O amor imortal morre – era o título da redaçao que li para os alunos aquele sabado a tarde. Naquele dia com aquele texto, arrancava-lhes da alma, em pleno sol escaldante a esperança do amor eterno. Naquele texto, aquele moço que apaixonara pela mocinha e tentara suicidio depois do fim do namoro alegando um amor eterno, um dia a encontra anos mais tarde numa esquina, teceram criticas ferozes sem se reconhecerem ao se esbarrarem na rua. Ali se comprovava que amor imortal morre.

Nquela epoca eu olhava para dentro dos olhos do amor e acreditava mesmo que fosse eterno. Era impossivel assimilar a visao daquele texto, sem fazer nariz retorcido, sem criticas ao autor tao elegantemente cinico que descrevia o amor imortal morrendo. Isso parecia-lhe estupidez, o amor seria pra sempre, sempre na mesma sintonia, na mesma magica, na mesma força. Para mim naquela época, amor imortal nao morria, nao com os anos, nao com esbarroes nas esquinas, anos depois.

Hoje dias e dias depois, vejo que amor imortal morre todos os dias por aí, nas esquinas dos acontecimentos. Todo dia se morre um amor imortal, todos os dias se matam um amor imortal, nas esquinas aos esbarroes por.

Mata-se um amor quando estar junto parece nao ser a coisa mais importante do mundo. Quando o silencio absurdo torna abismo entre dois. A toda hora em toda esquina o amor morre aos esbarroes numa cama de motel gelado, na porta de um fórum, no altar da igreja, num bar de luxo da cidade,nas vielas abarrotadas de sexo e drogas. Todo dia mata-se um amor com palavras asperas, com a frieza da indiferença, com falta de gestos singelos. Mata-se um amor sem um afago no cabelo, sem um olhar sincero, quando se atrasa na chegada e o outro nem nota.

Toda hora um amor imortal morre nas maos implacaveis de um controle remoto, o amor morre tombado diante de uma tela, num clicar de dedos. Mata-se o amor lentamente, descabidamente quando se estende o braço na cama larga e há um vazio. O amor morre nas noites solitárias onde um dorme enquanto o outro fica. Mata-se um amor quando amanhece e um sai para trabalhar, o outro afaga seus cansaços das noites gastas à toa.

Mata-se um amor por coisas tolas. O amor morre na boca de cada palavrao. Mata-se o amor no primeiro tapa, mata-se um amor quando o absurdo das coisas foras sufocam a beleza do que está dentro. Mata-se o amor quando se deixa morrer as coisas simples da vida.

Mata-se um amor de tantas maneiras e de todas as formas o tempo todo em todas as esquinas da vida, aos esbarroes com um sujeito ou sujeita que a gente jurara que conhecia tao bem.

Todo dia morre-se lentamente um grande amor imortal, aos esbarroes por aí nas esquinas da vida.

                                                             

                                                           Joíra F.