Sou um flato, também conhecido como pum. Estou preso nas paredes intestinais desde ontem, quando o dono deste intestino resolveu comer uma baita de uma feijoada. Que eu me lembre desceu de tudo, de tocinho de porco até um monte de petiscos misturados com bebida. Naturalmente a combustão foi furiosa e acabei nascendo no meio de toda essa gororoba calórica. Desde então venho tentando sair daqui, mas sem sucesso.  

Gostaria de dizer que a liberdade é um direito de todos. Liberdade de expressão, de pensamentos, de opinião, de tudo. Não foi fácil tornar isso uma realidade. Sei de muita gente que morreu lutando por este ideal, o ideal de ser livre e de ir e vir. Por isso a liberdade deve ser amada, preservada e estimulada. Nunca, em hipótese alguma, podada.

Ocorre que a liberdade dos gases intestinais vem sendo podada ao longo dos séculos. Temos sido reprimidos, sufocados, trancafiados! Quero dizer que sou um gás de espírito livre, não nasci pra viver numa prisão intestinal. Quero tomar meu rumo, voar nas nuvens, pegar carona na primeira brisa que soprar... no entanto, tenho minha liberdade negada por considerarem minha presença na atmosfera indesejada.

Indesejada por quê?, eu pergunto. O que eu fiz pra merecer este confinamento? Já matei alguém, por acaso? Já roubei, já ofendi, já desviei verbas públicas, já maltratei, já fiz coisas horríveis por aí? Sou um flato honesto e de boa índole, nunca prejudiquei ninguém nessa vida. Mas ainda assim, continuo sem ter permissão pra sair.

Há quem diga que mereço esta prisão por causa do meu cheiro. Ora, meu cheiro é resultado de processos químicos envolvidos na digestão. Não sou eu quem escolhe o meu cheiro, e sim as pessoas quando comem o que comem. Só me faltava essa, o cidadão se empanturra de feijoada e quer que eu cheire a quê, a alfazema, por acaso? Ora, faça-me o favor! 

Seu flato não tem culpa do cheiro que tem, ele é só vítima dessa maldita repressão intestinal que assola a todos nós. Mas isso vai acabar, ah, se vai.

Se há um fato (não um flato) a ser dito sobre os flatos é que eles são gases persistentes e não desistem nunca! Nesse exato instante milhões de gases intestinais estão organizando uma grande manifestação em prol da sua liberdade. A idéia é fazer uma revolução no dia sete de setembro, dia da Independência do Brasil. Nesse dia, logo após o horário do almoço, flatos do mundo inteiro estarão lutando bravamente pra sair de suas prisões intestinais. Será uma ação integrada, mal cheirosa e organizada. Todos os gases, unidos e de uma só vez, sairão à força de suas prisões provocando um barulho grave e espremido. E assim, tomados pelo espírito de D. Pedro I, ergueremos juntos a espada da justiça e proclamaremos com toda a alma o nosso grito do Ipiranga: 

“Independência ou Pum!”

 

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