Crônica

DA JANELA DO TEMPO                                                                               Edevaldo Leal

                                   Hoje eu tenho assunto e assunto especial, mas esbarro em um problema:  me falta o fôlego das palavras. É como se eu estivesse debaixo d'água, vendo as pessoas na superfície e não pudesse vir à tona. Em anos de lavra, raras vezes me sinto como agora, sem saber plantar a semente.

                                   Não é fácil entregar o discurso pronto, assim de repente, na véspera, para uma filha que fará, daqui a pouco, 15 anos (21 de dezembro). É um discurso que venho adiando, adiando, manhosamente adiando, à espera daquele sopro mágico que move a mão dos poetas. Preciso encontrar luz, uma luz que somada a outras, ilumine o caminho de quem começa a dar os primeiros passos. Ou não é aos 15 anos que a vida começa?

                                   Então eu me debruço na janela do tempo e vejo você, Taynara Caroline, tão pequena e tão frágil, abrindo um lindo sorriso ao sentir minha presença. Você foi crescendo e a primeira palavra balbuciada não foi ''papá''. Confesso: senti um ciume besta, que logo passou ao lembrar do carinho e da enorme dedicação de sua mãe por você.

                                   E vieram as fases do engatinhar, dos passos trôpegos,  dos tombos, do levantar-se e do caminhar após as quedas. Lembra das histórias de pura fantasia, como a de Papai Noel , que ao sair às pressas pela casa, ia deixando pedaços da longa barba pendurados na grade da janela e você nem percebia que era algodão? 

                                   Ah, como o tempo passa e depressa. Já se disse que nós é que passamos pelo tempo. E eu reforço: passamos pelo tempo e nem percebemos. E, quando percebemos, muitas vezes é tarde demais, porque nada fizemos para melhorar o mundo. Muitos, nem a si mesmo melhoraram. É por isso que, em cada etapa dessa passagem, você precisa deixar a sua marca: a marca das sábias escolhas, da dedicação aos estudos, da perseverança, do otimismo, da fé, do amor ao próximo e a Deus.

                                     Espere.

                                    As coisas acontecem devagar e por seleção de escolhas. Tudo que você quizer você pode realizar, desde que devidamente planejado com a medida do conhecimento e o tempero do entusiasmo.Tudo acontece no seu devido tempo. É como diz o Eclesiastes: ''.....Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de estar calado e tempo de falar, tempo de buscar e tempo de perder.....''.

                                      Outra coisa: Só o esperar não basta. É preciso respeitar os limites. Todo excesso é prejudicial, até mesmo o excesso de amor. 

                                       Ponto.

                                        Ou paro, ou daqui a pouco sai uma lista do que fazer e do que não fazer. E você, Carolzinha, tem muito a aprender com a vida, se tiver a sabedoria de se corrigir a cada erro, que de erro ninguém escapa.

                                         Não se engane.

                                         Os tombos da infância se repetirão, agora em forma de fatos com diferentes significados. O importante é retirar as pedras do caminho. Os tombos só serão problemas, quando você, estirada no caminho, não se levantar. Os tombos são o tempero da vida, Carolzinha.

                                         Não se iluda .

                                          Só você pode retirar as pedras do caminho. Creio que foi Frederich Nietche quem disse: ''Ninguém, exceto tu, pode construir em teu lugar as pontes que precisas passar, para atravessar o rio da vida''. 

                                          O seu destino, minha filha, agora está em suas mãos. O rio da vida, bem ali, à sua frente. Construa as suas pontes.