Didáctica Percebida Dentro das Teorias e Correntes Pedagógicas: Abordagem de Ensino-Aprendizagem Humanista

Abdul Sulemane Manafe[1]

[email protected]

Resumo

Este artigo tem como objectivo fundamental analisar a didáctica percebida dentro das teorias e correntes pedagógicas, no contexto de abordagem de ensino-aprendizagem humanista. Este trabalho tem como objectivos específicos, nomeadamente: Identificar os teóricos da abordagem de ensino-aprendizagem humanista e Caracterizar a abordagem de ensino-aprendizagem humanista sob ponto de vista de vários enfoques ou tendências de análise. O estudo teve como principal conclusão que vários aspectos da construção humana e da sua personalidade estão interligados, entre os quais se destacam: homem, sociedade, mundo, escola, aluno, professor, metodologia, processo ensino-aprendizagem, entre outros, visto que, a abordagem humanista dá ênfase ao aluno como um ser activo e figura central e o professor liberta a sua capacidade de auto-aprendizagem.

Palavra-chave: Ensino, Aprendizagem, Metodologia, Didáctica, Humanista.

Abstract

This article's fundamental objective is to analyze didactics perceived within pedagogical theories and currents, in the context of a humanistic teaching-learning approach. This work has specific objectives, namely: Identify the theorists of the humanistic teaching-learning approach and Characterize the humanistic teaching-learning approach from the point of view of various approaches or trends of analysis. The main conclusion of the study was that various aspects of human construction and personality are interconnected, among which the following stand out: man, society, world, school, student, teacher, methodology, teaching-learning process, among others, since, the humanistic approach emphasizes the student as an active being and central figure and the teacher releases their capacity for self-learning.

Keyword: Teaching, Learning, Methodology, Didactics, Humanistic.

1. Introdução

            O processo de ensino-aprendizagem (PEA) vem ao longo do tempo sofrendo influência de múltiplas teorias ou correntes didáctico-pedagógicas. Isto vale dizer que o modelo de ensino adoptado nas escolas é ainda uma obra incompleta e que carece de constante análise, dado às metamorfoses das premissas das teorias incidem sobre o fazer docente e aprendizagem escolar.

            Estudos corroboram com esta ideia, afirmando que, “nenhuma prática pedagógica, se realiza sem influências das teorias pedagógicas. […] mesmo quando o educador não sabe desta influência, mesmo quando ele não tem plena consciência em qual teoria ou quais teorias está pautada sua prática” (Pontes, 2014, citado por Castaman & Tommasini, 2020, p. 2). Portanto, torna-se extremamente importante trabalhar na educação com indivíduos e saber o que nelas interessa e como se orientar.   

            Neste contexto, tem-se o conhecimento de existência de algumas abordagens, uma das quais a humanista. Entretanto, o trabalho tem como objectivo fundamental analisar a didáctica percebida dentro das teorias e correntes pedagógicas, no concernente à abordagem de Ensino-Aprendizagem humanista.

Esta pesquisa de bibliográfica releva-se pelo facto de possibilitar a compreensão das bases fundamentais do desenrolo da pedagogia humanista onde se buscam os enfoques objectos de sua análise na formação humana e crítica no contexto da educação escolar.

2. Metodologia

            Este trabalho desenvolveu-se à base da pesquisa bibliográfica, aquela que na óptica de Prodanov e Freitas (2013), desenvolve-se com recurso a material já elaborado e publicado como artigos, publicações periódicas, dissertações e outros disponíveis na internet.

Nessa ordem, a pesquisa foi possível graças à exploração de artigos científicos publicados na internet, do qual os autores mediante a leitura, fizeram a selecção criteriosa e compilação sintética das informações úteis que se adequam ao tema estudado.  

3. Abordagem de Ensino-Aprendizagem Humanista

            Procura-se nesta secção do trabalho desenvolver a revisão de literatura sob ponto de vista da abordagem de ensino-aprendizagem humanista. Entretanto, para a análise profunda objectivou-se analisar os enfoques que constituem elementos relevantes desta abordagem humanista: escola, aluno, professor, método, ensino-aprendizagem, avaliação, entre outros.

