O PROFESSOR E AS QUESTÕES RACIAIS EM SALA DE AULA

Jeovane Soares Rodrigues1

Resumo: Observamos que no cotidiano escolar, considerável parcela de profissionais da educação diz não perceber os preconceitos e as discriminações raciais entre os próprios alunos e entre os professores e alunos. Por esse mesmo caminho, muitos também não compreendem em quais momentos ocorrem atitudes e práticas discriminatórias e preconceituosas no seu fazer pedagógico que impedem a realização de uma educação que erradique tais práticas. Este artigo tem como intuito discutir e desmitificar problemas enfrentados pelos educadores e como trabalhar o racismo, ou melhor, discutir em sala de aula. Palavras-chave: Preconceito racial, contexto escolar, professores. Abstract: We note that in everyday school life, a considerable portion of education professionals say not realize the racial prejudice and discrimination among students and between teachers and students. By the same way, many also do not understand at what time and prejudiced attitudes and discriminatory practices occur in their pedagogical impeding the realization of an education to eradicate such practices. This article has the intention to discuss and demystify problems faced by educators and working racism, or rather fight it out in the classroom. Key - words: Racial Prejudice, school context, teachers. Quando o homem se associa a um grupo, ele constrói com mais eficácia as respostas que o levam a solucionar eventuais processos decisórios. Embora essa ação coletiva promovesse um avanço na política social, as normas geradoras do Brasil são muito mais de favores e obrigações do que democráticas.
1 Mestrando em nível Profissional em Educação e Multidisciplinariedade, promovido pela
FACNORTE/IBEA.
2 Mesmo que a sociedade brasileira seja considerada por muitos um modelo de democracia racial do mundo, os negros brasileiros se encontram em meio a uma realidade obscura e confusa, que não se apresenta realmente como é. Partindo do todo o pressuposto histórico brasileiro, o negro é marcado desde a escravatura até a atualidade. O negro está à margem da sociedade sendo aceito pela a luta constante. O que acontece com a consciência étnica brasileira, em especial com o negro, não é por acaso, coincidência ou pretensão política, econômica ou cultural. Na realidade, a dificuldade de desenvolver uma consciência identitária deve-se ao modo com que o negro foi inserido na sociedade brasileira e de como a história foi construída, manchada por ideologias puramente racistas, capitalistas e colonialistas, em que a minoria usa da sua força econômica para se impuser sobre os outros. A reflexão acerca de uma educação multicultural teve seu início por grupos que vivem a margem da sociedade. Por isso que não existe interesse por parte da sociedade em discutir a temática. No espaço escolar essa discussão passa a ser apresentada em atividades pedagógicas, onde são trabalhadas com datas meramente festivas e folclóricas do povo negro e das populações menos favorecidas e passadas essas datas, na maioria das vezes voltam a cair no esquecimento de todos. A escola tem como objetivo a socialização e a desmistificação de ideias enraizadas da sociedade em que podemos também analisar a situação da mesma. Em nosso cotidiano escolar as questões sociais estão mitificadas no processo pedagógico. Sendo assim, o educador possui o papel fundamental para o proposito aqui mencionado. Mas quando se trata de questões sociais e raciais é possível trabalhar essa problemática na escola? Quais os riscos e ou benefícios possíveis destas questões? Sendo educadores e por desempenhar diretamente com as crianças um trabalho voltado para a formação do cidadão, de indivíduos críticos para a sociedade, acreditamos ser a escola o espaço mais propício para discussões sobre racismo, afinal serão eles os disseminadores dessa semente plantada a cada dia nas salas de aula.
