Érika Joely Casaes de Jesus Lima¹

Sabe-se que o tubarão branco, foi classificado como o maior predador dos oceanos. Possui a capacidade de captar as batidas do coração de sua presa a distância ou sentir o cheiro de uma gota de sangue sobre a água. Uma das suas características mais marcantes são o individualismo e a instabilidade; Desde o ventre, o mais forte devora os seus irmãos mais fracos, com o objetivo de garantir melhor o seu espaço, tornando-se filho único.
Contudo, peixes de espécies mais comuns, como sardinhas barracudas, badejos, vivem em cardumes, não tem a hostilidade e o instinto agressivo como os dos tubarões nadam sempre juntos tentando sobreviver às intempéries dos oceanos. Não atacam, mas na maioria das vezes, acabam sendo devorados por eles.
Refletindo sobre a maneira de avaliação da qualidade de Instituições Superiores de Ensino, pensei o quanto nossos predadores (pois, nesta perspectiva somos peixinhos!) podem se não matar, ferir de morte uma universidade. São exigidos profissionais capacitados, porém, principalmente para Instituições privadas, poucas oportunidades são oferecidas.
Todos os peixinhos que participam da comunidade acadêmica, na maioria das vezes, têm seu nado cerceado, caso resolvam nadar contra maré, ou seja, posturas políticas ou ideológicas contrárias custarão perseguições, advertências, ou problemas ainda maiores, porque os tubarões mudaram apenas de idade ou de oceano, pois mesmo depois da década de 70, ainda existem resquícios do regime militar e as garantias individuais para o exercício da liberdade muitas vezes permanecem apenas no papel.
Ensaia-se a nados bastante curtos, e com cardumes muito pequenos, o exercício da democracia à frente deste sistema. Mesmo que novos paradigmas apontem para uma gestão onde todos os peixinhos participem ativamente na tomada de decisões, cumpra o papel social e político e assimile todo o aprendizado que uma experiência como esta possa proporcionar, esta postura ainda é pouco vista; muitos peixes, dos cardumes mais privados, aquários talvez, acreditam que uma postura como essa pode separar o cardume e, em outros cardumes abertos, públicos, acabam emplacando na burocracia, tão grande quanto o oceano. Há que se lembrar ainda dos peixinhos que sonham em virar tubarões! Há esses peixinhos deliciosamente soberbos... Estão muito mais preocupados com a manutenção e/ou conservação de privilégios do que com o avanço e a propagação de conhecimentos necessários à vida nos mares. Sufocam-se nas redes das vaidades, teorizam muito, mas colocam em prática muito pouco, não objetivam a construção do bem comum, que é ajudar os peixes mais novos a tornarem-se aptos para viver no oceano e analisar as situações com criticidade e discernimento.
O fato é que, nossos cardumes estão se degradando e perdendo a qualidade, muitas vezes justificados pelo ingresso de peixinhos de baixa formação, falta de manutenção dos cardumes ou investimento na qualificação dos peixes maiores. Esta mentalidade excludente (de tubarões) não analisou que nossos cardumes sofreram mudanças desde a década de 50 até hoje. Nesse período, o objetivo era o desenvolvimento nacional, mais tarde, na década de 70 objetivava tecer críticas sobre o modelo político e social vigente e na década de 80, iniciava-se uma grande crise por falta de projetos que norteassem a própria ação institucional, gerando sentimentos de decepção, apatia e consequentemente perda de qualidade.
Cabe agora pensarmos se o caminho mais correto é nos devorarmos um a um pela luta de espaço, adotando desta forma a postura individualista dos tubarões ou, mesmo que, em pequenos cardumes, adotar posturas que favoreçam a construção de um oceano mais participativo e de qualidade. Muitos ainda dependem da ação dos peixes como fonte de alimento e qualidade de vida. Resta saber até quando.

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¹ Formada em Pedagogia pela Faculdade São Francisco de Barreiras, pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior. [email protected]