Como se enobrecer.

Uma sátira à nobiliarquia sertaneja.

Alferes Martins

Essa é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

                                                                

            Eu me chamo (quer dizer, os outros me chamam de) Alferes Martins. Como um bom mulato enxerido, resolvi brincar de nobre e criar para mim uma nobiliarquia notável. Esse é um passatempo de vários membros abastados das elites sertanejas que não convém, entretanto a um pé-rapado como eu.

            Na construção da minha nobiliarquia me basearei em fatos verídicos, já que meus avós são realmente de família tradicional, de uma boa dose de imaginação e de artigos da internet os quais manipularei de forma sistemática até obter argumentos que espero convencer os leitores da veracidade de meus relatos. O objetivo deste trabalho é demonstrar os mecanismos e motivações que levam os genealogistas de todos os tempos à suas criações.

            Qualquer pessoa pode reivindicar uma origem nobre, basta que tenha uma boa aparência e dinheiro (não é esse o meu caso). Para os pardos de sobrenome tradicional, resta alegar uma descendência afastada, decadência familiar e algumas vezes argumentar que os portugueses são uma nação mediterrânica e de povos morenos ou uma origem de cristãos novos (judeus sefarditas ou mouros) que embora não seja muito gloriosa, pelo menos afasta a mancha da escravidão. Se você for negro, e se assinar com um sobrenome comum, então deve procurar uma civilização avançada do continente africano, como os impérios de Mali e do Congo e alegar que seus ancestrais foram nobres trazidos depois de ser derrotados em uma das incontáveis guerras no continente africano, ou se tiver cabelo escorrido, que descende de índios, pelo menos não tem origem escrava. Se você morar na mesma cidade de seus ancestrais, não aconselho a inventar muito sobre seus avós ou bisavós, moradores antigos do lugar conhecem seus antecedentes e poderão facilmente desmenti-lo. Evite alegar descender de grandes nobres ou reis, essa não cola mais. Conheço um famoso genealogista que alegou descender de D. Dinis de Portugal, uma pesquisadora mais séria descobriu que realmente havia uma família portuguesa com o mesmo sobrenome e que descendia de D. Dinis e de uma camponesa sua amante. Como apenas filhos legítimos herdam títulos de nobreza, ele teve que engolir a carapuça de mentiroso e a vergonha dessa possível origem.

            Apesar de tudo, genealogia é um passatempo divertido e interessante. Se publicar suas descobertas evite dar ouvidos a boatos, geralmente eles são verdadeiros, mas você não vai querer envergonhar sua família, o objetivo da genealogia é elevar a auto-estima. Pergunte a seus parentes o nome e sobrenome de seus avós, bisavós e tataravôs, nos documentos de seus pais e avós poderá encontrar esses dados. Qual era a profissão, onde viveram e se algum deles tinha origem tradicional. Relatos de família são valiosos. Destaque fatos que narrem a riqueza ou valentia deles e que os envolvam com pessoas famosas e importantes. Se algum ancestral distante não tem pai conhecido, e os mais velhos acreditam que seja filho de algum figurão do passado, procure divulgar como se fosse filho legítimo, assim enriquecerá sua arvore. Era comum colocar o nome dos avós em algum neto, se não conhecer o nome de alguém da árvore poderá usar esse critério para preenche-la. Use indícios para descobrir o passado, se for um dado distante de alguém pouco conhecido, dificilmente você será desmentido, a vantagem de falar sobre o passado é que se não é possível provar que os fatos ocorreram daquela maneira, tão pouco é possível provar que não aconteceu. Evite divulgar fatos vergonhosos sobre pessoas poderosas ou seus ancestrais, você poderá sofrer algum tipo de retaliação.

