EDUCAÇÃO: O QUE É ISSO?

Idanir Ecco[1]

 

Educação é um vocábulo complexo, que induz a múltiplos conceitos, significados e sentidos. Para muitos, por exemplo, refere-se ao trabalho desenvolvido no âmbito institucional, mais precisamente em escolas, faculdades, universidades e instituições similares, reduzindo o conceito ao processo ensino-aprendizagem. Para outros, educação relaciona-se ao nível de civilidade, cortesia, urbanidade, bem como à capacidade de socialização manifesta por determinado indivíduo. Nessa perspectiva, o significado do termo em foco, restringe-se aos elementos da subjetividade individual.

            A multiplicidade conceitual da palavra educação revela, também, sua ambiguidade, verificada na sua origem etimológica, pois tanto pode ter derivado do verbo latino “educare”, assim como de outro verbo, do mesmo idioma, “educere”, ambos com significados distintos.

            “Educare”, considerando o sentido original da palavra, significa criar, nutrir, orientar, ensinar, treinar, conduzir o indivíduo de um ponto onde ele se encontra para outro que se deseja alcançar. Refere-se à ação do docente sobre o discente, cujo objetivo centra-se no desenvolvimento mental e moral do educando, preparando-o, mediante instrução sistemática, para inserir-se na sociedade. Observa-se que, nesse particular, a iniciativa educacional, cabe ao educador que fornece os elementos necessários para o educando, afim de que possa desenvolver-se, caracterizando um processo de conotação exógena, isto é, de fora para dentro. E o educando assemelha-se a um receptáculo de informações, orientações... fornecidas pelo educador. Deste modo, a relação pedagógica centra-se no ensinar.

            “Educere”, por sua vez, etimologicamente, significa extrair, fazer nascer, tirar de, provocar a atualização de algo latente, promover o surgimento, de dentro para fora, das potencialidades que o indivíduo possui. E considerando essa derivação, o verbo educar contém uma forte conotação puericêntrica. Tendo em vista o processo educacional, a iniciativa, nessa situação, cabe mais ao educando do que ao educador, uma vez que nesse vocábulo, predomina o “auto”, o “endo”, o interno. Assim, a centralidade da relação pedagógica consolida-se e se configura no aprender (e não no ensinar), a partir de metodologias ativas, pois o educando é concebido como um ser de potencialidades.

            Modificar-se é uma necessidade da natureza dos seres humanos, na busca de complementarem-se como pessoas, concretizando sua vocação de Ser-Mais, numa espécie de atualização constante. No entanto, esta condição humana não exclui outra possibilidade, mesmo que paradoxal possa parecer ser, que consiste em Ser-Menos. Devido a essa contingência, o fazer educativo pode constituir-se num fazer incoerente.

Não existe, portanto, apenas uma educação, mas educações. E referente à educação formal, identifica-se, de maneira geral, conforme atestara o Patrono da Educação Brasileira (Paulo Freire), a “Educação Bancária” e a “Educação Libertadora” como as duas grandes formas educacionais predominantes: a primeira, no exercício de educar, oprime, aliena, desumaniza os seres humanos participantes do processo educacional marcado e guiado por esse tipo de educação; a segunda forma, prima pela conscientização, pela autonomia, pela humanização dos educandos, constituindo-se mediante processos interativos, porque relacionais, dialógicos. O conceito de “Educação Bancária” alinha-se ao vocábulo “educare” e o da “Educação Libertadora”, ao termo “educere”.



[1] Mestre em Educação UPF/RS e Professor da URI Erechim/RS. [email protected]