A dança das folhas e o desperta do coração


No compasso do descompasso do infortúnio viver, o coração repousa, uma folha solitária à deriva na imensidão da existência. Por que, então, a ausência fere tão cruelmente esse órgão inocente? As folhas dançam ao sabor dos ventos, se aquecem sob o abraço do sol e, inevitavelmente, se rendem ao envelhecimento e à decadência. No entanto, mesmo em sua efemeridade, elas encontram a serenidade na transitoriedade, aceitando seu destino com resignação.

O coração humano, por sua vez, é atormentado por emoções intensas e indescritíveis. É um delicado equilíbrio entre fragilidade e força, capaz de amar com paixão arrebatadora e de sofrer com uma dor dilacerante. Assim como a folha, ele pode ser levado pelos ventos da paixão, aquecido pela luz do afeto e, em algum momento, se desidratar com a passagem inexorável do tempo. Mas a calma é uma virtude a ser buscada, mesmo nas tormentas.

A ausência, porém, é uma ferida profunda no coração. É como se o mundo perdesse suas cores, tornando-se um mero esboço de existência. A falta do outro é uma ausência de sentido, um vazio que preenche o peito com uma dor penetrante. O coração anseia pela presença que lhe traz vitalidade, nutrindo-o com a doçura da conexão humana.

No entanto, é na ausência que o coração encontra sua própria força. Como a folha que se desprende da árvore mãe, ele aprende a voar com suas próprias asas. Encontra na solidão um espaço de reflexão e autodescoberta, um tempo para curar as feridas e fortalecer-se para o próximo ciclo da vida. É nesse momento de quietude que o coração se reconecta consigo mesmo, encontrando sua essência além das interações externas.

E quando o tempo arrasta suas horas e as feridas começam a cicatrizar, o coração desperta para a beleza do reencontro. O infortúnio do passado se dissipa na brisa suave da esperança. A folha, que antes repousava solitária, encontra outras folhas para dançar em harmonia. O coração, tão machucado pela ausência, redescobre a alegria do amor compartilhado.

Assim como a folha, o coração encontra sua paz na impermanência. Pois é na experiência de perder e reencontrar que ele descobre sua própria resiliência. A cada novo ciclo, renova-se a sabedoria de saber que, mesmo quando o vento sopra ferozmente e as lágrimas são inevitáveis, o coração tem a capacidade de se curar e florescer novamente.

Que possamos, então, abraçar a dualidade do coração e da folha, reconhecendo a beleza e a fragilidade de suas jornadas. Em cada novo amanhecer, possamos acolher a dança da vida, mesmo nas cicatrizes do passado. E que o nosso coração, como uma folha resiliente, continue a encontrar forças para se reinventar, mesmo diante das adversidades. Pois é na interseção entre a fragilidade e a resiliência que encontramos a verdadeira essência de nossa humanidade.

Que possamos aprender com a folha que, mesmo ao cair, encontra beleza na dança do vento. Que possamos nutrir nosso coração com a luz do sol, permitindo que ele se aqueça no calor do amor e da compaixão. E que, mesmo diante da secura do tempo, possamos encontrar a calma necessária para nos reconectar conosco e com os outros.

Pois a vida é um eterno fluxo de encontros e desencontros, de idas e vindas, de alegrias e dores. O coração é o protagonista dessa jornada, navegando pelos mares tempestuosos e descobrindo ilhas de paz. Ele é o fiel guardião de nossas emoções mais profundas, capaz de transformar a existência em uma sinfonia de sentimentos.

Portanto, não devemos temer a ferida causada pela ausência, pois ela é parte intrínseca do tecido da vida. É nessa cicatriz que reside a sabedoria e o amadurecimento. Assim como a folha que renasce na primavera, nosso coração encontrará a renovação. Pois a ausência e a presença são faces da mesma moeda, tecendo o enredo da existência humana. E é nessa dança, nesse movimento constante entre perdas e ganhos, que encontramos a beleza da vida.

Que possamos, então, abraçar a jornada do coração e da folha, reconhecendo que ambos são parte de um todo maior. Que possamos encontrar serenidade nas oscilações da vida e no eterno mistério do amor. E que, no final, quando o último suspiro escapar de nossos lábios, possamos olhar para trás e saber que vivemos plenamente, deixando um legado de histórias e reflexões que ecoarão através dos tempos.

Pois o coração, assim como a folha, é um símbolo de nossa humanidade e da efemeridade de nossa passagem por este mundo. Que possamos, então, aproveitar cada momento, cada encontro e cada ausência, sabendo que somos parte de algo maior, parte da grande sinfonia universal. Em síntese, que o coração siga sua jornada, corajoso e vibrante, e que a folha continue a dançar nos ventos da eternidade.


Padre Joacir d’Abadia, Filósofo, autor de 16 livros, Especialista em Docência do Ensino Superior, Bacharel em Filosofia e Teologia, Licenciando em Filosofia, Professor de Filosofia Prática. Acadêmico: ALANEG, ALBPLGO, AlLAP, FEBACLA e da "Casa do Poeta Brasileiro -  Seção Formosa-GO"_ Contato: (61) 9 9931-5433 | Segue lá no Instagram: https://www.instagram.com/padrejoacirdabadia/