Parte 3 – A massificação do indivíduo.

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 Enquanto o individuo for massificado e seus desejos primários individuais e egoístas forem denominados ideologicamente de felicidade a somatória maior dos indivíduos jamais se beneficiaram da dignidade que lhes é direito.

 Ninguém questiona o direito universal de ser feliz, mas sim o conteúdo deste preceito, ou seja:

                             - O que é em suma isso que chamam ser feliz?

  Realizar as pulsões egoístas de acumulo financeiro? Adquirir propriedades privadas em um planeta que pertence a todos?

 O simples questionamento deste dogma moderno, a felicidade, já demostra a fraqueza do argumento que sustenta que, tanto a injustiça social, quanto a violência, e o mal estar coletivo são causados por pessoas que tendo todas as oportunidades para serem felizes optaram por uma vida a margem de nossa tão justa e inclusiva sociedade. Todavia sabemos que a maioria da sociedade é composta de excluídos e que a ausência de esforço por parte daqueles que são vitimados pelo sucessivo fluxo de realização dos desejos egoístas do prazer de uma minoria social, se dá em parte, por impossibilidade de desvelamento do conteúdo ideológico encoberto pela ideia inquestionável de felicidade.

 Por exemplo: um jogador de futebol comprar um iate de 1 milhão de dólares é uma realização pessoal, um sinal que sua carreira vai muito bem, pois foi possibilitada pela meritocracia e portanto é inquestionável.

 Já o pobre deve ser feliz com o que tem, ou seja, com nada. Ou então quando perceber a injustiça do sistema fica tachado de revolucionário. Se agir segundo o desespero é perseguido como um cachorro. Se preso por furtar manteiga no supermercado estampa como exemplo de deformação de caráter a primeira página dos jornais do dia seguinte. Engraçado se você é rico e não pensa no bem estar dos outros, você está certo. Se você é pobre e pensa em si mesmo é ladrão? Isto não faz o menor sentido para mim, e para você?

 Muitos que hoje ocupam nosso sistema carcerário tiveram sua primeira consulta médica na prisão, receberam sua primeira identificação como prisioneiro fichado, tendo agora pela primeira vez um teto sobre sua cabeça e algo para comer que não foi conseguido no lixo. Como cobrar deles a humanidade que não lhes foi oferecida?

Uma pessoa só pode dar o que tem. Alguém errou antes com eles não oferecendo a oportunidade de se alimentarem em seu período de formação intrauterino, alguém errou quando ele não foi protegido do alcoolismo e da violência no lar, subnutrido vai à escola para comer só isso nada mais. Afetado pelas drogas que nunca tomou, mas que correm nas suas veias como herança do pai que não conheceu. Tem dificuldades extremas e nenhum incentivo. Este é o perfil da maioria dos nossos detentos, que podemos resumir em poucas palavras: desassistência do Estado. A cada quatro minutos, nasce uma criança pobre no Brasil, e você ainda está planejando trocar de carro. Depois não reclame quando ele vier de toca tomar seu relógio e acabar levando a sua vida. Eles não foram treinados pelas Farc nem pelo Taliban, são o resultado de um Estado omisso e de uma sociedade egoísta que busca o prazer a qualquer custo, sem responsabilidade com o semelhante, tendo como objetivo apenas a auto realização. Alimentam cachorros com rações mais caras do que a comida que eu compro para meus filhos. Pagam por tratamentos estéticos valores que salvariam vidas que são perdidas todos os dias por falta de atendimento médico nos corredores. Blindem seus carros, comprem câmeras, nada disso vai adiantar vocês ainda morrerão de medo quando alguém na rua lhes perguntar as horas. Vocês não são felizes, ninguém é feliz. Estamos destruindo a esperança a cada parcelamento no cartão.