Meu cão, aquele que todas as manhãs e tardes levo-o ao seu tradicional passeio, entrou em um terreno baldio, saindo de lá todo carregado de sementes pegajosas. Carrapichos, picões e a valiosa erva tostão. Cada uma com sua característica de aderência inconfundível. Depois de retirar aquelas maravilhas do pelo do amigão, fiquei a pensar nas enormes massas cinzentas que devem existir no universo. Neste caso, simples vegetais com inteligência, a ponto de criar mecanismos que disseminem suas espécies. Os carrapichos aderindo ao meu cão, uma simples erva daninha, porém, dotada de algo extremante identificável a nós, os humanos. Ante essa similaridade conosco, cheguei mesmo a questionar, o porquê de um ser, que vive pouco tempo; agarrado à terra, ter os mesmos atributos de um ser que se julga a primazia em matéria de inteligência.
Não, isso não poderia acontecer, de forma alguma! Será que haveria alguma vantagem em mim, por exemplo, um dos milhares de espécimes que perambulam ruas e logradouros, ostentando estar acima de qualquer um dos seres inferiores?
Não! Algo deve estar errado! Eu me comparar com um carrapicho, com uma hera que se agarra a uma parece, a um espécime  que possuir sua forma de "se virar" , semelhante a nós, neste complexo mundo? Que não dizer então das espécies voadoras, cujas sementes se servem do vento para galgar distâncias enormes?  Perpetuação da espécie,- dirá alguém! Sim, concordaria eu! Mas, de onde vem esse fator que leva simples seres a terem mecanismos dessa monta, a ponto de muitos deles se colocarem ao nosso lado, com um naco de nossa inteligência? - Ora, a evolução, a necessidade de se adaptarem ao meio, dessa forma dar prosseguimento ao ciclo reprodutivo, diriam os afoitos à evolução darwiniana.
        - Sim, concordaria eu! Até pode ser essa a finalidade! Perpetuar a espécie de cada um dos espécimes, tanto  vegetal, como animal. Porém, e aqui entra mais um de meus questionamentos: por que e como seres dessa categoria poderiam ter  faculdades próximas às de seres denominados racionais? Se até um irracional - nem tanto - é coroado de êxito em suas necessidades, a ponto de sua "massa cinzenta" criar meios de sobrevivência? Haveria razão em nós em ostentarmos como os únicos  a possuir essa maravilhosa arte, e ser contados como racionais?

Depois da tarefa concluída em relação ao Gardello - nome do meu cão - parece que desci um pouco mais na escala de valores quanto a ser racional. Concluí que não há vantagem em se colocar altivo, peito inflado, quando se trata de atrair para si atributos mil, sem perceber que os demais seres - até os inanimados - têm suas “inteligências”. Um corpo no espaço infinito tem sua órbita, e dela não se desvia. O simples picão que gruda como cola, formando dardos que nos espeta através da roupa. Os animais, a maioria caça em bando, porque suas inteligências assim o determinaram. Mais, muito mais seres se firmaram na escala ascendente, todos com suas características distintas de sobrevivência. Com isso eles possuem uma parte do que creditamos a nós como os únicos racionais.
        Pois é! Tenho que concordar com os evolucionistas, que a inteligência permeia neste vasto universo, sendo propriedade não apenas do homem, porém, é um legado contido nos próprios seres que, sentindo a necessidade de "se virarem", suas massas cinzentas jogaram com os dados de suas existências, produzindo essas maravilhas que conhecemos, assaz, até as desconhecidas.    

       Uma reunião saborosa.

       Os vegetais fornecedores de diversos sabores conhecidos, antes da evolução (sic), reuniram-se para decidir o que cada um forneceria ao homem. Nessa assembleia cada um foi sugerindo o sabor e a consistência que poderia fornecer.

– Eu vou ter um sabor bem agradável ao paladar, sugeriu a cana que, mais tarde foi seguida por mais algumas espécies da grande flora. Desnecessário dizer que estava surgindo ai o açúcar, sabor que foi seguido por mais algumas plantas.

-Vou ser azedo de fazer careta a quem ousar me experimentar, retrucou o limão.

-Não fico atrás, prosseguiu  a pimenta. Se é para causar repulsa creio que estarei na frente. Assim mesmo servirei para temperar os demais.

-Bem, como eu não vou ficar de fora, meu sabor será amargo, aludiu o jiló, seguido pela serralha.

E para encurtar a conversa, o mar lançou uma onda gigantesca próxima ao grupo, ao mesmo tempo em que bradou:

-Sem sal a vida do homem não terá graça. Será chocha como mascar um punhado de algodão. Vou ser salgada o mais não poder...!!!

       Com estas decisões estava resolvida a questão dos sabores. mas continua meu inconformismo. Não posso vangloriar-me de estar com meus iguais dotados de percepçãoe inteligência. Bem, afinal sou também um animal com sangue quente...iguais aos "irracionais".