A desalienação de Luiza Brunel,

 

Desculpe-me por falar do casamento, pensando não se achar você casada ou em convivência estável. Refiro-me ao casamento que impede o crescimento seu; geralmente ele, casamento, traz essa dificuldade, uma a mais entre todas que se terá pela frente, todos quantos desejem fazer progresso na vida. Note bem, falo de progresso como sendo a sua resposta ao ser picada pela alegria do intelecto, pelo vírus do conhecer, pelo descortino da vida em outras dimensões, muito além das tacanhas opções que muitas vezes o sujeito do saber, vai se esvair nas soberbas do mundo, na ignorância da alienação, nos prazeres menores da vida.

 Quando somos atingidos pelo saber em seu horizonte perspicaz, é como se fôssemos picados por um vírus mesmo; entramos numa alegria indizível em certos momentos e numa tristeza na constatação sobre os vários sentidos, ou nenhum, da vida. Mas ao lermos um livro como Fogo Morto, Menino de Engenho, de Lins do Rego, Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia, Morte e Vida Severina, de João Cabral, ao assistirmos um filme como O Carteiro e o Poeta, entra em nós um encantamento do Mundo e nos atiça para outros sentidos da vida.  Na área das ciências, como advogados, penetramos da Teoria Crítica do Direito, de onde podemos enxergar com maior vastidão aquilo que o Direito não realiza, sua cumplicidade com o Iluminismo irrealizada, sua dormência  e leniência com o sofrimento do povo envolvido numa batalha inglória difusa na Luta de Classes de que nos falou Marx.

 Luiza Brunel, falo lhe como o seu Tio, mas também como amigo, e vendo um belo horizonte à sua disposição, que você aproveitando o saber, vai conquistar.  Digo isso porque seu pai já adubou o seu futuro, portanto, você pode se dedicar a ser grande de verdade, podendo atingir os píncaros da glória, seja em razão direta do desenvolvimento intelectual-literário, seja pela ruptura com a alienação; seja ainda, pelo desapego e pelo desenvolvimento de sentidos acalentadores das feridas abertas no povo. Tudo isto se realiza pela pessoa com a consciência dos movimentos sociais, e de como estes também se perfectibiliza no tempo.

 Dos textos acima, um é meu, aliás, dois.  Lênio Streck eu o conheci em 2005, num Congresso de Direito Constitucional realizado em Londrina, PR, quando cursava o mestrado em Direito Constitucional e Estado. Julgo-o um dos homens mais importantes no Brasil, por sua independência intelectual, perante a UFRS.  Mas UFSC é bastante ativa na Teoria Crítica do Direito. Portanto, você acessar os respectivos sites começar a tomar ciência de como se dá o acesso aos seus mestrados. Ambas as UF, RS, PR, SC, são excelentes instituições. Basta um idioma, para o mestrado. Você pode tranquilamente prosear sobre isto com seu pai, obtendo dele o financiamento, que você se compromete a restituir em arrobas de boi, se o puder fazer no futuro. Se não puder restituir em dinheiro, você pode se comprometer a devolver todo o capital, juros e correção monetária, em dólar, mas em prazer e alegria por sua glória, para ele, para a Arimatéia, sua irmã e até eu.

 As aulas num curso de mestrado acadêmico, geralmente, se dão em um ou dois dias da semana, pela manhã, tarde ou noite. Você tem todos os demais dias para ler, pesquisar, escrever, ver teatro, cinema, movimentos musicais, enfim, um desenvolvimento. Você te, um ano para concluir as 4, 5 ou seis disciplina e depois, mais um ano para escrever a sua dissertação. Tudo isto Luiza Brunel lhe faculta um prazer indizível.  É gostoso estar num meio de estudantes sérios, desalienados, especialmente, no meio do corpo docente.

 Lembro-lhe de que o casamento não é naturalmente contributivo para o crescimento acadêmico.

 O Mestrado é extremamente indispensável para se começar a apensar em termos acadêmicos; a organização do pensamento e da escrita não pode prescindir das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas, mas também não pode prescindir da lavragem cerebral inversa, ou seja, nulificar todas as formas transmitidas com o sentimentalismo familial, tão inútil para os dias que correm.

 Toda necessidade gera um desconforto ou um desequilíbrio capaz de impulsionar ou desencadear a busca da satisfação ou o restabelecimento do equilíbrio. Para muitos, o heroísmo consiste apenas em sobreviver, em não se deixar arrastar pela descrença e pelo desânimo. Não se pode sonhar à força. E ninguém sonha unicamente para agradar aos outros. Mas quantos dentre nós nos mantemos aqui de corpo inteiro, de sentimento inteiro, com a consciência de que na profissão docente é impossível separar o eu profissional do eu pessoal, sem ilusões que os tempos presentes não estão para tal, mas na certeza de que ser professor é uma profissão que só assim vale a pena ser vivida. Desse modo, pode-se completar essa afirmação com as palavras de Piaget (2002): Toda necessidade tende: 1º. a incorporar as coisas e pessoas à atividade própria do sujeito, isto é, “assimilar” o mundo exterior a estruturas já construídas, e 2º. a reajustar estas últimas em função das transformações ocorridas, ou seja, “acomodá-las” aos objetos externos. (p.17) [https://www.facebook.com/luciana.moura.108]

 A renúncia ao posto de tubo digestivo do sistema neo-capitalista é uma sabedoria contida dentro da des-alienação.

 Abraço

 Assis Rondônia,

Limeira, 05.12.2012