Ela desconfiava de tudo! do passo atras do seu, das marcas de dedo na vidraça,  dos sorrisos falsos...de tudo. 

Saltava  dois pontos antes, para não ser seguida; disfarçava, subia ladeira, cruzava rua, não fazia contato visual, com ninguém.

E assim ia vivendo, como um coelho esperando para ser retirado da cartola. Quanto menos chamasse a atenção, melhor. Quase uma sombra, esgueirando-se para não ser vista. E assim ia caminhando, sempre do lado direito da rua, do lado certo da vida.

O que não podia se quer imaginar é que todo lado tem mais de uma lado, e às vezes um lado errado, um lado esquerdo. 

A porta gitratória travou. E todos os medos e desconfianças vieram à tona; 

-Isso é só comigo!

O carro enloquecido que patinara na poça dando-lhe um banho, fora de propósito.

O que não esperava, nem em sonhos desconfiava é que naquele fim de tarde um estranho não a assustaria. Os olhares se cruzariam, no relance do retrovisor embaçado. Uma vez, duas vezes....e esse ponto que não chega. 

-Não é pra mim que está olhando!, ninguém olha pra mim (...); mas era sim; chega seu ponto, a vontade era de sair pela janela; 

Aproxima-se da porta de saída, tropeça no degrau, quase cai. Olha para trás,  ele sorrir iluminado pelos faróis do sentido contrário.

Desce, não olha pra trás, desacelera o passo, o ônibus passa, a porta aberta, ele acena e mais uma vez sorrir. Não responde, abaixa os olhos, aperta o livro conta o peito e caminha devagar, sem mudar o caminho.

A rua é uma mistura de sons, luzes, e passos apressados. Mas não tem pressa de voltar. Pode até voltar  para casa, mas jamais para si mesma. Finalmente chegou a outro lugar. Um novo lugar,  onde nunca havia estado antes.