            De meus poderosos ancestrais herdei um corpo deplorável (produto da consaguinidade e da mistura de raças), uma inteligência medíocre, pobreza e numerosos inimigos. Um de meus tataravôs paternos, um coronel do cariri, costumava matar seus empregados e esconde-los no canavial, outra, materna, era uma índia pega a dente de cachorro, a outra era cega e outra uma megera, um bisavô era mulato, e outro um curandeiro. Um avô foi um pistoleiro envolvido em vendetas e que empobreceu por causa de uma vingança e o tataravô de meu avô materno massacrou os índios da minha cidade natal. Na minha árvore, nada disso aconteceu, sou o descente perfeito de uma família perfeita. Não vou estar mentindo, apenas omitirei dados embaraçosos e que não vão contribuir em nada para o meu orgulho familiar. Ou publicando indícios que não tenho certeza de que são verdadeiros. Dessa forma espero ser festejado pelos meus parentes. Espero que esse trabalho seja para os filhos dos coronéis o que “O D. Quixote” de Cervantes foi para a antiga nobreza espanhola.  Como diria meu amigo e mulato, o escritor realista, Machado: “Se esse trabalho te agradar pago-me com isso, se não pago-te com um piparote”. (1888). Boa leitura!

 

Pensei melhor e ao invés de criar uma nobiliarquia vou contar e inventar fatos com meus ancestrais. Misturando relatos com um pouco de imaginação criarei relatos mentirosos, mas muito saborosos.

O massacre dos índios.

 

Entre os séculos XVIII e XIX conta-se uma história pavorosa e devidamente abafada a respeito de um de meus ancestrais. De origem caririense, ele recebeu do estado, terras no sertão habitadas há séculos por tribos de índios cariris ultimamente mesclados com remanescentes de tribos oriundas do litoral ou negros de quilombos que fugiam para o interior em busca de refúgio contra a expansão dos brancos. Dessa forma, os cariris e esse ancestral, um capitão fulano de tal, entraram em conflito.

Certa vez ele foi para a região de Sergipe onde conheceu um escravo que sofria maus tratos de seu senhor. Comprou esse escravo e o trouxe. O escravo, talvez a mando de seu benfeitor, conseguiu se infiltrar entre os índios e descobriu que eles planejavam um ataque a sede da propriedade. O capitão pediu ajuda a seus parentes e aliados e conseguiu um grande número de pistoleiros, alguns de origem africana, já que os fazendeiros acoitavam quilombolas fugidos, em troca de trabalho e jagunços e boa parte destes negros recebia terras e se tornavam amigos dos fazendeiros.

O capitão e seus comparsas construíram um galpão de taipa coberto de palha com uma só abertura e convidou os índios para negociarem a paz. Os ingênuos nativos entraram nele e começaram a praticar seus rituais. O capitão, homem caridoso com os escravos, porém não tanto com os pobres índios, ateou fogo no galpão de onde estes tentaram desesperadamente escapar para serem mortos a tiros de bacamarte e golpes de espadas, facões e facas peixeiras. Depois de terminado o serviço, os pais da nação brasileira trataram de enterrar os corpos e atacar a aldeia. As mulheres jovens e bonitas foram tomadas como amantes do capitão e seus parentes, as demais ficaram para os pistoleiros. Crianças foram criadas e as meninas ao crescerem, tiveram o mesmo destino de suas irmãs mais velhas. Assim nasceu o sertanejo, a elite era branca ou mestiça com tais índias e o resto da população de origem cafuza, mulata, cabocla, cabra ou parda.

 

 

 

 

 

As índias.

            Duas moças, de origem indígena parecem ter sido assimiladas por essa família e se tornaram ancestrais deste autor. Uma tia mais velha contava a história de uma índia cariri pega a dente de cachorro. Ela foi adotada pelo capitão e parece que teve de lidar com a dor de se ver nas mãos dos assassinos de seus pais e irmãos. Foi recordada como uma senhora de cabelos grisalhos, pequenina e de pés descalços. Seu companheiro, neto do autor do massacre, assombrava a casa onde teria vivido.

