Doente da Alma! Doente da Alma? ou Doente da Alma.

       Por voltas dos anos de 1040 a 970 aC. Lá nas terras de Israel, viveu um homem sábio, escritor, músico, estrategista o qual dentre outros atributos também foi rei. Foi o segundo rei de Israel. Foi um rei popular e o homem do Antigo Testamento que mais vezes é mencionado na Bíblia, deixou um legado que jamais será esquecido. Esse homem foi Davi, filho de Jessé, da tribo de Judá, teria nascido em Belém e, segundo o relato bíblico foi um homem segundo o coração de Deus. A vida de Davi é particularmente relevante para as culturas judaica, cristã e islâmica, seus escritos encontram-se no livro dos livros, a Bíblia. São os Salmos, cerca de 73 e que tem por tradução o significado de canto ou poesia.

       Esse mesmo Davi cantando ou recitando em alguns de seus poemas, pergunta para si mesmo: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? ... Sinto abatida dentro de mim a minha alma ... Um abismo chama outro abismo, ao fragor das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim”. Estaria o grande guerreiro, sofrendo de tão grande aflição que sentia a sua vida definhar? O que é essa alma da qual entro nesse relato tão profundo? Esse vocábulo, pequeno, porém, de tão grande significado é um termo derivado do hebraico (נשמה) NEPLESH e que significa vida ou criatura; do latim (anima) ANIMU, o que anima e, o mais conhecido como espírito do grego (ψυχή) PSIQUE.

       Pretende aqui, buscar uma reflexão baseada no lamento de Davi, em seu reclame, para subsidiar uma visão profícua e, entender se possível a dor que maltrata milhares de pessoas e, que não existe substância química em um invólucro capaz de amenizar a chamada: Dor da Alma assim também conhecida como doença Psíquica, sem se atrever e descrever ou investigar a vida de Davi como rei.

       Sendo notório, sem dúvidas, que estamos vivendo em outra época, em outro tempo, sem guerras ao fio das espadas ou flechas e muito menos usando catapultas, o mundo mudou, deu voltas e continua dando voltas. Nesse tempo que chamamos de pós-moderno, onde se busca a cada dia a longevidade, têm-se como paradoxo vidas ceifadas com doenças infectocontagiosas ou com outra enfermidade mais temida, por exemplo, o câncer, embora pesquisas fantásticas estejam sendo realizadas. Porém, esse não é um dado tão alarmante, quanto o lucro, obtido pela indústria farmacêutica com a venda de medicamentos de forma indiscriminada para “curar”, a dor da alma como se isso fosse possível.

       Jamais se vendeu tanto antidepressivos como nos últimos tempos. Criaram inclusive a era do Prozac. Poderíamos imaginar o rei Davi usando antidepressivos? Ou de tanto preocupado ser diagnosticado portador de fibromialgia e ter a necessidade de usar fluoxetina? No entanto,     muito provavelmente usou medicamentos, não com essas nomenclaturas, mas, que aliviavam a dor de sua alma.

       Como nasce e se desenvolve esse conflito na alma que por vezes leva a pessoa a pensar inclusive em alto extermínio? O mundo esta sendo marcado por episódios que tem levado a humanidade a criar sensações de insegurança, de impotência. A questão da insegurança têm deixado os cidadãos sem condições de caminhar ou até mesmo para embarcar em um ônibus, devido a episódios repetidos de violência. Cenas de delinquentes fazendo arrastões em praias e grandes avenidas tornaram-se comuns e, ao que parece pessoas que convivem nesses cenários se adaptaram com a sensação também da impunidade, de certa forma o valor da vida e do viver ficou banalizados, o respeito se esvaiu. A cada dia famílias sofrem as consequências do fato de ente querido, seja este filho (a), pai, mãe, vô, vó usando algum tipo de droga, seja lícita ou ilícita. Alguns casos são mais graves, pois entre esses familiares a degradação dos valores leva a pessoa a cometer furtos e outros crimes dentro e fora de casa para sustentar o vício tendo, por conseguinte o cárcere, este agora em um cubículo com grades, mas preso já estava com o vício da droga e, cada dia surge uma nova droga. Mais potente.

       Tornou-se comum começar um relacionamento exatamente ao contrário, ou seja, têm-se um filho, vai morar ou não juntos e tenta-se namorar para ver se da certo e, muitas vezes o primeiro encontro acontece de forma inusitada: é virtual. Fora isso há os encontros chamados de casuais, ou seja, “queimam etapas” necessárias para se conhecer, interagir e criar um clima seguro para os relacionamentos.

