Análise filme O Contador de Histórias.

Micheline Antunes de Oliveira.*

Quando foi solicitado pelo ilustre professor André  Karst kaminski, aos alunos do 8º semestre de direito da FARGS, que assistíssemos um filme chamado :“O contador de histórias”, e depois escrevêssemos com o coração,me perguntei.....O que é isso? , o que é escrever com o coração? Como acadêmicos do curso de direito, estamos acostumados a escrever embasando nosso sentir em leis ou melhor, na letra fria da lei.Mas este mestre  nos solicitou tarefa totalmente oposta. 

Confesso que assisti ao filme com certa desconfiança não sou muito dada ao cinema nacional, apesar de ser brasileira, mas nos primeiros cinco minutos comecei a entender o que nosso mestre queria dizer, e ao final do filme refleti e entendi complemente o que é escrever com o coração. 

Este filme  no começo relata a história de um menino, mas poderiam ser muitos, este filme relata a verdade nua e crua do que fazemos com as nossas crianças brasileiras.Choca, embrulha,faz pensar. 

O filme acontece em Belo Horizonte década de 1970,onde uma mãe com dez filhos, no desespero e esperança que só uma mãe sabe sentir, escolhe um , elege um dos filhos para que seja doutor, para que tenha uma vida digna, para que tenha comida , educação e moral,e o leva então para a instituição ,que promete tudo e nada cumpre a FEBEM.

*Micheline Antunes de Oliveira –Acadêmica de Direito do 8º semestre das Faculdades Rio-Grandenses. (FARGS).

Inadmissível o governo da época vendendo uma imagem da FEBEM que nunca existiu, nem nos sonhos mais utópicos.E a mãe na sua ingênua ignorância acreditando que realmente aquele era o caminho para o seu filho, o seu escolhido.

Depois de conhecer a dor do abandono em nome de uma vida melhor, o menino já na instituição, percebe que para ser respeitado precisa se impor, mas os valores passados pela instituição não são nem de longe valores “cristãos”.A imposição acontece através de  violência que por sua vez, caminha a par e passo com o desrespeito pelo ser humano , e ao seu turno a fuga da realidade cinzenta é o uso de drogas e com eles os delitos , a descrença no seu potencial é evidente e salta aos olhos,rotulada inclusive pelos próprios membros da instituição  que classificam o menino de nome Roberto de irrecuperável

Mas o ser humano é dotado de um segmento moldável o caráter, e isso ninguém poderá deturpar. 

Tudo que aquelas crianças e adolescentes , que vi neste filme da vida real, precisam é de uma chance , de uma mão que aponte para o espelho e mostre nele o semblante  de um vencedor refletido. 

Em dado momento de sua vida, aparece a pedagoga francesa Margherit Duvas, que aos poucos, com palavras carinhosas e atitudes educadas vai conquistando o menino irrecuperável.Parece até mesmo uma inverdade a doce francesa encontra um menino negro na FEBEM , a troca de experiências entre os dois é incrivelmente séria  ao ponto de eu,na minha mísera condição de ser humano, achar que ainda podemos ter esperança de um mundo condigno. 

A doce,valente e crédula francesa brinca de mãe, ensina o certo e o errado, o doce e o amargo, e a mãe de verdade? O que acontece com a mãe de verdade, a mãe biológica, essa não pode ser condenada em momento algum, haja vista foi enganada na sua total ingenuidade e porque não dizer torpeza, deixou o filho na FEBEM , para que lá ele saísse doutor.

O menino cresce e com ele a esperança de uma vida melhor ao lado da  sua “fada madrinha”.Com o crescimento veio a alfabetização, e com ela chegou junto as asas da imaginação. 

Vivendo na França o menino negro, pobre, sujo, faminto, que tinha vontade de morrer , porque a fome de viver foi-se embora com a dignidade quando ele foi molestado,fez-se homem concluiu os estudos, fez-se cidadão.E a maior lição que poderia ensinar, ensinou...Voltou  não apenas para o Brasil, mas para o ponto primeiro, onde sua mãe biológica maior referencia até então, o deixou.O Homem Roberto Carlos retorna a FEBEM, não como garoto de rua  irrecuperável, mas como educador.O então educador inicia  sua história,  mesclando com as histórias de vida das crianças que estão na instituição, servindo de paradigma benéfico, servindo de esperança para muitas crianças. 

A lição de vida retirada, desta hora e meia em que fiquei em frente da televisão assistindo o filme, vai acompanhar-me pelo resto dos meus dias,ampliou horizontes,fez cair barreiras de preconceitos arraigados ao longo da minha existência , e acima de tudo serviu como inspiração.Foi isso que meu coração solicitou que eu escrevesse, e assim o fiz.