Carta Dedicatória

Maquiavel dedica sua obra a Lorenzo de Medici (Lorenzo II), neto de Lorenzo, o Magnífico; apesar de pouco tempo antes ter sido preso e torturado, sob suspeita de participar de uma conjura contra os Medici, mas teve sua inocência reconhecida.

Quando Maquiavel foi apresentar Il Principea Lorenzo II em 1515, este o acolheu com frieza.

Diz na dedicatória

"Embora julgue este trabalho indigno de vossa presença, ainda assim confio que, por vossa humanidade, possa ser aceito, considerando que eu não vos poderia fazer melhor presente que vos dar a faculdade de entender em muito pouco tempo o que aprendi e compreendi em muitos anos, com tantas provações e perigos para mim mesmo."

O motivo que levou Maquiavel a dedicar o livro a Lorenzo é mostrado no último capitulo da obra.

Capítulo I: Os vários tipos de Estado, e como são instituídos

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Maquiavel inicia seu livro falando sobre os tipos de Estado, que são segundo ele repúblicas ou principados, sendo estes últimos hereditários ou anexados pelo príncipe aos seus domínios – os estados novos.

"Os principados ou são hereditários, quando por muitos anos os governantes pertencem à mesma linhagem, ou foram fundados recentemente."

Capítulo II: As monarquias hereditárias

Neste capítulo Maquiavel fala que a dificuldade de se manter um Estado novo é maior do que a de se manter um Estado hereditário, pois quanto a este último, o povo já está acostumado com a soberania de uma família, de uma linhagem.

"[...] a dificuldade de se manter Estados herdados cujos súditos são habituados a uma família reinante é muito menor do que a oferecida pelas monarquias novas. Basta para isso evitar transgredir os costumes tradicionais e saber adaptar-se a circunstâncias imprevistas."

Se um príncipe conquista determinado Estado e tenta mudar seus costumes, corre o risco de o povo revoltar-se contra ele, o que pode gerar conspirações apoiadas pela grande massa – o povo. Deste modo, o príncipe respeitando a cultura local, se manterá no poder; a menos que, como diz Maquiavel, uma força excepcional o derrube, porém, se tal fato ocorrer, poderá reconquistá-lo na primeira oportunidade oferecida pelo usurpador.

Maquiavel ainda fala que na medida em que o soberano não ofende seus súditos e não mostra motivos para o povo odiá-lo, estes o quererão bem, e mais:

"[...] qualquer alteração na ordem das coisas prepara sempre o caminho para outras mudanças, mas num longo reinado os motivos e as lembranças das inovações vão sendo esquecidos."

Quando o povo vive do seu modo, com seus costumes e sendo respeitado pelo monarca, este se acomoda de tal forma que as lembranças, os desejos de mudanças vão sendo postos em esquecimento.

Capítulo III: As monarquias mistas

Maquiavel mostra neste capítulo que o povo tem sempre o desejo de mudança, desejo de melhoria; as pessoas, segundo Maquiavel, mudam com grande facilidade de governantes esperando tal mudança, que, no pensar de Maquiavel, é sempre para pior.

Para ele, o príncipe sempre precisará do favor dos habitantes de um território para poder dominá-lo. A imposição do novo governo ou provocações vindas dos soldados do monarca, ou outros motivos, podem gerar injúrias no povo, gerando, assim, inimigos para o príncipe – que são as pessoas ofendidas com a ocupação do seu território.

"[...] depois de conquistado uma segunda vez, os territórios rebeldes não voltam a ser perdidos com a mesma facilidade. A própria rebelião faz com que o monarca se sinta inclinado a fortalecer sua posição – punindo os rebeldes, desmascarando os suspeitos, revigorando seus pontos fracos."

Quando se é conquistado um território de mesma região e língua, é mais fácil de dominá-lo do que se não os fosse, ainda mais se este povo não estiver habituado com a liberdade. O novo príncipe deve extinguir toda a linhagem de seus antigos governantes, mas não pode deixar que haja divergência de costumes; deve também o príncipe fazer a manutenção das leis e dos tributos.

Ao se conquistar uma província com língua, leis e costumes diferentes, um dos meios mais seguros, segundo Maquiavel, é que o monarca vá pessoalmente habitá-lo. “Estando o soberano presente, os distúrbios serão logo percebidos e rapidamente corrigidos.”. Outra forma seria de se estabelecer colônias em um ou dois lugares estratégicos na província, tomando as casas das pessoas que vivem neste local – por ser uma pequena parte da população, em nada representarão perigo ao monarca. A grande maioria da população também não fará mal ao príncipe, ao contrário, se sentirá grata pelo fato de o monarca os deixar em paz e não quererão ofender o soberano.

Disse Maquiavel: “Note-se que é preciso tratar bem os homens ou então aniquilá-los. Eles se vingarão de pequenas injurias, mas não poderão vingar-se de agressões graves; por isso, só podemos injuriar alguém se não temermos sua vingança.”