3.1 Teóricos da abordagem de EA humanista

De acordo com Mizukami (2007); Marques (2014) e Padilha (2015), existem três teóricos com diferentes concessões sobre a abordagem de EA humanista, que são: Alexander Neill, Carl Rogers e George Kelly, significando que nesta abordagem tem-se um enfoque predominante (rogeriano). Embora Neil, seja classificado como espontaneista, propõe que a criança se desenvolva sem intervenções e sua obra consiste num relato de experiencias e na exposição de ideias sobre o homem, educação e vida e inclui o sujeito como principal responsável pela elaboração de conhecimentos. George Kelly elaborou uma teoria formal, com um postulado e onze corolários, que ele chama de Psicologia dos Constructos Pessoais. Seu postulado fundamental diz que os processos de uma pessoa são psicologicamente canalizados pelas maneiras nas quais ela antecipa eventos. Para Kelly, a construção da realidade é subjectiva, pessoal, activa, criativa, racional e emocional. Já, a proposta rogeriana é identificada como representatividade da psicologia humanista, a denominada terceira força em psicologia. Rogers é então, destacado como o principal influenciador desta corrente:

  • Foi da psicologia clínica. Não se contentou com ideias reducionistas, mecanicistas e directivistas da Psicanálise e do Behavorisnmo de Skinner.
  • Apresenta sua abordagem em recusa em identificar a pessoa em terapia como paciente. Aponta a relação da pessoa e do terapeuta que são iguais e que não há posição de hierarquia nelas.
  •  Considera que cada pessoa tem a capacidade de se auto-realizar. A aprendizagem transcende e engloba a cognitiva, afectiva e psicomotora. A centralidade do ensino é derivada também da teoria rogeriana, sobre a personalidade e conduta.

Tanto em Rogers, quanto em Neill, como em Kelly constata-se a ênfase na dignidade do homem, o primado do sujeito. O processo de ensino centrado no indivíduo conduz à valorização, à autonomia e a auto-realização. Porém, estes teóricos partilham estas ideológicas relevantes visto que, situam a figura central do ensino, o aprendiz.

3.2 Enfoques e características de abordagem de EA humanista 

Nesta abordagem consideram-se os enfoques encontrados predominantemente no sujeito, sem que essa ênfase signifique nativismo ou apriorismo puro (Mizukami, 2007).

Assim sendo, considerando a visão dos estudiosos sobre esta abordagem, de que o conhecimento humano, é explicado pela sua génese e desenvolvimento, condiciona conceitos diversos que partem para sua análise: homem, mundo, cultura, sociedade, educação, etc.

3.2.1 Homem

O homem é considerado como uma pessoa situada no mundo. Não nasce com um fim determinado, mas goza de liberdade plena e se apresenta como um projecto inacabado (Mizukami, 2007).

A concepção do homem, tem como objectivo, a auto realização ou o uso pleno de suas potencialidades e capacidades. A pessoa é considerada em contínuo processo das descoberta de seu próprio ser, relacionando-se a outras pessoas e grupos (Lemes, 2013).

Diante destas premissas, depreende-se que a abordagem humanista dá ênfase a relações interpessoais e ao crescimento que delas resulta, centrado no desenvolvimento da personalidade do indivíduo, em seus processos de construção e organização pessoal da realidade e nas suas capacidades de actuar como uma pessoa íntegra.

Assim, na óptica de Mizukami (2007), os componentes de PEA analisados com muita profundidade nesta abordagem são:

3.2.2. Mundo

O mundo é algo produzido pelo homem diante de si mesmo. “A realidade é um fenómeno subjectivo, pois o ser humano reconstrói em si o mundo exterior, partindo de suas percepções, recebendo estímulos e experiencias, atribuindo significado” (Rogers, 1972 citado por Mizukami, 2007, p. 41).

3.2.3 Sociedade-cultura

Rogers citado por Mizukami (2007), coloca que a única autoridade necessária ao indivíduo é a de estabelecer qualidade de relacionamento. Conclui ainda o autor que, os indivíduos com estas características tornam-se flexíveis, adaptáveis e críticos.

3.2.4 Conhecimento

De acordo com Mizukami (2007), o conhecimento é inerente à actividade humana. O ser humano tem curiosidade natural para o conhecimento. Consoante o autor para Rogers, é atribuído ao sujeito, papel fundamental na elaboração e criação de conhecimentos.

