Inventamos os setes pecados capitais para pecarmos, porque é impossível ignorar algum deles. Inventamos sim, temos quer ter regras e condutas, pois se ficarmos soltos com total liberdade, vamos nos aprisionar numa permissividade incontrolável.
Somos o que comemos e o que pensamos, mas se alguém se atrever a entrar na cabeça de outro, certamente irá compartilhar dos mesmos infernos e conhecerá seus mesmos desejos e ódios. Cada cabeça é um mundo e cada gesto pode ser condenado; portanto vivemos sempre numa linha tênue que separa o bem e o mal. Quem vai dizer o que é errado? Nós mesmos somos nossos promotores e advogados, afim de algum modo tentar uma convivência civilizada, sem invadir os direitos do próximo e obedecer alguns deveres.
As religiões inventam condenações, perpetuam suas ordens, criam diretrizes e nos empurram suas vontades, com o intuito de domesticar o animal que vive em cada homem. Sem os pecados e sem o perdão, estaríamos soltos, livres pra cometer o que não seria condenável. Obedecemos a uma sociedade e deixamos dormindo nossos extintos, mas é provável que em algum momento da vida ele desperte. A preguiça; a luxúria; a gula; a inveja, o orgulho; a avareza; a ira; de alguma maneira sentiremos em nosso âmago algo acima citado. Claro que somos todos passíveis de erros, mas até pecar faz bem para nos manter vivos. O mundo platônico não duraria muito, é enfadonho viver sem os tropeços morais, mas pra tudo há um limite, cometer pecados pode, "ma non troppo".
Aquele que nunca pecou que atire a primeira pedra, ou melhor, que a guarde para si próprio, pois certamente irá cometer. Não acredito em santos nem em demônios e sim em homens com instintos e bichos ferozes dormindo nas entranhas dos desejos.


MÁRIO SÍLVIO PATERNOSTRO