Dr. Clemente após outro extenuante dia de trabalho no hospital resolveu caminhar.
Era uma linda manhã de outono.
O céu estava todo azul, embora no horizonte se avistasse grosas camadas de poluição. Havia dias que não chovia.
Igualmente a todas as cidades grandes, o trânsito tornara-se intolerável.
Sentada no chão, uma senhora permanecia abandonada na porta de um comércio fechado. Mais uma pessoa as margens.
Muitos estão fechando por conta dos altos aluguéis dos imóveis comerciais. Valores insuportáveis para pequenos.
Dr. Clemente pensou na imensa dificuldade para um pequeno chegar ao topo, uma vez que os grandes já começam enormes e os pequenos quase sempre ficam as margens.
A mulher mendigava estendendo a mão a todos que passavam. Poucos a atendia com alguns trocados. Neste caso, especificamente, eram os mais simples que contribuíam.
O aspecto inicial dela era de quem tinha problemas mentais, talvez causados por drogas, principalmente álcool e abandono.
Falava sozinha, resmungava contra quem não a atendia nas esmolas.
O local era próximo a um cruzamento.
A avenida tinha cinco faixas de rolamento.
O farol fechou para um dos lados. Dr. Clemente pacientemente ficou aguardando sua vez para atravessar.
Neste curto espaço de tempo, uns motoqueiros, sempre são vários na mesma avenida, provocaram um ciclista solitário que todo paramentado, roupas e capacete próprio, tentou ultrapassá-los.
Aí iniciou um ruidoso bate boca, próximo a uma contenda.
A senhora, sentada em seu cantinho, com voz forte e clara, pediu em alto e bom som que eles mantivessem a calma e paz no trânsito.
Incrivelmente os ânimos se amainaram. O farol abriu. Todos seguiram seus caminhos e tudo fluiu tranquilamente.
O Dr. Clemente atravessou pensando que uma mulher como aquela, aparentemente rude e fora da realidade, considerada por muitos como louca, conseguia ver as coisas com muito mais clareza que muitos tidos como normais e mais providos de bens, apenas de bens, mas sem nenhum espírito de união e amor.