O príncipe de um território estrangeiro deve liderar e defender seus vizinhos mais francos e procurar debilitar os mais poderosos. Não há dificuldade para se conquistar um território onde – movidos pela inveja dos que tinham o poder – os habitantes menos poderosos apóiam o invasor; porém deve-se ter cuidado para que estes não adquiram poder e autoridade em demasia.

Disse Maquiavel: “... as guerras não podem se evitadas e que, quando adiadas, só trazem benefícios para o inimigo.”. A guerra é inevitável, então, quando se tem a oportunidade de enfrentar o inimigo, deve-se enfrentá-lo, quanto mais se adia uma batalha, mais o inimigo fica preparado, portanto, adiar uma guerra só traz sempre prejuízos ao monarca.

Capítulo IV: Por que o reino de Dario, ocupado por Alexandre, não se rebelou contra os sucessores deste, após a sua morte

Sempre os reinos foram governados de duas formas: por um príncipe e seus assistentes; ou por um príncipe e vários barões, esses barões são ligados ao príncipe por laços de natural afeição. Estes que estão de junto ao príncipe, são os nobres, os prestigiados; mas dentre esses sempre há quem aspire por inovações. Estes podem abrir caminho para um invasor tomar o poder, facilitando sua vitória, vê-se assim que depois não bastará aniquilar apenas família do príncipe, mas também os nobres que estarão sempre prontos a liderar novas revoluções.

Capítulo V: O modo de governar as cidades ou Estados que antes de conquistados tinham suas próprias leis

Ao se dominar um Estado acostumado com a liberdade, e com suas próprias leis, Maquiavel mostra três formas e mantê-lo: primeira, arruinando-o; segunda, habitando-o (ver capítulo III); terceira, permitindo-lhe que viva seguindo suas próprias leis, pondo-lhe tributos e pondo ali um governo de poucas pessoas que sejam mantidas amigas.

"[...] a cidade habituada à liberdade pode ser dominada mais facilmente por meio dos seus cidadãos do que de qualquer outra, desde se queira preservá-la."

Quem se torna o senhor de uma cidade livre, e não aniquila, pode esperar ser destruído por ela, pois sempre haverá motivo para rebelião em nome da liberdade perdida e das suas eventuais tradições, que nem o curso do tempo nem os benefícios conseguem apagar.

Por isso se diz que é melhor respeitar os costumes do território conquistado, ou então, destruí-lo. Sempre estarão na mente do povo seus antigos costumes, e, mais cedo ou mais tarde estes se revoltarão contra o que está sendo imposto, e não haverá benefício ou tempo, como disse Maquiavel, que os faça esquecer, ainda mais se o povo estiver junto.

Quando um estado está habituado a viver sob o governo de uma linhagem de príncipes que tenha sido extinta, seu povo não entrará em acordo para a escolha de um soberano; assim é fácil, pois, dominá-los, pois este povo não sabe viver em liberdade.

"Nas repúblicas, por outro lado, há mais firmeza, brio, maior ódio, e desejo de vingança; não poderão abandonar a memória de sua antiga liberdade. Assim, o meio mais seguro de dominá-las será devastá-las, ou nelas habitar."

Esses ensinamentos de Maquiavel nos mostram que o príncipe, sempre mais que tudo, deve manter o povo, diríamos talvez que, “inconsciente”, enganados com a situação de que tudo está bem e de que o príncipe é bom; quando não se pode dar essas impressões ao povo – segundo Maquiavel – deve-se aniquilá-lo para que o poderio do monarca continue, pois caso o contrário, o povo se revoltará, derrubando o monarca.

Assim o monarca deve sempre procurar estar bem com o povo, pois este último tendo consciência ou não, é sempre a força maior; apesar de sempre ser a classe inferior. O que seria de um reino sem povo? Quem pagaria os tributos? Quem trabalharia pra sustentar os luxos do príncipe? Quem seria governado? O príncipe só é príncipe quando tem quem governar.

Capítulo VI: Os novos domínios conquistados com valor e com as próprias armas

Os homens sempre procuram seguir os caminhos percorridos por outrem, pondo em prática seus atos que deram certo e evitando praticar seus passos que não deram certo. Os que se tornam príncipes por seu próprio valor e com suas próprias armas, se tornam príncipes com dificuldade, mas mantêm facilmente seu poder. Segundo Maquiavel, as dificuldades se originam em parte nas inovações que são obrigados a introduzir para organizar seu governo com segurança.

"Vale lembrar que não há nada mais difícil de executar e perigoso e manejar (e de êxito mais duvidoso) do que a instituição de uma nova ordem de coisas. Quem toma tal iniciativa suscita a inimizade de todos os que são beneficiados pela ordem antiga, e é defendido tibiamente por todos os que seriam beneficiados pela nova ordem – alta de calor que se explica em parte pelo medo dos adversários, quem têm as leis do seu lado, e em parte pela incredulidade dos homens."

