Quando senti na pele como se morrem os passarinhos
Publicado em 26 de dezembro de 2011 por creumir guerra
Creumir Guerra
QUANDO SENTI NA PELE COMO SE MORREM OS PASSARINHOS
Eu não rompi a relação que mantenho com meu tio que mora em Boston-MA-EUA por que tenho medo que ele se jogue nas aguas turvas do Rio Manteninha. Na ultima vez que sai aqui da roça para visita-lo no estrangeiro ele não foi nem na rodoviária me buscar. Ainda bem, por que eu cheguei pelo aeroporto, que fica a menos de uma légua da casa dele. A pressa é inimiga da procissão, como diria o velho Chico Anísio. Depois de uma noite dentro do avião estava doido para chegar, me encontrar com o tio de braços abertos e com sua van com o porta malas escancarado para mim. Chegamos, Dalvani e eu, e nada de tio. Peguei as malas e as coloquei no chão. Disse a Dalvani que era para vigiar as bagagens para eu ver o local onde estavam estacionados os taxis. Segui o corretor, como já fizera antes quando o meu tio também não foi me buscar, andando de passos largos. Empurrei uma porta de vidro de duas bandeiras, com aquelas barras de proteção, e avistei a área onde ficavam os taxis. A porta, a maldita porta. Não tinha aduelas. Não tinha maçaneta e nem mesmo um sujinho sequer. Acreditei que se tratava de um lugar de passagem livre, do tamanho de uma porta 0,80x2,10. Avancei com tudo para cima daquele vão e senti no nariz como se morrem os passarinhos. O nariz foi o primeiro a chegar ao vidro e senti os miolos chocalhar dentro do meu crânio e o sangue jorrar do nariz. Este explodiu igual tomate. Não houve corte. Voltei zonzo para onde estava a Dalvani e ela se assustou quando me viu com a mão cheia de sangue levada ao rosto. Nesta hora bolsa de mulher vale para alguma coisa. Ela sacou de lá uma toalhinha e me deu para estancar o sangue do nariz. O segurança do aeroporto me aconselhou a procurar o serviço médico do estabelecimento, mas eu não dei nem bola. Segurando o nariz com uma mão e empurrando um carrinho com a outra me dirigi até aos taxis. As malas foram jogadas no taxi e seguimos em direção à casa do meu tio. Ele não estava em casa e fui recepcionado pela sobrinha dele, que mora no apartamento debaixo. Ela me viu naquele estado e perguntou o que havia acontecido. Depois pegou um punhado de gelo e colocou em um pano para eu usar para desinchar o nariz. Colei um band-aid no local e o resto era questão de tempo. Chega o meu primo e pergunta: O que aconteceu com o seu nariz? Na sequencia o meu tio, a mulher do meu tio, as filhas do meu tio, o meu irmão, a mulher do meu irmão, os meus sobrinhos, o padeiro, o açougueiro e a torcida do flamengo em Boston perguntaram: O que você arranjou que machucou o nariz? Um dos primos me disse uma coisa diferente e que eu deveria ter feito. Ele me disse que se fosse com ele teria caído ao chão, esperado a maca, aceitado o serviço medico de urgência e depois chantageado a direção do aeroporto com um pedido de indenização. Falei que a culpa era minha em não observar as coisas direito, Não, ali tinha que ter uma placa avisando que era uma porta de vidro fixa e sem um sujinho, rebateu ele.