            Outra matriarca, uma Velha Idiota, teria como hábito se maldizer e jogar praga em tudo e todos. Algumas vezes é recordada como índia ou cigana, pode ser outra remanescente deste massacre que não teria assimilado a morte de seu povo tão bem como sua parenta. Poderia ter sido divertido para o fazendeiro lidar com seu gênio, ao fazer dela um saco de pancadas nos momentos de frustração.

 

O coronel sanguinário.

 

            Certo tataravô, segundo fonte que prefiro não identificar, teria o hábito de matar empregados desobedientes e enterra-los no seu canavial, pois era senhor de engenho. Fontes da família contam algo assim de alguns coronéis rivais, o que indica um hábito bastante difundido. Conheço desse avô coronel á história de um jagunço que matou um policial e pediu ao coronel que desse um rifre e montaria para ir a Canudos lutar com Conselheiro, aonde veio a falecer.

            O filho do coronel recebeu um rapaz que fugiu com a filha de um empregado e pediu que fizesse o casamento já que não era aceito pelo pai da moça. O coronel aceitou o encargo e chamou o empregado, esse disse que preferia ter a filha rapariga à casada com aquele sujeito. O coronel disse que fazia o casamento e ponto final, o empregado fora de si, o feriu com sua foice, sendo imediatamente morto junto com a filha e o genro pelos pistoleiros do coronel, que ficou bem e espalhou o boato de que toda a família havia fugido da fazenda.

 

 

 

Os valentões

            O marido de uma neta do coronel sanguinário viu-se envolvido em conflitos. Conta-se que participou de uma vendeta famosa em que lutava a família de sua mulher. Desta sei apenas que haviam executado alguém da família rival e invadiram o velório procurando mais vítimas, esse avô do autor acendeu as velas do morto, já que todos fugiram apavorados do velório e sofreu uma reprimenda do coronel que liderava o processo.

            Numa festa acabou tendo uma briga com um parente da mulher, dizem que este chegou a espanca-lo, inclusive usou cadeiras para isso, a versão da família é menos dramática. O valentão segundo a família foi se desculpar, mas conseguiu aumentar a fúria de meu avô, procuraram apaziguar e chagar a um acordo, porem o perdedor e sua família ficaram para sempre humilhados na sociedade da época e uma das filhas, depressiva, jogava na cara do pai essa derrota. O poderia ele fazer? O cara além de mais forte andava sempre armado, atirava com as duas mãos e era muito mais importante do que ele. O tempo passava e a humilhação apenas aumentava, os negócios iam cada vez piores, todos o olhavam como a um covarde, não podia ficar assim. Passou meses praticando tiro e se preparando, aproveitou o recesso escolar dos filhos para leva-los ao Sertão, onde passavam às férias na fazenda dos avós e acertou as contas. Um dia, estava o valentão como sempre, saindo de seu engenho, o menino devia trazer o cavalo, porém naquele dia estava demorando. Entrou num bar para tomar o café, quando entrou o outro atirando pelas costas. Ele ainda reagiu, mas já estava ferido pelas balas dundum e não teve forças para acertar o agressor, seus tiros ficaram marcados na parede do bar. O outro atirou mais duas vezes, fugiu escondeu-se e esperou a morte do seu inimigo para sair da cidade, passou anos fugindo e destruiu o futuro de duas famílias. Como se enobrecer.

Uma sátira à nobiliarquia sertaneja.

Alferes Martins

Essa é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

 

            Eu me chamo (quer dizer, os outros me chamam de) Alferes Martins. Como um bom mulato enxerido, resolvi brincar de nobre e criar para mim uma nobiliarquia notável. Esse é um passatempo de vários membros abastados das elites sertanejas que não convém, entretanto a um pé-rapado como eu.

            Na construção da minha nobiliarquia me basearei em fatos verídicos, já que meus avós são realmente de família tradicional, de uma boa dose de imaginação e de artigos da internet os quais manipularei de forma sistemática até obter argumentos que espero convencer os leitores da veracidade de meus relatos. O objetivo deste trabalho é demonstrar os mecanismos e motivações que levam os genealogistas de todos os tempos à suas criações.