Na óptica de Santos (2005), dentro da abordagem humanista o enfoque é o sujeito, com ensino centrado no aluno, pois esse enfoque tem características interacionistas de sujeito-objecto. Santos citando Rogers (1972), defende que o professor tem o papel de facilitador de aprendizagem. Em outro sentido, Santos citando Saviani (1984), designa esta abordagem de Pedagogia Nova, considerando o marco inicial para o surgimento de tendências não-directivas e antiautoritárias, pois o professor age como estimulador, cuja iniciativa cabe ao aluno.

Assim sendo, cabe concluir que a aprendizagem seria uma decorrência de espontânea do ambiente estimulante e da relação vivida entre aluno-professor que se estabelece no ambiente de interacção social desses intervenientes.

3.2.5 Educação

A educação assume sentido amplo, pois trata-se de educação do Homem no seu todo e não no sentido somente escolar. Trata-se de educação centrada no aluno, ou seja, na filosofia rogeriana a responsabilidade da educação é do aluno (Mizukami, 2007).

Portanto, na abordagem humanista, a relação interpessoal é o centro e a dimensão humana, passa a ser o núcleo do processo ensino-aprendizagem (Teixeira, 2018).

3.2.6 Escola

Rogers (1972) citado por Mizukami (2007), advoga que a escola deve respeitar o aluno. Neste contexto, o homem (aluno) não nasce como um fim acabado, mas goza de liberdade para aprender em liberdade, deve ser respeitado dentro das suas diferenças. A avaliação, tal como enfatiza Rogers, não é a avaliação que deve avaliar o aluno, mas sim o que desejam aprender na prática a seu tempo. Advoga ainda o autor que, o mundo é algo produzido pelo homem diante de si mesmo, ou seja, consiste no desenvolvimento do seu potencial, dando ênfase à visão rogeriana de que a escola respeite à criança e ofereça condições de se virar:

Se as experiências dos outros forem iguais às minhas e nelas se descobrirem significados idênticos, daí decorreriam muitas consequências. Tal experiência implica que se deveria abolir o ensino. Abolir-se-iam os exames. Pela mesma razão abolir-se-iam notas e créditos. Em parte, abolir-se-iam os diplomas dados como título de competência. Abolir-se-ia o sistema de expor conclusões, pois se verificaria que ninguém adquire conhecimento significativos, através de conclusões. (Rogers, 1972 citado por Mizukami, 2007, p. 47).

E, corroborando ao exposto por Rogers, Neil analisando a escola, advoga que:

Obviamente uma escola que faz com que alunos activos fiquem sentados em carteiras, estudando assuntos em sua maior parte inúteis, é uma escola má. Será boa apenas para os que acreditam em escolas desse tipo, para os cidadãos não criadores que desejam crianças dóceis, não-crriadoras, prontas a se adaptarem a uma civilização cujo manto de sucesso é o dinheiro. (Neil, 1963 citado por Mizukami, 2007, Pp. 47-48).

Os pressupostos teóricos embasados nestes dois trechos, permite afirmar que tanto no Rogers, como no Neil, pode se constatar a ênfase na dignidade do homem, o primado do sujeito. A visão destes autores face ao homem é de que pela sua natureza, ele deve se auto governar pelo princípio de autonomia, democracia, crítico e auto-crítica.

3.2.7 Ensino-Aprendizagem

            Como defendida na concepção rogeriana, o ensino centralizado no sujeito, implica técnicas de dirigir sem dirigir, onde os sujeitos agem. A não-directividade passa a não ser um método não estruturante de PEA pelo qual o professor se abstém de intervir e prima pelo respeito pelo aluno (Mizukami, 2007 & Lima, 2018). 

Segundo Lima, Barbosa e Peixoto (2018), o princípio de não-directividade roga que o professor deve aplicar técnicas de empatia, profundo respeito e principalmente autenticidade na relação com aluno e nesse processo o professor precisa ser capaz de acolher e compreender seu aluno com estima, consolidando uma aprendizagem autêntica.

Depreende-se que o ensino nestas circunstâncias deve ter o carácter emancipador do Homem, doptando-o de capacidades de reconstrução das suas experiências vividas, de espírito de criatividade e de independência. 

