A Velha Senhora
Publicado em 16 de julho de 2009 por Romano Dazzi
A VELHA SENHORA
Entre as figuras públicas, a Velha Senhora é uma das mais injustiçadas.
Inflexível e insensível - dizem alguns.
Malvada e vingativa – sustentam outros.
Mas há todo um setor de admiradores, que a consideram justa, salvadora, misericordiosa - e lhe imploram um pouco de atenção.
Como acontece a todos aqueles que têm certa notoriedade, levanta críticas e admiração; ódio e amor; repulsa e desejo.
Alguns dizem que ela anda sempre apressada, atrasada, estabanada; é por isso que às vezes golpeia com sua foice afiada, enquanto corre de um lado para outro, pessoas que não imaginaríamos e em momentos que nos parecem errados.
Mas outros a descrevem como uma figura paciente e tranqüila; que dispõe de todo o tempo do mundo; que olha sempre para aquele grande relógio mágico, onde as horas passam lentas demais para alguns e rápidas demais para outros; e cumpre o nosso destino rigorosamente, por esse grande Tempo, que nunca se adianta, que nunca se atrasa.
Há quem diga que a percebeu (mas eu não acreditaria nisso, nem que visse) sentada à cabeceira de um coitado, esperando o momento de fechar-lhe os olhos e levá-lo.
A velha senhora tem um exército de ajudantes e colaboradores, que facilitam suas tarefas, atualizam sua agenda, apressam seu expediente: entre outros, maus médicos, traficantes, policiais, soldados, cientistas malucos e matadores profissionais.
E depois, os micróbios, bactérias, vírus, sempre dando uma mãozinha e às vezes até saindo do controle e ultrapassando as barreiras da lógica.
Por fim, as inúmeras catástrofes e desastres, naturais ou artificiais (terremotos, maremotos, inundações, erupções) sem as quais a tarefa imensa da Velha Senhora seria praticamente impossível.
Mas sempre me pergunto se a sua intervenção é justa, é criteriosa, é “honesta” quando põe um fim à nossa passagem por aqui, sem diferenciar idade, poder, tarefas inacabadas e obrigações descumpridas.
Para quem a espera ansiosamente, como uma liberação final dos males que o afligem, a chegada dela é um ato de bondade, de misericórdia.
Ela cancela todas as penas, as dores, o sofrimento.
Encerra uma fase e talvez inicie uma outra.
Mas este jogo de xadrez não agrada àquele que é colhido de surpresa pela fatalidade; e parece-lhe a maior injustiça, a mais incompreensível trapaça preparada pela vida; um corte abrupto num percurso difícil e maravilhoso.
É uma pena que as pessoas não se acostumem com a idéia de que ela aparecerá, um dia, inevitavelmente; e que não se preparem para recebê-la de uma forma digna.
De qualquer forma, tenha-a presente em sua mente, pois o pensamento dela limitará os seus sonhos, reduzirá seu orgulho e sua vaidade, restituirá humildade à sua alma; afinal, você poderá cruzar ainda hoje o seu invisível caminho e sofrer a conseqüência única e final desse imprevisível, mas inevitável encontro.