90% da população já passou ou vai passar pelo que passei há algumas semanas atrás: a famosa apresentação de ballet da criança da família. Tirando a performance linda, triunfal, iluminada e perfeita da minha sobrinha, o resto foi extremamente bossal e tedioso.
Para quem não sabe do que se trata, é uma apresentação de dança, dividida por faixa etária e geralmente com um tema e o deste ano era: uma viagem dançante pelos países do mundo (algo assim, ou não), ou seja, cada grupo de crianças vestia roupas características do país representado e dançava algo que parecia tudo, menos a dança da respectiva nação, de tanta descoordenação - menos da minha sobrinha, que deu um show de graça, precisão e conhecimento do país.
Não contei ao certo, mas imagino que cerca de 20 países foram homenageados e cada dança durava, em média, 5 minutos. Somado a isso, 3 grupos de outras escolas de dança foram convidadas e entre cada número, uma apresentadora fanfarrã que tentava entreter um público, que se interessava somente em ver a criança da sua família e nada mais, com piadocas da carochinha que seriam prontamente reprovadas pelo roteirista do Zorra Total. Faça a soma e chegará em mais de 2 horas de um martírio que só foi compensado pela magia dos movimentos suaves e hipnotizantes da minha sobrinha.
Não vou aqui entrar no mérito de cada show da escola de dança mas, sim, das 3 escolas convidadas, que foram uma diversão a parte, só que não.
A primeira estava representando a caravana do Japão. Perdoem-me os japoneses, mas a dança nipônica é algo milernamente e surrealmente chata. Tudo começava com o toque do gongo, aquele mesmo que você imagina que vai entrar 2 lutadores de sumô ou o Bruce Lee. Só que, ao invés da mais pura ação da terra do sol nascente, entra uma senhora da lua morrente, que só percebi que não estava morta pois seus pés a faziam caminhar e as mãos abanavam um leque. Ao som de mimimi arigatô ishi saionará, a senhora dava dois passos, parava, abanava o leque, andava e se curvava para a plateia, só não sei se para cumprimentar ou para aliviar a hernia de disco. E fez essa sequência durante 10 minutos até realizar com maestria a despedida louva-deus arakiri de Nakashima Sr Myiaghi, que consistia em 2 passos, 1 abanada no leque, mais 1 passo, mais meio leque e a curvatura gran finale.
Números depois, foi a vez da academia que representaria a oriental Dança do Ventre. Ao som de Mahhameeed Muhaaaa Habibs, uma autêntica mistura do Brasil com o Egito, como diria o religioso cumPADRE Washington, entra uma dançarina com perfil um pouco fora do convencional. Mais especificamente 100 kg além do tradicional. Sim, amigos, uma mulher acima…ou melhor, no topo do peso com a vestimenta típica da dança do ventre, fazendo parecer mais uma dança da prisão do ventre. Os músculos se misturavam às banhas em um movimento que imitava o tsunami que devastou a Indonésia. O pior é a tentativa de sensualização que marcou 13 graus na escala Richter. Nada contra o direito dela ser feliz com a dança, mas definitivamente a dança do ventre foi uma péssima escolha. O pior é que o estilo dela valorizava o movimento do abdomen, que no caso dela era uma barriga de respeito. Eu olhava a barriga e a cada vibração eu enxergava o rosto do fofão, do dinossauro barney e da Peppa Pig com caxumba. Terrível.
E para terminar, o momento contemporâneo da noite. Uma escola de dança trazendo a malandragem e dinamismo do hip-hop, aquela dança que as pessoas se contorcem, pulam e não tiram aquele sorriso congelado do rosto. Lindo, se eu estivesse na plateia do Xou da Xuxa. Mas eu estava lá única e exclusivamente para ver o glamour irresistível e contagiante da minha sobrinha. Era uma dupla que primava pelo aspecto físico e deixava a desejar no quesito "se liga que tá todo mundo cansado e querendo ir embora". Ao final de tantos pulos e molejos, a dupla congelou em uma pose de quem esperava as notas do Fly, da Ivete Sangalo (que diria que foi massa) e do Carlinhos Brown (que estaria treinando com a plateia uma coreografia que aprendeu no Zaire utilizando 1 caxirola e 1 vuvuzela).
Ao final, todos se reuniram no palco para a dança final, algo semelhante a um amontoado de crianças lutando para pegar doces que acabou de cair no palco, a não ser pela maravilhosa presença real da princesa da noite, a minha sobrinha.