segue cantando as mazelas. Nessa festa não tão popular (pois pra entrar hoje em dia precisa ter dinheiro) a vida é cantada nos refrões "criativos" que soam por toda parte.
Ê ô ê ô, o cordão dos apedeutas cada vez aumenta mais. O que se percebe é uma massa que mesmo atolada em problemas, ainda consegue pular em cima da tristeza e se divertir com a ilusão oferecida e cobrada depois bem cara. Tudo tem um preço, até a fugaz alegria tem sua taxa,
a de manter a passividade enquanto no escuro caminham os reis momos, os verdadeiros foliões da avenida. Um pierrô apaixonado e uma colombina, um bêbado e uma dançarina, personagens de um sistema que se repete durante milênios. O circo sempre nos é dado, mas esquecemos que o aplauso final nunca vem para nós. O confete e a serpentina enfeitam os castelos de quem são os donos do carnaval, e para nós resta apenas uma ressaca financeira.
A praça, como disse o poeta, é do povo, mas os bancos são daqueles que podem comprar um melhor lugar para ver de longe, bem de longe o bloco dos que lutam pela sobrevivência. Na avenida desfilam gente de todas as raças e as máscaras vão caindo quando a quarta-feira chega. É nessa hora que o cansaço da folia tem que ser esquecido, pois a vida não admite festas. O sorriso farto logo começa a doer e a embriaguez eufórica tropeça na sobrevivência. No carnaval todos são iguais, até a hora em que a carteira de dinheiro é solicitada, pois quem pode pode, toma uísque e red bull, quem não pode se sacode com seus aguardentes. Nas entrelinhas da marchinha da pra ouvir um coro de abastados cantando: Tá todo mundo alegre, com o circo oferecido, o povo vai se enganando, enquanto estamos nos divertindo. E viva o Circo, onde o povo passeia pela arena pra divertir seus domadores.