            Qualquer pessoa pode reivindicar uma origem nobre, basta que tenha uma boa aparência e dinheiro (não é esse o meu caso). Para os pardos de sobrenome tradicional, resta alegar uma descendência afastada, decadência familiar e algumas vezes argumentar que os portugueses são uma nação mediterrânica e de povos morenos ou uma origem de cristãos novos (judeus sefarditas ou mouros) que embora não seja muito gloriosa, pelo menos afasta a mancha da escravidão. Se você for negro, e se assinar com um sobrenome comum, então deve procurar uma civilização avançada do continente africano, como os impérios de Mali e do Congo e alegar que seus ancestrais foram nobres trazidos depois de ser derrotados em uma das incontáveis guerras no continente africano, ou se tiver cabelo escorrido, que descende de índios, pelo menos não tem origem escrava. Se você morar na mesma cidade de seus ancestrais, não aconselho a inventar muito sobre seus avós ou bisavós, moradores antigos do lugar conhecem seus antecedentes e poderão facilmente desmenti-lo. Evite alegar descender de grandes nobres ou reis, essa não cola mais. Conheço um famoso genealogista que alegou descender de D. Dinis de Portugal, uma pesquisadora mais séria descobriu que realmente havia uma família portuguesa com o mesmo sobrenome e que descendia de D. Dinis e de uma camponesa sua amante. Como apenas filhos legítimos herdam títulos de nobreza, ele teve que engolir a carapuça de mentiroso e a vergonha dessa possível origem.

            Apesar de tudo, genealogia é um passatempo divertido e interessante. Se publicar suas descobertas evite dar ouvidos a boatos, geralmente eles são verdadeiros, mas você não vai querer envergonhar sua família, o objetivo da genealogia é elevar a auto-estima. Pergunte a seus parentes o nome e sobrenome de seus avós, bisavós e tataravôs, nos documentos de seus pais e avós poderá encontrar esses dados. Qual era a profissão, onde viveram e se algum deles tinha origem tradicional. Relatos de família são valiosos. Destaque fatos que narrem a riqueza ou valentia deles e que os envolvam com pessoas famosas e importantes. Se algum ancestral distante não tem pai conhecido, e os mais velhos acreditam que seja filho de algum figurão do passado, procure divulgar como se fosse filho legítimo, assim enriquecerá sua arvore. Era comum colocar o nome dos avós em algum neto, se não conhecer o nome de alguém da árvore poderá usar esse critério para preenche-la. Use indícios para descobrir o passado, se for um dado distante de alguém pouco conhecido, dificilmente você será desmentido, a vantagem de falar sobre o passado é que se não é possível provar que os fatos ocorreram daquela maneira, tão pouco é possível provar que não aconteceu. Evite divulgar fatos vergonhosos sobre pessoas poderosas ou seus ancestrais, você poderá sofrer algum tipo de retaliação.

            De meus poderosos ancestrais herdei um corpo deplorável (produto da consaguinidade e da mistura de raças), uma inteligência medíocre, pobreza e numerosos inimigos. Um de meus tataravôs paternos, um coronel do cariri, costumava matar seus empregados e esconde-los no canavial, outra, materna, era uma índia pega a dente de cachorro, a outra era cega e outra uma megera, um bisavô era mulato, e outro um curandeiro. Um avô foi um pistoleiro envolvido em vendetas e que empobreceu por causa de uma vingança e o tataravô de meu avô materno massacrou os índios da minha cidade natal. Na minha árvore, nada disso aconteceu, sou o descente perfeito de uma família perfeita. Não vou estar mentindo, apenas omitirei dados embaraçosos e que não vão contribuir em nada para o meu orgulho familiar. Ou publicando indícios que não tenho certeza de que são verdadeiros. Dessa forma espero ser festejado pelos meus parentes. Espero que esse trabalho seja para os filhos dos coronéis o que “O D. Quixote” de Cervantes foi para a antiga nobreza espanhola.  Como diria meu amigo e mulato, o escritor realista, Machado: “Se esse trabalho te agradar pago-me com isso, se não pago-te com um piparote”. (1888). Boa leitura!