       Hoje veem-se pessoas completamente insatisfeitas com o corpo, pois o mito do corpo perfeito da era Barbie escravizava e, por vezes ainda escraviza, criando o medo de envelhecer fato que têm levado milhares de pessoas à depressão. Estou velho (a) e agora? Um dos recursos encontrados após perceber que a academia não dá mais conta é a “esticagem” recorrendo às cirurgias plásticas e que nem sempre os resultados são positivos e em alguns casos levando ao óbito. E não só as mulheres, mas, muitos homens vivem a era Ken e, muitos já apelam para o silicone em várias partes do corpo, a fim de se tornarem desejados e por vezes orgulham-se de enumerar “enes” cirurgias plásticas realizadas. No entanto, tornam-se querido, para outros ou outras, mas, nunca para si mesmos. Pois, sou aquilo que o outro diz que sou, estou cheio de nada e vazio de tudo. Somente posso oferecer o exterior. Sou o que tenho, não sou o que sou. Será que os valores e os costumes se inverteram? Esta faltando limite?

       A ira é outra questão que têm levado um grande número de pessoas ao sofrimento, a angústia e a ficar com dor de alma. É um tema extremamente difícil de explicar e até mesmo de compreender, quando definida diz que: “sf. 1. Cólera 2. Desejo de vingança”, mas se verificarmos Cólera, temos: “sf. 1. Impulso violento contra o que nos ofende, fere ou indigna; ira”. 2. Med.” Doença infecciosa aguda, contagiosa, que pode ser epidêmica.” Frente a essa definição, o que podemos pensar é em um profundo estado de  sentimento de rancor e que tem como possível causa o orgulho, egoísmo e desejo de supremacia.

       Existe um proverbio muito interessante, porém pouco compreendido e, que de forma inusitada nos lembra de que: ”Sentir ódio (ira) de uma pessoa é tomar veneno na esperança que ela morra.” Quantas vezes temos esse tipo de sentimento e que dura anos, sentimento de vingança que esta sempre latente. Não raro veem-se pessoas que dizem estar com a “alma lavada”, ou seja, vingou. Então, pode-se pensar o quanto a mesquinhez nos ataca, nos faz reféns de nós mesmos e, por vezes sofremos por nada, deixando de fortalecer nosso próprio eu. Fica-se preso em um cárcere emocional.

        A vida é assim?

       A quem diga que sim, pois em consequência a esse turbilhão de acontecimentos o “humano” cria a preocupação a qual se exacerba tornando ansiedade, criando um nível alto de estresse e por vezes sem perceber entra em estado depressivo, então vem a angustia. E agora? Estou doente da alma. Alguns irão dizer: estou em um beco sem saída só me resta é assentar, colocar a cabeça entre os joelhos e, se conseguir, chorar. A dor é tanta que se torna impossível vislumbrar uma saída. Não se da conta de virar e, se virar as mãos no rosto impedirá que veja a saída, tamanho é o desespero. A alma esta abatida, o fôlego da vida parece se esvair aquele mesmo fôlego que Deus ao formar o homem concedeu ao soprar em suas narinas, até o próprio Deus nesse momento é esquecido. Isso é estar doente da alma. É algo de ruim e incômodo que se sente, mas não se sabe o que é e muito menos por que.

       Ah! Então, o cenário pode mudar? Sim, pode, e deve, e um dos primeiros passos é começar a sair da superficialidade e permitir o reencontro com o Criador, consigo mesmo e estabelecer metas. Isso fica claro nos ensinamentos do rei quando diz: “Contudo, o SENHOR, durante o dia, me concede a sua misericórdia, e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus da minha vida. ... Por que estas abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxilio e Deus meu. ... Esperei confiante pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro”,  também o que nos diz o Rei dos reis, Jesus: “Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Por ventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por mais ansioso eu esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? 

       Estas recomendações tanto de Davi como de Jesus, é base para uma conduta para viver dentro de uma normalidade, sem nenhum problema, pois próprio Jesus nos deixa claro que no mundo teríamos aflições. Mas, nos consola quando diz: Não temas Eu venci o mundo, ou seja, tenha fé, mas, se necessário for, sempre ira existir um profissional que poderá, sem dúvidas, ajudar nesse reencontro.

       Pois bem, a vida não é assim.

       A dor da alma pode ter fim?  Pode-se acreditar que sim, mas, não é simples, pois, é um processo e, é claro não há como estabelecer tempo, visto que cada pessoa tem o seu tempo. Varia de pessoa para pessoa.

       O sucesso esta na busca do autoconhecimento e do equilíbrio.

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