CRÔNICAS DA SAUDADE – Um clic de sensibilidade.

                                            

Que me perdoem os modernos e os sofisticados tecnológicos na sua ânsia de captar os momentos. Que não se aborreçam comigo todos os esforçados e inteligentes, os gênios criadores das facilidades técnicas, especialistas em resolver com rapidez todas as coisas. Aliás, as pessoas do nosso século vivem a crise do imediatismo, são especialistas em armazenar tudo nos bancos de dados, transformam tudo em bits e bytes e as imagens bem definidas em megapixels, quanto mais potentes melhor a definição do detalhe.

Mas, o que eu gosto mesmo, o que me traz imensas saudades é lembrar o clic, clic ou do splash da máquina fotográfica no momento da fotografia. Eram momentos de concentração e magia, de pessoas que se sentiam especiais para registrarem acontecimentos importantes ou cotidianos da própria vida ou da vida de outras pessoas. Havia todo um glamour em captar a vida sob a lente e o clic de uma máquina fotográfica.

Havia muito mais em fotografar momentos, lugares, os fatos que viravam notícias, pois se exigia do fotógrafo sensibilidade e arte. Sim, pois ter uma câmera na mão é tal qual ter a pena e o pincel, são necessários talento e percepção criativa para captar a beleza, a tristeza e/ ou a realidade nua e crua de cada momento. Era necessário discernimento para usar a energia e a intervenção criativa do artista ou simplesmente deixar fluir e captar o que lhe é oferecido na cena. Não bastava simplesmente dizer - vou sair por aí e bater umas fotos com a minha câmera nova. Como muitos diziam. Não. O registro fotográfico era o encontro do artista com a cena, com o momento em que ela seria eternizada.

Perdoem-me os adeptos das Selfie, onde todo mundo faz caras e bocas diante de um telefone celular acoplado de câmeras para fotografar e filmar, em um espelho meio que narcisista e depois, de forma exibicionista vai parar nas redes sociais. Nada contra, mas também nada a favor. Não quero mudar as outras pessoas, estou apenas chaqualhando um pouco a minha cabeça para encontrar o sentido disto. Acho que muita gente me diria que é a evolução e a rapidez dos processos de comunicação. Ok! Sobre isto nada mais a declarar.

Mas, quando falo de fotografia, lembro-me da beleza de uma foto em preto e branco, da luz certa, de captar os contrates entre a luz e a sombra e o momento histórico de pessoas e suas famílias em uma foto na parede da sala ou emolduradas no porta-retratos de madeira nobre que acompanhava as gerações de descendente daquelas pessoas.

            Lembro-me como o amigo David, do baú de fotos e eu, da bolsa preta antiquíssima de minha avó, que volta e meia eram resgatados para revitalizar as memorias. Era como uma caça ao tesouro. Do baú de fotografias ou da bolsa velha da minha avó saia um registro legítimo das vidas que construíram cada detalhe do somos hoje. Eles estão todos lá intactos, em suas expressões e verdades, não em cara e bocas, mas registrados em seus atos, como na cápsula do tempo, cada matiz, cada tom das fotografias verbaliza a cena, traduzindo-a para os dias atuais, como uma impressão quase genética.

Fotografar é mais que um momento para armazenar no banco de dados do seu notebook. É um trabalho de arte e sensibilidade de uma alma que compreende a dimensão da cena que se verbaliza. Não é a Selfie que eu vou descartar para liberar espaço do meu banco de memórias.

Que mais uma vez fique bem esclarecido: - Este não é um discurso reacionário contra o maravilhoso progresso tecnológico e seus magníficos avanços para registro e armazenagem de dados. Absolutamente não!

É apenas saudade.  É a lembrança da história de vida das pessoas, registrados de maneira forte e sob uma ótica personalíssima. É eu acho que é somente isto...Portanto, atenção...

Olha o passarinho! Diga giz! Clic, clic, splash.

 

                                                           Rosamares da Maia