 

Pensei melhor e ao invés de criar uma nobiliarquia vou contar e inventar fatos com meus ancestrais. Misturando relatos com um pouco de imaginação criarei relatos mentirosos, mas muito saborosos.

O massacre dos índios.

 

Entre os séculos XVIII e XIX conta-se uma história pavorosa e devidamente abafada a respeito de um de meus ancestrais. De origem caririense, ele recebeu do estado, terras no sertão habitadas há séculos por tribos de índios cariris ultimamente mesclados com remanescentes de tribos oriundas do litoral ou negros de quilombos que fugiam para o interior em busca de refúgio contra a expansão dos brancos. Dessa forma, os cariris e esse ancestral, um capitão fulano de tal, entraram em conflito.

Certa vez ele foi para a região de Sergipe onde conheceu um escravo que sofria maus tratos de seu senhor. Comprou esse escravo e o trouxe. O escravo, talvez a mando de seu benfeitor, conseguiu se infiltrar entre os índios e descobriu que eles planejavam um ataque a sede da propriedade. O capitão pediu ajuda a seus parentes e aliados e conseguiu um grande número de pistoleiros, alguns de origem africana, já que os fazendeiros acoitavam quilombolas fugidos, em troca de trabalho e jagunços e boa parte destes negros recebia terras e se tornavam amigos dos fazendeiros.

O capitão e seus comparsas construíram um galpão de taipa coberto de palha com uma só abertura e convidou os índios para negociarem a paz. Os ingênuos nativos entraram nele e começaram a praticar seus rituais. O capitão, homem caridoso com os escravos, porém não tanto com os pobres índios, ateou fogo no galpão de onde estes tentaram desesperadamente escapar para serem mortos a tiros de bacamarte e golpes de espadas, facões e facas peixeiras. Depois de terminado o serviço, os pais da nação brasileira trataram de enterrar os corpos e atacar a aldeia. As mulheres jovens e bonitas foram tomadas como amantes do capitão e seus parentes, as demais ficaram para os pistoleiros. Crianças foram criadas e as meninas ao crescerem, tiveram o mesmo destino de suas irmãs mais velhas. Assim nasceu o sertanejo, a elite era branca ou mestiça com tais índias e o resto da população de origem cafuza, mulata, cabocla, cabra ou parda.

 

 

 

 

 

As índias.

            Duas moças, de origem indígena parecem ter sido assimiladas por essa família e se tornaram ancestrais deste autor. Uma tia mais velha contava a história de uma índia cariri pega a dente de cachorro. Ela foi adotada pelo capitão e parece que teve de lidar com a dor de se ver nas mãos dos assassinos de seus pais e irmãos. Foi recordada como uma senhora de cabelos grisalhos, pequenina e de pés descalços. Seu companheiro, neto do autor do massacre, assombrava a casa onde teria vivido.

            Outra matriarca, uma Velha Idiota, teria como hábito se maldizer e jogar praga em tudo e todos. Algumas vezes é recordada como índia ou cigana, pode ser outra remanescente deste massacre que não teria assimilado a morte de seu povo tão bem como sua parenta. Poderia ter sido divertido para o fazendeiro lidar com seu gênio, ao fazer dela um saco de pancadas nos momentos de frustração.

 

O coronel sanguinário.

 

            Certo tataravô, segundo fonte que prefiro não identificar, teria o hábito de matar empregados desobedientes e enterra-los no seu canavial, pois era senhor de engenho. Fontes da família contam algo assim de alguns coronéis rivais, o que indica um hábito bastante difundido. Conheço desse avô coronel á história de um jagunço que matou um policial e pediu ao coronel que desse um rifre e montaria para ir a Canudos lutar com Conselheiro, aonde veio a falecer.

