No mundo carnal somos condenados pelas injustiças que cometemos, e sempre gritamos por justiça quando uma carreata aparece na porta da casa, ou a mídia lança uma nova fraude do governo. Mas o corpo nunca critica a justiça e o Estado, não busca o conhecimento necessário para alcançar a virtude, permanece na ignorância do comodismo e de seus vícios inseparáveis.

A virtude (areté) é o aperfeiçoamento da capacidade humana, que é melhorada para que o indivíduo esteja em harmonia com suas partes da alma, enquanto que a harmonia (armonía) é a libertação dos instintos de natureza do homem, permitindo que ele alcance o equilíbrio, esquecendo o corpo material que tem e se atenta a alma que o habita. Se a sociedade buscasse a virtude e a harmonia, se afastaria dos prazeres mundanos, dos vícios, e permitiria ao seres alcançar um raciocínio lógico sobre o que é justiça.

Quando se pensa em um assassinato, a alma irascível (ligada ao peito, incontrolável), faz sentir ódio, rancor, vingança, e traduz um conceito básico de justiça àqueles que não separam a razão do coração. Separar esses dois corpos é a chave mestra para qualquer compreensão lógica e neutra do conceito de justiça e suas aplicações. O corpo é a carne, o desejo, a paixão, o ódio, e este corpo que leva a sociedade ao caos, se separar a alma que vem aprendendo a dezenas de vidas como se tornar mais sábia, do corpo, teríamos a conclusão da justiça e da paz. Além de nos proporcionar enormes ganhos culturais, políticos e individuais, a busca pela harmonia e pela virtude arrancaria a sociedade da alienação que vive.

Talvez arrancar toda a sociedade do comodismo não seja a melhor solução, pois assim como cada filósofo tem suas teorias e conceitos, cada indivíduo da sociedade também teria os seus, e cada um tentando executá-los nos levaria ao caos novamente.

A justiça, para Platão, não é alcançada neste mundo, na forma física do corpo. A constituição que estabelece o que é justo e injusto e a forma como punir aqueles que causam desordem é apenas um meio de sentenciar o corpo a uma pena como castigo, mas a justiça verdadeira é a divina, da qual ninguém escapa. A justiça divina é feita sob a alma e não sob o corpo físico, e esta é a justiça universal, igual para todos os povos, distante do mundo terreno, esta sim é infalível e absoluta. Conforme o Mito de Er, a alma julgada injusta é condenada a 100 anos de punição, o tempo que em média dura uma vida no corpo, e aquelas almas julgadas justas são recompensadas com o dobro.

No Estado Ideal de Platão, a justiça não será alcançada aqui, somente no Além, mas para ele, o Estado Ideal que levaria a sociedade a busca pela razão e a separação com o mundano, seria um Estado liderado por uma única pessoa, pelo sábio, e não por muitas como acontece na atualidade. Como mencionamos anteriormente, cada indivíduo quer impor o que acha justo para si, quer impor as suas verdades, e isso gera o caos, a desordem, ainda mais quando liderado por corpos exclusivamente carnais, e não por areté e armonía.

Atualmente, os Estados são governados por dezenas de pessoas, que na sua maioria são apenas levadas pelos desejos mundanos dos seus corpos e não pela razão. A verdade absoluta nem chega a ser estudada por estes governadores, boa parte mal conhece da filosofia. A mudança do mundo mundano será longa, quiçá um dia conheceremos o Estado Ideal.