O Faceiro homem das poucas palavras, o filósofo calado

Imagine um homem de poucas palavras, que fala apenas o necessário e, quando perguntado, responde com frases curtas. Alguém assim poderia facilmente ser rotulado como um amargurado, alguém que não gosta da vida. Mas será que é isso mesmo?

Zé Faceiro, como era conhecido, era um homem de estatura média e pouco sociável, mas não por falta de vontade de se comunicar. Ele sabia que nem sempre é preciso falar muito para ser compreendido. Em vez disso, ele preferia expressar suas ideias por meio de seus atos.

Diferentemente do que muitos pensavam, Zé não era infeliz. Na verdade, ele era um homem sábio e que sabia valorizar as coisas simples da vida. Ele não precisava de muitas coisas para ser feliz, apenas do mínimo necessário. Como diria o filósofo grego Epicuro, "não é necessário muito para uma vida feliz, é preciso apenas o suficiente".

E uma das coisas que faziam Zé Faceiro feliz era suprir suas necessidades na Fazenda Veredinha, do senhor Domingos Soares d'Abadia, seu Nozin. Este era um homem perspicaz e que sempre ajudava seu vizinho carente. Como disse o filósofo francês Voltaire, "o bem que se faz em um momento esquece-se logo; o mal que se faz dura muito tempo".

Zé Faceiro não era uma pessoa desgostosa da vida, pelo contrário, ele sabia aproveitá-la da melhor forma possível. Ele entendia que a felicidade está nas coisas simples, como o sol que aquece o rosto em uma tarde ensolarada ou o cheiro da terra molhada depois de uma chuva. Como dizia o filósofo chinês Lao-Tsé, "a simplicidade é o último grau de sofisticação".

Enfim, Zé Faceiro pode até ter sido um homem de poucas palavras, mas suas ações falavam por ele. Ele era um filósofo calado, que sabia valorizar as coisas simples e encontrar a felicidade nas pequenas coisas da vida. Como diria o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, "a felicidade não é algo pronto. Ela vem de suas próprias ações". E Zé Faceiro era um mestre em colocar isso em prática.

1. 

Zé Faceiro, o homem de poucas palavras e muitos ovos, era um sujeito tão austero que poderia ser confundido com um eremita. Porém, a verdade é que sua simplicidade era sua maior virtude. Ele não precisava de muito para ser feliz e, como dizia o grande filósofo Sócrates, "o que mais desejo é a simplicidade. Não peço nada de grandioso ou extraordinário".

Seu Zé tinha uma relação especial com a Fazenda Veredinha, onde seu Nozin ajudava-o sempre que possível. E, ao levar seus ovos em um tambor de 50 litros, ele não só supria suas necessidades, mas também ensinava a meninada sobre respeito pelo próximo e solidariedade.

Ao chegar à casa do seu Nozin, não era só uma troca comercial de ovos por dinheiro, mas também uma oportunidade para ensinar valores e fazer uma verdadeira aula de filosofia. E, como disse o grande filósofo Aristóteles, "a educação é a melhor provisão para a velhice".

Seu Zé Faceiro não era só um homem de poucas palavras, mas também um homem de muitas lições. E com seu exemplo de simplicidade e solidariedade, ele inspirava a todos a viver uma vida mais autêntica e significativa.

2.

Seu Zé Faceiro era um verdadeiro filósofo, mesmo sem nunca ter estudado em uma universidade. Ele entendia que a vida em si era a maior lição que poderíamos ter, e assim ensinava aos seus vizinhos a importância do respeito, da solidariedade e da luta pela sobrevivência.

Como diria Nietzsche, "a vida sem música seria um erro", e seu Zé Faceiro trazia consigo uma música própria, a música da vida. Ele ensinava que mesmo nos momentos mais sombrios, era possível encontrar motivos para comemorar, e que a luta pela sobrevivência era um movimento constante e necessário.

Seu Zé Faceiro também sabia que a riqueza não está apenas no dinheiro, mas na companhia do outro, na empatia e na compaixão. Ele não ensinava a se acostumar com a miséria do outro, mas sim a enxergar a realidade e a buscar formas de ajudar aqueles que precisavam.

Como dizia Sócrates, "só sei que nada sei", e seu Zé Faceiro entendia que a vida era uma constante aprendizagem. Ele ensinava a leveza do corpo, a importância dos passos que damos e que cada pequena morte que enfrentamos era uma conquista para a vida.

