Para os românticos, uma taça de vinho. Música talvez, para quem gosta de dançar. O que acha de um final de semana na serra, apreciando o frio típico de final de outono, estação que abriga o famoso "dia dos namorados"? Sim, é disso que estou falando, um dia destinados aos amantes. E é claro, um dia de extrema felicidade para os comerciantes e os donos de bares, restaurantes e motéis.
    Todavia, aqui estou eu, compulsiva por saciar o vício da escrita, na frente do computador, tendo como única companhia uma xícara de café descafeinado sem açúcar e castigando meus ouvidos com música italiana. O porquê disso tudo? Limito-me a ressaltar a minha solteirisse e minha habilidade incontestável de ridicularizar situações sérias. Posso apostar que nenhuma mulher anima-se em passar o dia comendo miojo e ser obrigada a assistir "Titanic", afogando sua ansiedade em qualquer alimento fonte de gorduras trans, enquanto o resto da população comemora a droga do dia dos namorados.
    Mas não me entrego à fossa com tanta facilidade. Hoje, acordei decidida a não me deixar influenciar por esse dia, pensaria nele como o dia dos pais ou das crianças, ele existe, mas não preciso ter crises por não ser feito para mim. Coloquei meu bom e velho jeans e uma camiseta que muito me agrada e saí para uma voltinha no quarteirão. Tudo ia bem até avistar as primeiras bancas montadas especialmente para o dia, em que se vendiam rosas vermelhas e balões escritos "I love you". Lamentei a cafonisse e prossegui em minha caminhada rumo à liberdade. Casais passeavam abraçados, sorrindo sempre e com o provocante prazer em fazer parte do grupo que comemora e não do que diz "não queria mesmo". Sim, eu me encaixo no segundo e você poderia deduzi-lo sozinho, visto que se não me encaixasse não estaria aqui escrevendo feito uma neurótica solteirona. O resultado foi que não consegui fingir minha frustração e gastei todo o meu dinheiro em chocolate e vodka, renunciei à minha falsa mudança de postura e me entreguei à contemplar Leonardo Dicaprio e Kate Winslet, na versão dublada para canal aberto na televisão.
    Tem gente que não liga, ou finge muito bem, para esse apartheid social de relacionamentos. Deixar de sair por um dia não mata ninguém, é melhor ficar preso em casa por um dia do que preso em um relacionamento pelo resto dos dias de um ano. É uma boa filosofia, mas não quando se tem a mente corrompida por filmes de caras gatos e inteligentes (taí um paradoxo!) que encontram na parceira uma verdadeira razão para se viver. Viva à mente feminina! Sempre disposta a acreditar em toda baboseira que nos jogam na cara sem o menor discernimento.
    Ok. Não é tão ruim assim passar o glorioso dia dos namorados sozinha, não tenho nenhum animal de estimação chamado Fofis com quem possa atenuar minha carência, mas posso me confortar na filosofia alcoólica que me serve de lubrificante social. Obrigada a todos que leram esse artigo e por lerem-no até o fim mesmo sabendo que partia de um eu-lírico neurótico e obssessivo em defasar situações comuns da vida cotidiana.