Joana
Publicado em 21 de outubro de 2017 por Heloisa Pereira de Paula dos Reis
Joana
Joana foi minha vizinha desde sempre. Quando nasci ela já estava lá.Morava com os pais bem velhinhos. Dizia-se a boca pequena, que eles a tiveram quando já tinham perdido a esperança de serem pais. Nasceu bem pequenininha, mas gulosa que era, logo ganhou peso e tamanho. Cresceu muito mimada pelos pais, que sempre fizeram todas as suas vontades, pois consideravam-se pais/avós. Mas o fato de ser mimada, não fez dela um ser humano egoísta, mesquinho, dependente. Tornou-se uma moça bonita, alegre, falante, sempre pronta a colaborar com quer que fosse. Se alguém estava doente, lá ia ela com uma sopinha bem gostosa, o que fazia com que nós ficássemos à sua espera, pois ela sempre fazia um tantinho a mais. Sabia que as crianças gostariam de prová-la. Se fosse aniversário de alguém, o bolo era ela que gostava de fazer, com as mãos de fada que tinha. Cada bolo mais bonito e mais gostoso que o outro. E não podia ser pequeno, pois todos repetiam mais de uma vez. Crianças com problemas escolares? Era ela quem dava aulas particulares a quem precisasse, professora que era.
Mas o tempo foi passando e nada dela se casar. Dizia que felicidade era estar com seus pais. Agora era ela quem os mimava. Tornaram-se os filhos que não tivera. Mas o tempo impiedoso que é os levou, deixando-a sozinha. De início não foi nada fácil. Tornou-se quieta, calada, ficando dias e dias sem sair á porta, sem bater o papinho de sempre fosse lá com quem fosse. Todos estranharam sua mudança.
Passado algum tempo, começou a sair de casa bem cedinho, sempre no mesmo horário. Não dizia nada para ninguém, e se perguntassem, desconversava.
Onde ia? Ninguém sabia, até que uma vizinha resolveu segui-la para saber o que ela fazia com seus dias. Não por curiosidade, mas pelo simples fato de preocupar-se com ela.
O que viu deixou-a feliz e despreocupada. Voltou para casa rapidinho, sem nada dizer a ninguém. Afinal, a vida era dela, não sua ...
Ou não?