Ao final do dia, o que ficava como ensinamento era a própria vida. E assim, Seu Zé Faceiro continuava ensinando a maior lição que poderíamos ter, a lição da vida.

3. 

A partir da vida do seu Zé Faceiro, seu Nozin começava a lição, explicando que os ovos representavam a vida e as cascas de arroz representavam os obstáculos que encontramos em nosso caminho. Ele pedia aos alunos que pegassem um ovo e tentassem quebrá-lo com as próprias mãos, sem a ajuda de qualquer ferramenta. Claro que a maioria não conseguia, e ele explicava que, assim como o ovo, a vida pode parecer frágil e difícil de ser quebrada, mas com determinação e força de vontade, podemos superar os obstáculos que aparecem em nosso caminho.

Era nesse momento que ele pedia para a meninada jogar as cascas de arroz no chão, e caminhar sobre elas. A princípio, alguns tinham medo de machucar os pés, mas ele explicava que, assim como as cascas de arroz, os obstáculos da vida podem parecer desconfortáveis e dolorosos, mas se aprendermos a lidar com eles e a caminhar sobre eles, podemos chegar onde queremos.

A aula com base na venda do seu Zé Faceiro era uma lição de vida, que ensinava a importância da resiliência, da determinação e do respeito pelo próximo. Como dizia Sartre, "a vida começa no outro lado do desespero", e seu Nozin mostrava com seu ensinamento que, mesmo diante das dificuldades, sempre há uma saída, sempre há uma chance de recomeçar.


4. 

Vejam só, meus queridos aprendizes, este é o fruto da terra e do trabalho do meu amigo Zé Faceiro. Ele não tem muito, mas o que tem, ele divide com alegria e generosidade. Aprendam com ele a simplicidade e a humildade, valores tão importantes em nossa existência”.

Nozin pegou um dos ovos e colocou delicadamente na cumbuca, passando-a para um dos alunos presentes.

“Agora, cada um de vocês irá pegar um ovo e o segurará com carinho e atenção. Este ovo representa a vida. Como ele é frágil, como ele precisa de cuidados e atenção constantes para se desenvolver e crescer forte. Mas assim como a vida, ele também tem uma grande força, capaz de romper sua casca e emergir para um novo mundo”.

Nozin continuou a falar sobre a importância de valorizar a vida e de cultivar a gratidão pelo que se tem, não apenas pelos ovos e outros bens materiais, mas também pelos relacionamentos e conexões com outras pessoas.


5. 

_ “De certo que só estes primeiros ovos prestam”, disse seu Nozin. Uma fala não ignorada. A atenção volta, outrossim, para o resto dos ovos e a pergunta que estava em cada boca era: “os outros ovos estão podres?!”. Se estão podres, por que  aceitar pagar por tudo era uma questão de ajuda humanitária? Isso foi bem entendido na aula: se alguém tem alguma necessidade e você consegue supri-la, faça. Assim, seu Zé Faceiro estava trabalhando para ganhar o pão de cada dia e seu Nozin dava aula de vida aos seus filhos: a vida ensina.

6. 

E os ovos? Bem, os ovos são apenas uma metáfora para a vida. Às vezes, encontramos ovos bons, outras vezes encontramos ovos podres. O importante é aprender a lidar com essas situações e encontrar maneiras de aproveitar o que temos. Como disse o filósofo Nietzsche: "O que não me mata, torna-me mais forte". Então, quando a vida nos der ovos podres, devemos usá-los como adubo para cultivar coisas boas no futuro. E quando encontrarmos ovos bons, devemos apreciá-los e usá-los da melhor maneira possível.

A aula de vida do seu Nozin e seu Zé Faceiro pode parecer simples, mas é uma lição valiosa. A vida é cheia de altos e baixos, e cabe a nós aprender com essas experiências e crescer a partir delas. Como disse o poeta Walt Whitman: "A vida não é uma existência embelezada, é a própria beleza". Então, vamos aproveitar cada momento e aprender com cada ovo que a vida nos dá.
Ao final da aula, os alunos se despediram com mais conhecimento sobre a vida e um grande sentimento de gratidão por terem tido a oportunidade de aprender com Zé Faceiro e Nozin.


Padre Joacir d’Abadia, filósofo