EU sou! Mas nem sempre fui! Até aos 16 anos, não sabia exatamente que religião seguir, apesar de minha mãe ter sido criada na igreja católica e minha avó ser devota de Nossa Senhora. Foi tudo graças a uma amiga, no colegial, que me sugeriu fazer o curso de Crisma, um encontro semanal de evangelização e conscientização, ministrado por uma catequista, para jovens a partir dos 15 anos, a fim de confirmar o batismo a que fomos levados pelos nossos pais quando bebês. No começo relutei, não foi fácil, mas posso dizer que foi uma das melhores coisas que me aconteceu na vida.

Então, eu tive o meu chamado. Deus usou minha amiga como instrumento, um verdadeiro anjo que passou em minha vida, uma pessoa de fé. E hoje, posso dizer que sou muito feliz por ter escolhido um caminho para exercitar a minha fé. Aliás, a religião nada mais é do que isso, um caminho, e tenho consciência de que não existe apenas um modo de se chegar a Deus. Vários caminhos podem nos levar a um mesmo lugar...

Mas o que me revolta é o seguinte: enquanto a pessoa não se encontra na vida, se diz católica! Apronta de tudo, faz tudo aquilo que acha que tem direito de fazer e se intitula católico. Até que um dia, a criatura também tem o seu chamado, assim como eu, diz que se converteu, se torna evangélica e começa a criticar os católicos, como se fossemos a escória do mundo (aliás, é assim que nos chamam, “do mundo”) e eles, os donos da verdade, como se apenas o caminho escolhido por eles levasse a Deus, o único caminho certo a seguir.

É essa distinção, essa discriminação que me incomoda! Como disse antes, vários caminhos podem nos levar ao mesmo lugar e cada um escolhe o que julga melhor pra si, ao outro cabe apenas respeitar. Sim, respeito é a palavra de ordem! Sinto-me desrespeitada quando alguém vem tentar me converter. Não sou intolerante. Ouço tudo, leio tudo, mas não sou obrigada a concordar com tudo! Mas sou obrigada a respeitar.

E como me irrita quando dizem que nós católicos somos do mundo, como se isso fosse uma doença incurável! Se pensarmos minimamente, é fácil concluir que somos todos do mundo, e que o mundo é o mesmo pra todos. E que esse mesmo mundo se apresenta pra nós cada dia mais complexo, cada vez mais cheio de diversidades. Agora, cabe a cada um de nós decidirmos o que fazer com as informações que recebemos: fugir ou encarar.

Certa vez ouvi a uma frase que mexeu muito comigo, não me recordo agora quem disse, mas diz o seguinte: “Não há glória nenhuma em vencer o pecado, sem conviver com ele”. Nesse mesmo sentido, ainda ouvi que “os melhores produtos são testados exaustivamente antes de serem colocados no mercado”. A partir daí concluí que não adiante fugir do mundo ou criar um universo particular, a tentação está em todos os lugares e, sem conhecê-la, como vencê-la? Posso muito bem ir a uma festa e me divertir sem ter que beber, fumar, me drogar ou transar com o primeiro que aparecer! Deus nos fez criaturas livres, mas, saber o que fazer com a liberdade, é dever de cada um! Liberdade com responsabilidade. Agora, quem não sabe lidar com isso, é melhor nem sair de casa mesmo...

Lembro-me que quando era criança, tinha umas amiguinhas evangélicas de uma “linha” bem radical, em que as meninas usavam cabelo comprido até a bunda e saia comprida até os pés, não assistiam televisão e não comemoravam natal. Ah, elas também não podiam brincar com meninos. Na época, eu não entendia por que não tinham TV em suas casas, mas elas vinham em casa assistir. A parte do natal era triste, prefiro pular. Mas a parte da saia... Conforme as meninas iam crescendo, as benditas saias iam encurtando e o racho (das saias) aumentavam numa altura que jamais ousei usar! Pra encurtar a história, posso dizer que as “podas” que as meninas sofreram não serviram de nada e que suas vidas não tiveram desfechos felizes.

Tudo isso só pra dizer mais um defeito grave que alguns evangélicos têm: a hipocrisia! Aquela bendita mania de apontar no outro, coisas que também fazem e defeitos que também têm, como por exemplo, a roupa que veste, a música que ouve, o programa que assiste, como se fossem a palmatória do mundo. Concordo que atualmente as coisas estão meio complicadas, as musicas estão um lixo (cada dia piores) e a televisão dita uns padrões de comportamento um tanto quanto questionáveis, mas, será que não somos capazes de absorver somente aquilo que é bom? Se até o joio e o trigo crescem lado a lado...

Quero deixar bem claro que não se trata de um manifesto contra todos os evangélicos indistintamente, mas contra o desrespeito praticado por alguns deles, contra os católicos. Sei que aqueles que não se comportam assim não se sentirão ofendidos e certamente me entenderão. Quero dizer também que alguns de meus amigos mais especiais são evangélicos, pois sempre soubemos nos respeitar e entender as convicções uns dos outros. Tudo é uma questão de valores. Se os valores são os mesmos, todos nós, cristãos, podemos caminhar lado a lado e, mesmo que em caminhos diferentes, convergiremos no mesmo ponto.

Só pra encerrar, não somos melhores ou piores que ninguém por sermos dessa ou daquela religião. Vários caminhos podem nos levar a um mesmo lugar. E, no final, é salvo aquele que verdadeiramente se arrepende.