Quanto a isso, Maquiavel diz que a natureza dos povos é lábil: é fácil persuadi-los de uma coisa, mais é difícil que mantenham sua opinião. E que convém ordenar tudo de modo que, quando não mais acreditarem, se lhes possa fazer crer pela força.

Quem com suas próprias armas consegue algo, valoriza mais do quem conquista com armas alheias.

Capítulo VII: Os novos domínios conquistados com as armas alheias e boa sorte

Quem chega ao poder em troca de dinheiro ou pela graça alheia, com muita dificuldade manter-se-á no poder. Só com muito engenho e valor poderá se manter.

"Além disso, os Estados criados subitamente – como tudo o mais que na natureza nasce e cresce com rapidez – não podem ter raízes sólidas, profundas e ramificadas, de modo que a primeira tempestade os derruba. A não ser que, conforme já disse, a pessoa que chegou ao poder tenha tanta virtude que saiba conservar o que a sorte lhe concedeu tão de súbito, estabelecendo, em seguida, as bases que os outros precisam erigir antes de se tornarem príncipes."

Chegar ao poder dessa forma, é chegar despreparado, sem raízes; quem não cuidar de procurar se estabilizar, valorizar, tornar-se astuto, perderá o Estado. Ou no caso se é possível prever, se deve suprir essas carências bem antes.

Capítulo VIII: Os que com atos criminosos chegaram ao governo de um Estado

Maquiavel cita dois exemplos de pessoas que se tornaram príncipes por meio do crime, o primeiro, o de Agátocles – após tantas traições e tão grande crueldade – que além de ter obtido êxito na conquista, conseguiu se manter no poder por muito tempo; Maquiavel explica esse fato ao de que Agátocles usou da crueldade apenas uma vez: para chegar ao poder. Chegando ele lá, foi diminuindo sua crueldade de modo a ser querido por seu povo.

O segundo exemplo é o de Oliverotto de Fermo que com tamanha crueldade chegou ao poder, e lá se manteve cruel, o que fez com que pouco tempo depois, este fosse derrubado do poder e morto por César Borgia, juntamente com seu mestre em virtudes e atrocidades Vitellozzo.

"Não se pode, contudo, achar meritório o assassínio dos seus compatriotas, a traição dos amigos, a conduta sem fé, piedade e religião; são métodos que podem conduzir ao poder, mas não à glória."

"[...] ao tomar um Estado, o conquistador deve definir todas as crueldades que necessitará cometer, e praticá-las todas de uma vê, evitando ter de repeti-las a cada dia; assim tranquilizará o povo, ao não renovar as crueldades, seduzindo-o depois com benefícios. Quem agir diferentemente, [...], estará obrigado a estar sempre de arma em punho, e nunca poderá confiar em seus súditos, que devido às contínuas injúrias,

o terão confiança no governante."

"Os benefícios, por sua vez, devem ser concedidos gradualmente, de forma que sejam mais bem apreciados."

O príncipe deve sempre agir pensando no povo, pois na verdade é o povo quem detêm o poder e a força. Com um monarca cruel, o povo se torna amedrontado e injuriado, acabando por se reunir e destruir seu poderio. Porém quando os benefícios vêm, o povo se sente feliz e quer bem o monarca, o que diminui consideravelmente a possibilidade de conspiração.

Capítulo IX: O governo civil

Na visão de Maquiavel, governo civil é governo em que o cidadão se torna soberano pelo favor de seus concidadãos.

"O governo é instituído pelo povo ou pela aristocracia, conforme haja oportunidade para um ou para a outra. Quando os ricos percebem que não podem resistir à pressão da massa, unem-se, prestigiando um dos seus e fazendo-o príncipe, de modo a poder perseguir seus propósitos à sombra da autoridade soberana. O povo, por outro lado, quando não pode resistir aos ricos, procura exaltar e criar um príncipe dentre os seus que o proteja com sua autoridade."

A dificuldade é maior de manter-se no poder o príncipe que chegou ao poder através da aristocracia do que o que chegou através do povo, pois a aristocracia se considera igual ao monarca, sendo que o soberano não pode assim dirigi-los ou ordenar em tudo que lhe apraz.

A aristocracia quer oprimir; e o povo apenas não quer ser oprimido. Quem chegar ao poder deve sempre manter a estima do povo, isso será conseguido o protegendo. O povo é quem está com o príncipe na adversidade, quem o povo está com ele, é difícil derrubá-lo do poder.

Capítulo X: Como avaliar a força dos Estados

É examinada a situação do príncipe, se este, em caso de ataque, pode reunir um exército suficiente, e defender-se; ou se não, este não podendo combater, é forçado a refugiar-se no interior de seus muros, ficando na defensiva.

[...]