ANTES UMA VERDADE DESAFORADA DO QUE UMA MENTIRA SINCERA

 

Texto:Daniela Souza

Certa vez uma amiga inconformada e triste não entendia porque nenhum dos seus relacionamentos vingavam, as pessoas desistiam dela antes mesmo de terem a oportunidade de  conhecê-la melhor.

Realmente era injusto, uma mulher pra lá de interessante, bem sucedida, viajada, independente, aparentemente não tinha explicação.

E eu analista nada delicada, eleita pelos meus amigos e em casos mais bizarros até por estranhos, mesmo não tendo a mínima noção técnica do assunto, estava lá consolando a criatura injustiçada, colecionadora de historias previsíveis sem final feliz, até não agüentar mais.

E de tantas vezes que escutava a coitadinha comecei a perceber, primeiro intuitivamente, depois prestando atenção no seu comportamento  também em relação a mim e a nossa amizade, que: As vitimas requerem uma atenção imensurável dos outros, as suas carências são monstros famintos sugadores de energia.

Carentes de afeto todos somos! Afinal vivemos em um mundo cada vez mais egoísta, egocêntrico, mas é preciso gostar também da própria companhia , em situações em que não temos nada nem ninguém, a nossa presença deve ser suficiente para alimentar nosso espírito. Ao contrario, o que nós motiva sempre estará na mão de alguém, de decisões alheias e não é justo e nem certo não ser o dono da própria historia.

Aí está o desafio, para isso é preciso crescer em espírito, evoluir nos sentimentos e também nas expectativas que criamos, desejar menos, simplificar as relações, projetar menos no outro e no final cobrar menos e dar mais sem calcular quem perde ou ganha, as trocas não devem ser comparadas ou barganhadas, se eu dou algo a alguém, deve ser porque essa ação me faz feliz, receber em troca faz  parte do ego da vaidade e apego.

A convivência deve ser algo prazeroso e não condição sine qua non para a felicidade.

A presença imposta incomoda, sufoca, as cobranças também. Dizer o tempo todo o que pensamos e sentimos é no mínimo opressor para quem tem que ouvir.

Querer estar perto a qualquer custo, manipular situações, por achar que só a amizade e o amor não bastam, ter o tempo a alma e o sangue do outro, fazer conjecturas, perguntas o tempo todo, só para saber se uma historia ou explicação é verdadeira.

Tudo isso pode ser legal dependendo da situação, mas repetir esse comportamento como marca registrada da personalidade é deixar qualquer um maluco.

 É muito engraçado ver uma criança grudada na perna da mãe e em algumas situações arrastadas nessa posição,  mas usar esse artifício depois de adulto para segurar o que se ama é de afastar qualquer um para o Tibet.

A vontade de controlar afasta de nós aquilo que mais amamos é como um desejo as avessas, que ao invés de aproximar, penaliza e no final perde.

Os pactos nos relacionamentos devem ter clausulas escritas na linguagem do coração, nem tudo é pingo nos “is” A vida não é um contrato e pessoas não são propriedades, pessoas são diferentes de coisas, sei que é uma afirmação ingênua, mas muita gente não pensa assim.

Os “coitados” criam padrões  repetitivos de erros por acharem que estão certos, enquanto existirem vitimas sempre haverá o opressor, só que nesse caso o opressor no final do filme é o mocinho, que corre da vitima (que não é tão coitada assim) feito um esquilo assustado com crise de asma.

Eis o motivo porque não sou terapeuta, acho que um analista jamais diria a verdade dessa forma, seria capaz de piorar o caso e criar um desastre, ou para ser menos cruel, uma crise convulsiva de choro e uma enorme vontade de nascer de novo.

Prefiro assim;  Antes uma verdade desaforada do que uma mentira sincera.