Estávamos no final dos anos 60, na cidade de Lambari, em Minas Gerais. Íamos todos os anos passar férias e ficávamos sempre em um mesmo hotel. Nesta época, o homem já tinha ido à lua mais de uma vez e uma serie de invenções começavam a espocar na sociedade buscando torná-la melhor.

Neste hotel, chamado Ideal Hotel e que infelizmente hoje não existe mais, havia um gerente chamado Antonio. Seu Antonio era grande, meio careca, bronco, mas com um coração maior que o corpo. Porém, parecia que vivia parado no tempo e era o que podemos chamar de um verdadeiro pão duro.

Para se ter uma ideia do seu pão-durismo obrigava toda sua família, composta de sua esposa dona Agripina, das filhas e da mãe trabalharem sem nada receber para o hotel que não era dele. Agora um detalhe: elas não recebiam, mas ele sim. Só não trabalhava seu filho Marcos, mas creio porque ainda era uma criança.

Seu Antonio tinha umas manias esquisitas que chamavam a atenção ainda mais para quem, como eu, vinha do Rio. Andava de chapéu de palha, cigarro no canto da boca, calça larga – provavelmente ganha de alguém, sandálias havaianas, camisa de manga longa, mas com as mangas recolhidas na altura do cotovelo, barba por fazer – talvez para economizar lâmina e creme de barbear. Em resumo era uma figura.

Agora escrevendo sobre ele volta-me a minha lembrança a sua figura nas dependências do hotel. Dá saudades!

Mas você deve estar se perguntando o que tem o Seu Antonio com o título desta crônica? Será que o autor enlouqueceu? Não enlouqueci e nem pretendo!

Vamos às explicações.

Não sei se vocês perceberam que na descrição que fiz dele, mas o homem a todo lugar que ia, não tirava as suas havaianas.  Nem na missa de domingo escapava. Parecia que ele não tinha sapatos – e cá entre nós acho que não tinha mesmo!

E é nisso que esta a resposta.

Em uma conversa com meu pai e mais um grupo de hóspedes em que o tema do papo eram as grandes invenções da década, Seu Antonio ao ser indagado sobre qual achava ser a maior, não perdeu tempo e mandou:

- a maior para mim foi à sandália havaiana.

Este era o seu Antonio e esta foi a maior invenção para ele.