            O filho do coronel recebeu um rapaz que fugiu com a filha de um empregado e pediu que fizesse o casamento já que não era aceito pelo pai da moça. O coronel aceitou o encargo e chamou o empregado, esse disse que preferia ter a filha rapariga à casada com aquele sujeito. O coronel disse que fazia o casamento e ponto final, o empregado fora de si, o feriu com sua foice, sendo imediatamente morto junto com a filha e o genro pelos pistoleiros do coronel, que ficou bem e espalhou o boato de que toda a família havia fugido da fazenda.

 

 

 

Os valentões

            O marido de uma neta do coronel sanguinário viu-se envolvido em conflitos. Conta-se que participou de uma vendeta famosa em que lutava a família de sua mulher. Desta sei apenas que haviam executado alguém da família rival e invadiram o velório procurando mais vítimas, esse avô do autor acendeu as velas do morto, já que todos fugiram apavorados do velório e sofreu uma reprimenda do coronel que liderava o processo.

            Numa festa acabou tendo uma briga com um parente da mulher, dizem que este chegou a espanca-lo, inclusive usou cadeiras para isso, a versão da família é menos dramática. O valentão segundo a família foi se desculpar, mas conseguiu aumentar a fúria de meu avô, procuraram apaziguar e chagar a um acordo, porem o perdedor e sua família ficaram para sempre humilhados na sociedade da época e uma das filhas, depressiva, jogava na cara do pai essa derrota. O poderia ele fazer? O cara além de mais forte andava sempre armado, atirava com as duas mãos e era muito mais importante do que ele. O tempo passava e a humilhação apenas aumentava, os negócios iam cada vez piores, todos o olhavam como a um covarde, não podia ficar assim. Passou meses praticando tiro e se preparando, aproveitou o recesso escolar dos filhos para leva-los ao Sertão, onde passavam às férias na fazenda dos avós e acertou as contas. Um dia, estava o valentão como sempre, saindo de seu engenho, o menino devia trazer o cavalo, porém naquele dia estava demorando. Entrou num bar para tomar o café, quando entrou o outro atirando pelas costas. Ele ainda reagiu, mas já estava ferido pelas balas dundum e não teve forças para acertar o agressor, seus tiros ficaram marcados na parede do bar. O outro atirou mais duas vezes, fugiu escondeu-se e esperou a morte do seu inimigo para sair da cidade, passou anos fugindo e destruiu o futuro de duas famílias.

O valentão, na verdade um homem, segundo as fontes, muito bom marido e empregador, estava com a mulher grávida, cujo filho nunca conheceu o pai, isto tudo graças a uma discussão no calor de uma embriagues de bar. Os filhos do matador perderam tudo e traumatizados pelo que aconteceu perderam o rumo e tiveram finais trágicos, foi-se o fim de duas grandes famílias.

Espero nestes relatos revelar a verdadeira face das famílias sertanejas que se esconde atrás de belas histórias de nobreza e fidalguia. É preciso lembrar, no entanto, que isso não é uma característica do sertanejo, a história recente dos “civilizadissimos” europeus, americanos e japoneses não difere muito da violência aqui descrita e lhes aumenta a crueldade.

O valentão, na verdade um homem, segundo as fontes, muito bom marido e empregador, estava com a mulher grávida, cujo filho nunca conheceu o pai, isto tudo graças a uma discussão no calor de uma embriagues de bar. Os filhos do matador perderam tudo e traumatizados pelo que aconteceu perderam o rumo e tiveram finais trágicos, foi-se o fim de duas grandes famílias.

Espero nestes relatos revelar a verdadeira face das famílias sertanejas que se esconde atrás de belas histórias de nobreza e fidalguia. É preciso lembrar, no entanto, que isso não é uma característica do sertanejo, a história recente dos “civilizadissimos” europeus, americanos e japoneses não difere muito da violência aqui descrita e lhes aumenta a crueldade.