3 Vários autores abordam que a escola é uma instituição social, portanto, o racismo não está fora de seus muros, ele entra nela como entram todas as questões sociais (desigualdades, violência etc). O sociólogo Pierre Bourdieu2, diz que a escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferência de capitais de uma geração para outra. É nela que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. E este, segundo o sociólogo, está diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de casa, além de várias "heranças", como a postura corporal e dentre outras. Gomes (2011) diz que na escola como espaço da contradição, assim, como temos pessoas que reproduzem as relações discriminatórias, temos pessoas que desejam superá-las. Por isso um dos problemas mais graves a enfrentar será a oposição nem sempre explícita dos setores da escola, seja ele docente ou discente ou administrativo. Apesar de esse trabalho estar respaldo na lei 10.639/03 que torna obrigatório o ensino da História da África e da Cultura dos afro-brasileiros e dos PCN a questão em jogo é ideológica, há os querem manter a sociedade com negros e outros grupos sendo inferiorizados e os que querem mudar essa realidade, por isso, não se pode desanimar diante dos primeiros problemas que aparecerem.
“A obrigatoriedade da inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana nos currículos da Educação Básica trata-se de uma decisão
política, com fortes repercussões pedagógicas, inclusive na formação
de professores. Com esta medida, reconhece-se que, além de
garantir vagas para negros nos bancos escolares, é preciso valorizar
devidamente a História e cultura de seu povo, buscando reparar
danos, que se repetem há cinco séculos, à sua identidade e seus
direitos. A relevância do estudo de temas decorrentes da História e
cultura afro-brasileira e africana não se restringe à população negra
ao contrário, diz respeito a todos brasileiros, uma vez que devem
educar-se enquanto cidadãos atuantes no seio de uma sociedade
multicultural e pluriétnica, capazes de construir uma nação
democrática.” (Munanga, 2008, p.17 )
2 Fragmento extraído da revista eletrônica: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/pierre-bourdieu-
428147.shtml
4 Diante da realidade escolar brasileira e de sua dinâmica, a família também está relacionada ao processo. Para iniciar, a família e a escola são espaços sociais com grande potencial para produzirem as resistências ao racismo, à discriminação e preconceitos, mas em sua maioria, ainda, não estão cumprindo esse papel. O que logicamente é compreensível, pois são instituições sociais permeadas pela ideologia do racismo. A discriminação tem como estopim na escola a questão da aparência. Mas a criança estabelece a relações de aparência no primeiro momento em casa. Sendo assim este tipo comportamento antissocial pode também ser transmitido de uma geração para outra por meio da imitação, aprendizagem social e identificação, pois crianças que têm pais ou responsáveis que apontam frequentemente determinados caracteres de aparência positivamente ou negativamente isso será refletido na escola. E a escola por sua vez privilegia inconscientemente a imagem negativa do negro, sendo negligente nos cartazes e painéis, na escolha do livro didático. Na inércia nas escolhas dos filmes e músicas, nas brincadeiras das crianças, nas ações das crianças, no silêncio de algumas, até mesmo ao contar a história do país. Outro ponto interessante é que todo negro frequenta o culto afro-brasileiro? Gosta de samba ou capoeira? A própria instituição que é a escola o lócus para a quebra de paradigmas, ela construir uma ideia mal concebida e estereotipada sobre o negro no brasil.
Salienta Munanga (2008) são várias as formas de
concretização da discriminação no cotidiano escolar: Quando
falamos em discriminação étnico-racial nas escolas, certamente
estamos falando de práticas discriminatórias, preconceituosas,
que envolvem um universo composto de relações raciais
pessoais entre os estudantes, professores, direção da escola,
mas também o forte racismo repassado pelos livros didáticos.
Não nos esqueçamos, ainda, do racismo institucional, refletido
nas políticas educacionais que afetam negativamente o negro.
