As batidas da bengala tinham o ritmo de seu coração.


Lá ia o velho, passos curtos, olhos opacos perdidos no tempo, golpeando forte sua bengala.
Corpo arcado pelos seus quase cem anos.
Vindo de seu país, quando criança, aprendeu cedo o trato da terra.
Cada estocada da bengala voltava à época que cavoucava para semear.
Tinha muito a contar, ensinar, mas ninguém para ouvir, aprender, então batia a bengala como forma de se comunicar, ser notado, percebido.
Mais dia, menos dia, partiria.
Cansado, tentava dizer com as batidas, a importância do trabalho dos que lavram com amor para o sustento daqueles que, confortavelmente colhem seus alimentos nas prateleiras das quitandas e dos supermercados.
Vinha lhe uma preocupação antiga.
Lá sem calçada para bater a bengala, como se comunicar com Deus? O que falar, sobre sua existência e realizações? Quantos talentos devolver ao criador se tudo o que fez na vida foi lavrar, semear e colher?
Afluíam lhe dizeres de seu pai sobre:
"A igual importância de um alto pinheiro no cume da montanha e uma frágil vegetação no fundo de um vale".
"Houvesse um só benfeitor da humanidade se alimentado com o que produzira, já teria valido a pena a existência".
Aprendeu a semear cuidar da plantação com carinho, amor e dedicação, pois as cantigas de ninar de sua mãe diziam que um anjo colheria o melhor fruto para levar a Deus no céu. O melhor produtor seria premiado, diretamente por Ele no dia especial.
A mensagem transmitida com o bater vigoroso da bengala era:
Faça, faça sempre. Haverá quem possa fazer melhor que você, mas faça. Procure sempre fazer o melhor.
"Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria". Bíblia
Não importa se ninguém o notar. Deus o vê.
"Um lavrador de pé é maior que um fidalgo de joelhos". (Benjamin Franklin).