Cada vez mais vemos o processo de individualização se expandir em nossa sociedade. Os círculos de convivência social diminuem, coesões grupais desfalecem, o ambiente competitivo cresce e há uma grande tendência ao egocentrismo.  Ao passo que o indivíduo entra neste processo de introspecção na sociabilidade real, ele entra em um processo de projeção no “mundo virtual” como cano de escape. Onde constrói rede de amigos, contatos entre diversas pessoas e atividades on-line cada vez mais abrangentes. E essa forma de contato tem se expandido cada vez mais. O pensamento do homem, quanto a ele mesmo e o mundo que o cerca, nunca foi tão abrangente, e as diferenças de status tão gritantes e valorizadas.
A dura realidade faz com que todas as pessoas, em graus distintos, troquem o real pelo ideal. Até certo ponto isso é saudável, precisamos de sonhos e projeções futuras para viver. Mas vivemos em uma sociedade repleta de ideais (Ideais de beleza, de emprego, de família, de amigos, de salário, de par afetivo, etc) que acabam aguçando este idealismo exacerbado. Encontramos assim na realidade virtual um lugar onde, pelo menos parcialmente podemos realizar nossos ideais. Isso nos leva a buscar inúmeros contatos virtuais, ter inúmeras possibilidades, como a de manter contato apenas com quem queremos e quando queremos, por exemplo. Ou ainda de tentar mostrar apenas o nosso melhor, não que não tentemos fazer isso no real também, mas no virtual isso é muito mais fácil.
Ao passo que estamos cada vez mais “ensimesmados”, perdendo o hábito de olhar o outro, de ter relacionamento com os vizinhos, de almoçar em família, de ter tempo para conversar e perceber o outro. Estamos cada vez mais sérios, andando rápido, com nossos pensamentos nos horários e afazeres a cumprir. Nosso tempo tomado por horas extras de trabalho, e nossos Mp3 no ouvido como se pudesse falar: - Não quero papo!
Mergulhamos cada vez mais neste mundo cibernético, de realidade alternativa, de contatos virtuais e em boa parte das vezes, superficiais. Mergulhamos neste mundo de idéias.
Hoje você tem a liberdade de ser quem quiser, quando quiser. De ter uma vida a par da dura realidade que há fora desta tela de computador.  Só esquecemos que idéias só existem na mente e não servem de pilar de sustentação para ninguém, aumentando exponencialmente assim a propensão ao sentimento de frustração e de melancolia. Com a possibilidade de reviver as fábulas da infância, de maneira nova, desta vez aparentemente mais realizável (Verdade essa que não passa da aparência) mergulhamos neste mundo de inúmeras possibilidades e poucos limites.
Nossa sociedade tem um rosto bonito, mas uma auto-estima muito baixa. Uma necessidade de aprovação constante, uma necessidade de realizar todos os desejos, de forma rápida e fácil. De buscar soluções fáceis para problemas difíceis. Esse é um dos motivos dos consultórios dos psicanalistas, psiquiatras e psicólogos estarem tão cheios. Nunca se falou tanto em distúrbios, e creio que nunca interiormente o homem foi tão infeliz.
Mudar tudo isso é muito difícil, está encravado no cerne da sociedade moderna. Precisaríamos rever valores, reconstruir laços, traçar novos objetivos, construir uma nova estética social, mudanças que requerem tempo, paciência e profunda reflexão... Tudo que não privamos. E afinal de contas, o mundo virtual está ali, pronto para recebê-lo como você quiser, a apenas um click de distância.