2.2.8 Professor-aluno

O professor é primeiramente uma personalidade única. Ele é doptado de técnicas e estratégias de ensino, daí não ser possível ensiná-lo para um repertório de métodos. Cabe a ele desenvolver seu próprio caminho. O processo de ensino irá depender do carácter do professor. Nesta abordagem, ele assume papel de facilitador (Mizucami, 2007; Lima, Barbosa & Peixoto, 2018).

Contudo, conclui-se que a análise da abordagem de EA humanista, faz-se mediante um leque de aspectos de análise, que na óptica de Mizukami (1986) citado por Santos (2005), são necessários para a reflexão sobre os aspectos de fenómenos: humano, histórico e multidimensional.

3.2.9 Avaliação

De acordo com Santos (2005), Mizukami (2007) e Lemes (2013),

  • Avaliação valoriza aspectos afectivos (atitudes) com ênfase na autoavaliação.
  • A avaliação de cada um sobre sua própria aprendizagem.

Considerando a análise dos componentes de abordagem de EA humanista, conclui-se que nesta abordagem a escola é um ambiente de convivência e de reconstrução de conhecimentos científicos. O conteúdo de ensino advém da experiência vivida pelos alunos que o reconstrói. A actividade realiza-se por via de interacção com o meio. O professor não ensina, mas sim dá assistência aos alunos, liberta a sua capacidade de auto-aprendizagem. O PEA articula-se entorno interactividade e criatividade entre os alunos e o professor, onde os alunos devem criticar e dar opiniões.

4. Considerações finais

De acordo com os objectivos do trabalho foi possível perceber que o contexto de ensino-aprendizagem tem sido estudado segundo diferentes enfoques. Na abordagem de EA humanista, vários aspectos interligam-se entre como: homem, sociedade, mundo, escola, aluno, professor, metodologia, processo ensino-aprendizagem, entre outros.

Portanto, percebeu-se ainda que Carls Rogers com seus pensamentos humanísticos da personalidade contribuiu grandemente para uma visão mais holística e sistémica da pessoa, por acreditar que cada ser em si é capaz de se auto-regular em busca de saúde e bem-estar, por acreditar na capacidade do estudante em ser o gestor do seu próprio aprendizado.

Em fim, percebe-se que existe uma diferença entre os termos ensinar e transmitir conhecimentos, pois a abordagem humanista dá ênfase ao aluno como um ser activo e figura central e o professor liberta a sua capacidade de auto-aprendizagem

5. Referências bibliográficas

Castaman, A. S., & Tommasini, A. (2020). Abordagem humanista: considerações sobre uma escola de ensino fundamental. Revista Cocar. V.14 N.30 Set./Dez. ISSN: 2237-0315

Lemes, F. C. G. (2013). Síntese das principais ideias do livro “ensino as abordagens do processo”. Baseado em livro base: ensino as abordagens do processo de autoria de Maria da graça Nicoletti Mizukami.

Lima, L. D. (2018). Teoria humanista: Carl Rogers e a Educação. Vol. no4. 3. Brasil  

Lima, L. D.; Barbosa, Z. C. L.,  & Peixoto, S. P. L. (2018). Teoria humanista: Carl Rogers e a educação. Ciências Humanas e Sociais. Alagoas. Vol. 4. n.3. Periodicos.set.edu.br

Marques, N. L. R. (2014). Teorias de aprendizagem e ensino. Teorias humanistas. Programa de pós-graduação em ciências e tecnologias na educação.

Mizukami, M. G. V. (2007). Ensino, As abordagens de processo. Capitulo 3. Abordagem humanista. Ed. Pdagogia.

Padilha, J. S. (2015). Repensando na psicologia escolar: à luz da teoria humanista: ênfase na abordagem centrada no aluno. Ariquemes, RO.

Prodanov, C.C & Freitas, E.C (2013). Metodologia do trabalho científico [recurso electrónico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho académico. 2. Edição. Novo Hamburgo: Feevale.

Santos, R. V. (2005). Abordagens do processo de ensino-aprendizagem. Integração. Ano XI, no40

 

 

[1] Licenciado em ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica, Gaza. Moçambique. Mestrado pelo Instituto Superior de Gestão e Empreendedorismo Gwaza Muthini –ISGE-GM. Maputo. Actualmente exerce funções de docência na Escola Secundaria de Mangunze.