Valls, Álvaro L. M. O que é ética. 9. Ed. São Paulo: Brasiliense, 2005. (Coleção primeiros passos, 177)

Wemerson Leandro de Luna

(Acadêmico de Direito da Faculdade de Filosofia, Ciências e letras de Cajazeiras, Extensionista do Projeto Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: desafios e possibilidades)

 

Resumo

 

As discussões sobre ética são intrínsecas do ser humano. Desde a Grécia, dos grandes pensadores até os dias atuais, com um pensamento tão ramificado e diverso, discutir sobre ética é refletir sobre a essência humana. A ética tem um amplo campo de alcance e ao decorrer dos tempos suas reflexões e estudos variaram de acordo com o processo natural do conhecimento. A ética ocupa-se de discutir ideais supremos, como a liberdade; o bem e o mal; a justiça; assim como o agir e as ações humanas. Seus estudos são frutos de uma reflexão teórica, que pode ser mais voltada ao empirismo (análise de casos concretos) ou a uma abstração, especulação teórica. Como a ética aborda o homem, e muitas vezes sobre seus costumes, surge o problema de universalizar suas reflexões, pois os costumes podem mudar. A resposta encontrada se trata de tentar sempre universalizar as teorias, sem esquecer do concreto e tentar juntar o que seria comum entre as variações. Adentrando nas discussões éticas, pode ser citado o nome de Sócrates, apontado como o primeiro grande pensador a refletir sobre o homem e seus comportamentos. Sendo considerado o “fundador” da moral, pois esquematizou, criou um conjunto entre os elementos que hoje entendemos como moral. Sócrates trouxe esse aspecto da interiorização, da preocupação com o indivíduo. Kant já muitos séculos depois, retornou com muita força as discussões de Sócrates. Colocando o homem no centro, Kant se preocupou em revelar uma ética universal, que buscasse apoio na igualdade entre os homens.  Para ser atingido essa ética, ele defendia o alto uso da razão para que se formasse uma moral racional. Por meio do imperativo categórico o homem deveria se questionar se o seu agir teria validade universal.

O pensamento na Grécia antiga foi basicamente distribuído nos três grandes pensadores: Sócrates, Platão e Aristóteles. Embora não sejam os únicos, são os que expressam uma análise e reflexão que viera a influenciar todo o pensamento atual. A análise grega parte sobre a pesquisa do bem moral e uma busca de conduta absoluta, influenciadas pela religião da época. Platão em Diálogos parte da ideia de que todas as pessoas buscam a felicidade. Mas ele não defendia uma felicidade apenas individual, mas sim a busca do Sumo Bem. Em outros textos ele repudia a vida exclusiva para usufruir dos prazeres terrenos e acredita que há vida após a morte. A partir deste pensamento, Platão afirma que é necessária a busca de um bem supremo e que o instrumento dessa busca seria a contemplação das ideias, por meio da dialética.  Aristóteles discípulo de Platão desenvolveu uma avançada análise empírica. Aristóteles parte da relação de que como os seres são variados, os seus respectivos bens (bem) também variam, não há um bem supremo, ou superior, como dizia Platão, existiria sim, a busca, de acordo com o indivíduo e seus caracteres, as virtudes que lhe fossem interessantes, guiadas pela razão.

A questão da ética com a religião é algo indissociável, desde os gregos com sua religião ligada as forcas da natureza, havia a preocupação de seguir uma lei moral/natural. Com as religiões monoteístas, houve uma mudança significativa, pois em vez do homem seguir um padrão natural, ele passa a seguir a orientação de um deus pessoal, em que se busca o aperfeiçoamento e educação humana, tendo como base orientadora o Deus pessoal. A religião teve a função de trazer as discussões éticas para o lado subjetivo, do individuo em contraposição do ideal grego de coletividade. Na idade contemporânea houve duas tendências: a de se buscar uma ética laica, fundada na razão e a conciliação entre a reflexão ético-filosófica e a teoria da revelação. Marx defende uma moral revolucionária.

Os ideais éticos variaram ao longo do tempo e do espaço. Platão defendia a busca teórica e prática do bem supremo, relacionando se fosse possível com a realidade. Aristóteles privilegiava capacidades superiores sem desconsiderar as particularidades do indivíduo. Outros defendem a vida de acordo com uma lei cósmica, ordenada. Ideia que foi “usurpada” pelo cristianismo. Os Epicuristas defendiam a busca dos prazeres. No regime Cristão a espiritualidade e a busca de agir conforme o Deus pessoal, foi dificultado pelas dicotomias existentes.No Renascimento e Iluminismo houve a ideia de seguir a liberdade individual, que segundo Kant seria guiada pela razão. Hegel admitia que o ideal ético fosse viver dentro de um Estado de direito. Com a forte individualização a ética, valores e princípios religiosos se tornaram cada vez mais particulares. Em observação do movimento de massificação, os indivíduos estão se tornando cada vez mais sujeitos passivos, sem liberdade.

A discussão da liberdade é altamente ligada a ética. Junto a ela é feita a comparação entre dois extremos, o determinismo e a liberdade total, incondicional. É afirmado que quando o determinismo é total não existe ética, pois os comandos da ação humana são externos. Neste caso há liberdade mínima. Se reveste algumas vezes na figura do fatalismo, do Deus dominador e da natureza “dominadora”. A liberdade total e incondicionada também acabaria com a ética, pois a mesma que não tivesse alguma norma, ou limite e que fosse abstrata, somente especulativa, sem ter aplicação prática e livre, não seria ética. Hegel traz a liberdade para os dois aspectos: exterior e interior, garantidos por um Estado de direito. Kierkegaard trata da angústia que é fruto da liberdade, da possibilidade de escolha.

Agir eticamente é agir de acordo com o bem. E o indivíduo ético é aquele que resolve ditar seu comportamento a partir da escolha entre o bem e o mal, é a aquele que escolhe o bem em detrimento do mal.

Para Adorno, a ética atualmente foi reduzida para o âmbito do particular. A ética antes ocupava um espaço mais amplo, coletivo, contemplava a ideia do bem comum. Kant teve o mérito de situar a preocupação moral no indivíduo, pois o mesmo é a base. E Hegel traz uma solução prática ao localizar os problemas éticos, são eles: a família, a sociedade civil e o Estado. No âmbito familiar várias questões surgiram com as evoluções histórico-sociais, e as mesmas clamam por uma fundamentação. Na sociedade civil problemas como a propriedade, com novos enfoques, ainda levantam questionamentos. Problemas sociais como o trabalho, e as dicotomias dos sistemas econômicos. A reflexão sobre a atual forma ética e política do país e dos indivíduos precisam ser reestruturados. A questão do Estado ainda é muito complexa. Hegel prega o Estado de direito como forma de liberdade do indivíduo. Outro questionamento é a de que os Estados seriam instrumento a favor do bem comum, ou de dominação por um grupo elitista. As questões da massificação e do controle de opinião também entram em cena atualmente. Cabe a todos, buscar uma solução para essa desestruturação que está ocorrendo.

Palavras-chave: Ética. Indagações. Liberdade. Histórico.