(MUNANGA, 2008, p. 46) Assim sendo, Afirma Munanga (2008) que na escola observa muitos casos de racismo, de preconceitos e discriminação, onde muitas vezes o profissional não consegue minimizar o problema por falta de experiência, de qualificação e, até mesmo, por incapacidade em lidar com a diversidade, pois
5 ele fica perdido, sem saber como reagir em momentos em que exigem a sua intervenção para que o problema não se torne uma agressão mais séria. Essa falta de preparo que, devemos considerar com reflexo do nosso mito de democracia racial compromete sem dúvida o objetivo fundamental de nossa missão, no processo de formação dos futuros cidadãos responsável de amanhã. Diante do exposto até aqui, podemos elucidar que o papel da escola não é somente legitimar a marginalidade que é reproduzida, mas impedir também o desenvolvimento da ideologia e o preconceito racial. A escola tem que trabalhar não com a ideia da igualdade das raças ou etnias e sim com a diferença. Esclarecer que a diferença de ideias, pensamentos, ações dentro de um contexto social é o normal. Partindo desse conceito é possível esperar um resultado concreto na construção de sociedade da criança. Também o professor enquanto agente transformador seja modificado por esses conceitos. Apenas o discurso não será o suficiente, pois as ações são contrárias. Vale salientar que a educação de qualidade entendida pelos grandes pensadores, é aquela que está marcada pela qualidade formal e política, ou seja, aquela que esteja realmente voltada para a construção do conhecimento, oferecendo para os marginalizados em particular, armas efetivas de lutas para a construção da sua cidadania. Por fim, o professor também precisa se constituir como um sujeito ativo no processo, estando atento às diferenças entre os alunos, combinando-as e buscando que cada sujeito contribua no processo de construção de conhecimentos de acordo com seus limites e potencialidades.
“A situação em sala de aula é intricada, pois ali se
encontram vários seres imersos em processos de alienação.
Cabe ao educador, como ser mais experiente e maduro, tomar
a iniciativa de buscar romper o círculo da alienação”
(VASCONCELLOS, 2004, p.54). Freire (2006) confirma em seus livros que o professor em primeiro lugar tem de assumir uma forma crítica diante da realidade social e acima de tudo entendê-la, para o melhor desempenho no seu ensino e dessa forma resultar no melhor aprendizado do aluno. Ao contrário, o professor afoga a liberdade do
6 educando, amesquinhando seu direito de estar curioso e irrequieto. Quando Freire (2006) parte da liberdade do aluno é onde inicia sua discussão a respeito da pedagogia da libertação. Tem de ser criado no educando a possibilidade e a perda de medo de descobrir e aprender aquilo que faz parte de sua realidade, isto está ligado ao meio social e ao meio natural. Contudo, sabemos que estudar as desigualdades raciais é um desafio. Nossa luta é pela edificação de uma sociedade mais justa, inclusiva, sem discriminação racial, com oportunidades para todos. REFERÊNCIAS: FREIRE, Ana Maria. Educação para a paz segundo Paulo Freire. Revista Educação. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: PUC/RS, ano XXIX, n.2, p.60-78, Maio/Agosto, 2006. GOMES, Nilma Lino. A questão racial na escola: desafios colocados pela implementação da Lei 10.639/03. In: MOREIRA, Antonio F. B.: CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo. 8ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. MUNANGA, Kabengele (org). Superando o racismo na escola. 2ª edição, SECAD, 2008. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. (In)Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. São Paulo: Libertad Editora, 2004. Disponível em: http://arquivo.geledes.org.br/areas-de-atuacao/nossaslutas/educacao/noticias-de-educacao/3050-o-desafio-pedagogico-de-formarprofessores-para-promover-a-igualdade-racial-na-escola - acesso em abril de 2014 Disponível em: http://meuartigo.brasilescola.com/educacao/o-papel-escola-nadesconstrucao-racismo-preconceito.htm - acesso em abril de 2014 Disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/pierrebourdieu-307908.shtml - acesso em abril de 2014 Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/pierre-bourdieu- 428147.shtml - acesso em abril de 2014 Disponível em: http://www.mulheresnegras.org/doc/texto_para_site_mulheres_negras.rtf - acesso em abril de 2014